Saudades

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Desde o incidente com a corrida e a possibilidade de eu estar ficando louca, eu não me aventurei mais, meu braço estava enfaixado e minha testa também - todos os curativos que eu mesma realizei de qualquer jeito. Tinha resolvido encarar a insônia em casa ao invés de correr o risco de perder minha própria cabeça em mais uma noite na busca de um escape para o meu vazio, ao invés disso, troquei meu tempo sem dormir por consertos e reparos na minha pobre moto em frangalhos. 

Ainda me recusava a ver qualquer um dos meus amigos, Yoongi estava em turnê o que deixava bem mais fácil já que Angel o acompanhava sempre, inclusive com Alyss que era responsável por seus figurinos da Valentino durante os shows e as promoções do álbum, Taehyung estava completamente focado em seu próprio trabalho solo e Namjoon vivia quase uma lua de mel com a mudança de Ha-eun. Era provável que Jimin fosse o suporte de Jung Kook, já que Hoseok e Seokjin estavam no exército.

E em uma dessas noites sem dormir, enquanto eu pintava o para-choque da motocicleta na sala da cozinha, centímetro por centímetro, com dois vidros dos meus esmaltes pretos favoritos da DIOR e comia uma porção de lámen apimentado fumegante direto do potinho de mercado, alguém tocou minha campainha.

Em outros tempos, quando eu focava em proteger os sete, eu jamais atenderia a campainha do meu próprio apartamento assim, segurando uma tigela, com metade do lámen na boca, vestida em um blusão de D-day e shorts de boxe, muito menos sem conferir a hora, falar com a portaria, ou checar as câmeras de segurança. Mas minha cabeça não era mais a mesma desde o término, e o galo na testa devia ter piorado as coisas, porquê foi exatamente assim que eu abri a porta sem pensar.

 — Desculpe, eu... ah.. oi

Lá, parado como uma estátua, cabelos compridos, óculos de grau, como uma assombração: meu atual ex: Jung Kook estava imóvel na minha porta como uma imagem projetada. Na posição mais inusitada possível: estava de cócoras, tinha sua mochila nas costas e seu capacete de viagem pendurado nela. Todas as tatuagens, seu piercing na boca, tudo estava ali.

É vulto, só pode ser.

— Desculpa... é que meu cachorro sentiu saudades.


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Eu achei mesmo que estava completamente maluca vendo eles dois ali, engoli o lámen de uma vez como se fosse uma pedra e pude jurar que senti o macarrão fazer todo o percurso da minha garganta até meu estômago em câmera lenta, só tive total certeza que não enlouqueci quando Bam se soltou de seu dono e se enroscou na minha perna, o choro baixo e contínuo de saudades.

Eu e Jung Kook nos olhamos por intermináveis minutos, os dois imóveis, eu em pé e ele de cócoras focando primeiro em meu braço e depois em meu rosto enfaixado, Bam por sua vez, apenas se deitou no meu pé direito e ficou lá mesmo sem exprimir nenhum outro som, aguardando por nós dois.

— Eu não queria..

— O quê...

Eu sabia que ia ser uma merda, eu sabia que iria ser doloroso, que o tanto que nos amamos não ia sumir em semanas, nem meses, eu imaginava que ficaria um clima estranho, até constrangedor, mas não assim, a ponto dele ficar vermelho nas bochechas e eu querer cobrir meu corpo como se ele fosse um completo estranho, além do mais os dois tentaram falar ao mesmo tempo deixando tudo pior.

— Ele não queria comer e nem fazer nada... demorou para eu perceber que era saudades de você. - uma facada à essa altura doeria bem menos do que as palavras dele.

O maknae se levantou vagarosamente, e se colocou de pé em minha frente, jogou os cabelos para trás e aí eu percebi que não era tão simples assim, que cortar o cabelo não mudaria tudo do dia para a noite, minha mente esqueceu o tempo, esqueceu as duras palavras e a maneira bruta que tínhamos nos separado, esqueceu que ele não tinha voltado à trás e nem me procurado, e eu quis beijá-lo perdidamente.

Quis largar tudo no chão, fazer o lámen voar e me atirar em seus braços, mas ele estava bem mais magro, o peitoral que costumava se desenhar por baixo até mesmo das suas camisas oversized tinha diminuído, sua pele macia e bem cuidada tinha marcas das olheiras arroxeadas de quem assim como Bam, não comia e não dormia.

— Você tá bem? - ele perguntou.

Não.

Mas ele se referia às minhas bandagens e ferimentos no corpo, não a dor que eu ainda sentia por dentro, foi preciso um minuto inteiro dele olhando para mim preocupado para eu voltar à órbita da Terra, a essa altura minha cabeça doía, Bam lambia meu tornozelo e a tigela de lámen queimava minha mão.

— Eu vou ficar bem. - minhas palavras não falavam dos meus ferimentos superficiais, mas parece que ouvir minha voz também o afetou porquê seus olhos tiveram um leve vislumbre de brilho e ele mordeu o piercing no lábio sutilmente.

Jung Kook deu um único passo em minha direção, soltou a coleira-guia de Bam no chão aos meus pés e sua mão direita, com suas tatuagens em seus dedos, tocou a ponta cortada dos meus cabelos, sem encostar em meus rosto, sem sentir minha pele, sem me causar nada, os dedos apenas delinearam o comprimento curto dos meus fios.

— Eu venho buscar ele amanhã, acho que você ainda tem a ração e as outras coisas.

— Tenho sim.

Tenho não, joguei tudo no lixo por sua causa, mas eu daria um jeito.

— Tudo bem garoto, se comporte com a mam...

Eu quase soltei a tigela na cabeça do cão, mas apoiei com as duas mãos evitando outro acidente e Jung Kook encerrou a frase sem completá-la, se engasgando sozinho com suas palavras, logo depois que ele se levantou, eu fechei a porta sem mais nenhuma frase de nenhum dos dois, nenhum adeus, nenhum abraço, pelo menos não do idol.

Em poucos segundos Bam rolava comigo no chão tentando me lamber da cabeça aos pés, comeu a tigela toda de lámen que deixei e correu pelo meu apartamento bem satisfeito por estar comigo. O quanto pude eu o abracei, e o quanto pude pedi perdão também porquê de todos nós ele era o único que não tinha culpa de entrar na minha vida e ter se separado de mim. 

Contrariando todo o adestramento de Jung Kook, ele dormiu na cama comigo até o outro dia e comeu toda a comida que eu tinha na geladeira, mas não dava para ter aquele encontro estranho e vergonhoso outra vez, então deixei Sewu com a missão de devolvê-lo. Eu precisava buscar outro alento para minha mente ou a visão de Jung Kook na porta do meu apartamento  ia me fazer voltar à estaca zero, então procurei as duas únicas pessoas que não me julgariam a essa altura se eu tivesse qualquer ideia estúpida, como entrar para a Taste.

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Legacy • Jung Kook ▪︎ Apocalipse (02)Onde histórias criam vida. Descubra agora