Legacy • Jung Kook ▪︎ Apocalipse (02)

Mais um à história

-▹ ᥌

╌╌ ◦ ─

.

.

.

No presente:

Eu ainda não conseguia dormir bem algumas noites, pouco a pouco estar sozinha parecia ser mais normal do que ter companhia. Incrível como um ano tendo alguém todos os dias, ainda que não presencialmente, podia mudar nossa percepção de solidão e ao mesmo tempo de solitude.

Tinha me desfeito de boa parte das minhas roupas, tinha um único conjunto de hashis e uma colher apenas, que ele não tinha tocado, uma única roupa de cama que não tínhamos usado, deixei de usar meu perfume característico, acabei entregando tudo para Alyss descartar em sua mudança. Mas era impossível me desfazer exatamente de tudo que ele gostava, para isso, eu precisaria apagar inclusive minhas tatuagens, especialmente uma que eu olhava todos os dias quando me despia.

Meu celular pipocava de mensagens preocupadas numa sexta-feira à noite: Alyss, Namjoon, Angel, Hoseok, Seokjin, Lee, um monte de pessoas que eu não queria encontrar e evitava à todo custo. "Como você está?" "O que você tem feito?" "Precisa de alguma coisa?"

— Tá bom, vamos lá. - me forcei a levantar da cama, eram apenas oito da noite.

Tomei banho, lavei o cabelo, coloquei uma das minhas roupas favoritas, meus sapatos prediletos, peguei meu capacete antigo - Yoongi tinha me dado ele há anos, porquê o novo tinha o cheiro do maknae - e a chave da moto. Saí de casa pilotando exatamente como eu estava: sem rumo, mas no sentido contrário do apartamento do idol.

Conscientemente ou talvez até inconscientemente a direção me levou à um ponto clandestino da cidade onde aconteciam corridas proibidas de motos. Era um lugar que nem Jung Kook saberia, na parte leste da cidade. Fazia parte de uma Yun-Hee depressiva e solitária que buscava ser consolada pela própria cidade anos atrás.

A categoria masculina estava em curso, e a multidão seguia os motociclistas pelas ruas periféricas, até completar todo o percurso - parte no asfalto e parte em terrenos sem pavimentação, entre prédios, curvas estreitas e ruas desertas. Dei a volta no circuito pelo lado de fora até chegar ao pit stop, um grupo de homens se aglomerava perto da linha de chegada recolhendo apostas e contando o valor do dinheiro arrecadado das corridas.

— Quanto é para se inscrever? - perguntei ao rapaz coreano que não devia ter mais de vinte anos sentado em frente à um computador com um óculos de realidade virtual na cabeça.

— 200 mil wones. - ele disse sem levantar o rosto da sua contagem digital. — A categoria feminina começa daqui vinte minutos.

— Eu quero me inscrever.

O rapaz levantou os olhos e focou nos meus sapatos, depois viu minhas tatuagens descobertas, meu capacete na mão direita, por último inclinou a cabeça e viu minha moto por trás de mim.

— Olha... são motocicletas off-roads... - falou receoso.

— 400 mil wones. - eu insisti e balancei o celular aproximando de seu computador, a transferência sendo feita sem ele ter ao menos tempo de questionar.