Junte todas as peças

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— Você sabe o que tem que fazer? - eu perguntei antes de descer do carro.

—  Sei. - ele me respondeu, logo depois de descer também. —  Eu sinto muito, chefe, sinto mesmo.

— Eu não sinto, Jaehyang.

Entrei pela porta da frente, sem pressa, subi as escadas sem tirar os sapatos, lavei minhas mãos no banheiro rebuscado com detalhes em ouro, destinado para visitas, me tornei apresentável, arrumei meu cabelo, limpei parte do vestido sujo de terra da noite caótica, fui até o quarto escuro e a beijei na testa, tirando um momento para me reconhecer em seus traços.

Eu tinha adiado demais.

Depois caminhei pelo corredor no sentido do escritório, antes analisei a única imagem minha na casa, o quadro da minha adolescência, meu cabelo grande, nunca cortado no símbolo de conservadorismo, as roupas coreanas tradicionais em cores claras, tudo que eu tinha repudiado até hoje, me lembrando simetricamente a garota no estacionamento. Segui em frente, a senha da sala eu tinha aprendido há muitos anos atrás quando sozinha na mansão e entediada, me esgueirava pelas portas para observá-lo entrar e sair, também não era muito difícil, um narcisista sempre carrega o defeito de achar que o mundo gira ao redor de si mesmo.

As coisas no escritório tinham mudado e não tinham, na verdade tinham se modernizado, o computador era novo, as câmeras de segurança acompanhavam meus passos lá dentro, a estante de livros tinha sido reformada, ele também tinha um quadro agora, uma pintura realista sua e somente sua, que me deu ânsia imediata, a mesa outrora de uma madeira conglomerada tinha sido substituída por um material maciço e puro, e em seu entalhamento o maior símbolo de orgulho da família, o nome: HYBE.

Eu não tive mais pressa, tinha controlado minha ansiedade horas atrás quando decifrei o enigma, nem precisei de muito esforço para repetir a senha em seu computador pessoal, com calma abri e copiei todos os arquivos específicos dos idols, transferi o detalhamento de controle financeiro da empresa, as gravações de suas reuniões particulares, a contabilização de seus lucros, seus gastos, consegui terminar tudo com calma e fiz questão de enviar direto para minha nuvem privada, sem riscos, sem nenhum erro da minha parte.

Por último, e não menos importante, eu procurei por sua arma pessoal, a achei perto do cofre, carregada, rasguei parte do tecido do meu vestido que ainda tinha sobrado, deixando minha perna toda à mostra, como uma fenda, e removi toda a munição, separei uma a uma, e as joguei pela janela, sem riscos, sem nenhum erro da minha parte.

— Jaehyang onde está minha troca? - ele falou, digitando a senha do escritório, por volta da uma da manhã. — Eu chego em casa e não tem ninguém? Manda os seguranças reservas agora, que falha é essa?

Quando ele abriu a porta, não acendeu a luz, era soberbo demais para acreditar que sua segurança seria violada tão facilmente, que existia alguém no mundo mais esperto que ele, e muito menos que seria sua própria filha.

— Annyeong, appa. 

Eu costumava perder a razão perto dele, tudo ao seu redor e nele mesmo me incomodavam de sobremaneira que eu ficava fora de mim, mas esta noite foi o contrário. Meu pai acendeu a luz ao ouvir minha voz inacreditado com o que via: sua filha - ou ex-filha fantasma, sentada confortavelmente em sua cadeira de poder, de frente para o seu computador, de pernas quase nuas ao seu julgamento, cruzadas, despretensiosamente.

Legacy • Jung Kook ▪︎ Apocalipse (02)Onde histórias criam vida. Descubra agora