Julianne remexeu-se na poltrona, com as pernas dobradas debaixo do corpo, voltando aos esboços depois da troca de mensagens com Amora. O cronograma de gravações estava diferente outra vez, e a adição surpresa de uma atriz misteriosa, que aparentemente faria cenas diretas com ela, trouxe-lhe uma irritação crescente. Ela soltou um resmungo, que foi seguido de risadinhas de Meryl e Christiane, cada uma ocupada com suas distrações no sofá.
— Aff... A Amora parece que não tem paz no coração. Vive mudando as coisas. É tão instável! — reclamou Julianne, sem tirar os olhos do papel.
Meryl, que estava entretida com um jogo no celular, interrompeu-se para defender a diretora com um sorriso leve:
— Mudanças podem trazer algo interessante, querida. Às vezes, uma ideia nova no meio do processo transforma tudo.
Christiane, deitada no tapete folheando um livro, acrescentou com um riso:
— Ah, mas você sabe como é. A Amora, como uma boa sagitariana, muda o tempo todo.
Julianne revirou os olhos, sentindo uma leve pontada de ciúmes e irritação ao ver as duas defendendo Amora, mesmo que na brincadeira. Incomodada, ela respondeu com uma ironia, tentando disfarçar o desconforto.
— Nossa, não sabia que a Amora Rivera tinha um fã clube aqui... Que interessante. As duas vão defender a pobre Amora na ONU também? — resmungou, fazendo bico.
Isso arrancou gargalhadas de Christiane e Meryl, que se entreolharam, divertidas com o jeito de Julianne. Elas sabiam bem o quanto ela era dedicada e sensível, mesmo que tentasse manter uma fachada impassível.
— Ah, Julianne, você fica tão fofa com essa carinha de brava — brincou Meryl, se levantando do sofá e se aproximando.
Antes que Julianne pudesse se defender, Meryl e Christiane se lançaram sobre ela, fazendo-a se encolher, rindo entre cócegas e beijos brincalhões. Julianne se debatia, tentando se esquivar, mas as risadas tomavam conta da sala, tornando impossível qualquer resistência séria.
— Tá bom, tá bom! Chega! — ela pediu, entre risos, tentando afastar as duas.
No meio da agitação, o sketchbook de Julianne caiu de suas mãos e foi parar no chão. Christiane pegou o caderno, curiosa, e folheou algumas páginas antes que Julianne conseguisse reagir.
— Espera, devolve! — Julianne pediu, com um toque de embaraço. — Não era pra verem isso...
— Ai, calma, Jules, o que tem de mais? Não é como se fosse um diário secreto, com confissões de suas paixões juvenis — Meryl respondeu, com um sorriso provocador.
Assim que folhearam as páginas, Christiane e Meryl pararam de rir, encantadas com a beleza e o cuidado nos traços de Julianne. Eram cenas detalhadas, que capturavam momentos intensos, delicados, de personagens que pareciam viver emoções reais. Havia algo naqueles desenhos que transcendia o mero trabalho técnico: rostos expressivos, olhares que transmitiam um sentimento profundo, um entrelaçar de mãos, uma ternura evidente em abraços e sorrisos.
Meryl olhou para Julianne, ainda surpresa, mas agora com um olhar de admiração genuína.
— Jules... você realmente colocou sua alma nesses esboços, não é? — disse ela, em um tom suave.
Julianne desviou o olhar, as bochechas corando levemente. Ter aquelas duas mulheres com quem compartilhou momentos tão íntimos vendo o que ela expressava tão profundamente em seus desenhos a deixava vulnerável de uma forma que não estava acostumada a demonstrar. Christiane aproximou-se, apoiando o sketchbook no colo e deslizando os dedos pelo braço de Julianne, de forma carinhosa.
— Eu diria que alguém aqui tem um lado romântico escondido... ou será que é só a arte falando? — provocou Christiane, arqueando uma sobrancelha com um sorriso cúmplice.
Julianne suspirou, sem jeito, e olhou para baixo, mas, aos poucos, deixou um sorriso escapar.
— Talvez eu tenha colocado um pouco mais do que a personagem nesses desenhos — admitiu ela. — Às vezes, sinto que preciso expressar mais do que as palavras conseguem, sabem?
Meryl e Christiane trocaram um olhar, compreendendo a profundidade do que Julianne queria dizer. Meryl se colocou atras dela a abraçando pela cintura, sorrindo de forma acolhedora.
— E é exatamente isso que torna o seu trabalho tão especial, Jules. Não precisa ter medo de mostrar essa parte sua, de colocar o coração naquilo que faz.
Julianne soltou um sorriso tímido, absorvendo o apoio de Meryl e Christiane. As cenas no caderno eram mais do que apenas desenhos; eram uma extensão dela, um reflexo dos sentimentos que mantinha escondidos, mas que encontravam vida e expressão no papel.
De repente, Meryl apontou um dos desenhos em que uma figura feminina segurava outra nos braços, com um sorriso de serenidade e entrega. O traço suave e a delicadeza na expressão revelavam um carinho que transbordava.
— Essa aqui... não lembra alguém? — provocou Meryl, com um brilho malicioso nos olhos, insinuando que poderia haver mais do que apenas técnica naquelas ilustrações.
Julianne corou, tentando fingir que não entendia, mas um sorriso entregava que as palavras da mais velha não estavam muito longe da verdade. Olhando para suas amigas, ela percebeu que, apesar de toda a brincadeira, havia compreensão genuína ali. Elas viam sua arte como ela queria que fosse vista, e não como um segredo a ser guardado.
Christiane apoiou a mão sobre a dela e sorriu com carinho:
— Quem sabe... essas mudanças no cronograma tragam inspiração para mais alguns desses desenhos, Jules. Afinal, mudanças são o que fazem a vida andar pra frente.
Julianne assentiu, aquecida pelo apoio de Meryl e Christiane, e segurou a mão delas, agradecida pela cumplicidade silenciosa.
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O Legado do Desejo
FanfictionTrês mulheres consagradas no cinema se encontram durante as gravações de um filme europeu, em um luxuoso castelo afastado. Meryl Streep, sempre racional e controlada, se vê envolvida em uma teia inesperada de desejo e sedução, ao perceber que há mui...