Dessa vez, verdades ditas

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Algumas de nós não pensávamos em ter filhos, não sonhávamos com um casamento, nem nos imaginávamos com uma família, até o cara certo te fazer considerar tudo isso de uma maneira tão comum que você se pega pensando em tudo isso quase que naturalmente: e se eu tiver uma mini versão minha com ele? E se não for tão ruim quanto eu imagino? E se na verdade for incrível e ele fizer ser mais incrível ainda?

A consulta tinha sido tão emocionalmente pesada para nós dois, que Lee falou todo o caminho de volta para o apartamento do Bangtan e eu e ele mal conseguíamos nos encarar, mesmo um ao lado do outro. Eu queria já ter a solução para o que quer que ele carregava ali dentro escondido e pesado, mas eu ainda não tinha ideia, apenas indícios.

Era difícil tanto para mim quanto para ele o que fazíamos, Lee subiu sozinha primeiro, aparentemente não era tanto esforço pular do carro e ir ao elevador com aquele barrigão, parecia leve como uma pluma quando ela queria. Eu e Jung Kook ficamos para trás olhando a porta se fechar e ela dar um tchauzinho condescendente, com certeza algo que seu marido também faria se ele estivesse ali.

— Certo... só alguns minutos e eu posso ir embora... e aí você... - ele disse sem ter coragem de apertar o símbolo correspondente parar forçar o elevador a voltar.

— Eu dou um jeito de voltar sozinha, não se preocupe.

Por quê nenhum deles considerava que tanto eu quanto o mais novo estávamos quase em carne viva por estarmos assim em plena luz do dia? 

Não doía estar parada ao seu lado, esperando um pouco de coragem minha ou sua para apertar o botão, doía saber que em segundos não entraríamos de mãos dadas, na grande sala, ele não sentaria perto de mim, todos os demais estariam com seus parceiros, rindo, cheios de carinho, mas nós seríamos dois estranhos que de dia mal se encaravam e à noite só se confundiam. 

Mesmo dividida entre a dor do que fazíamos, antes de subirmos eu consegui notar que todos os outros seguranças estavam apostos, menos os de Jung Kook. O apartamento inteiro parecia estar em uma comemoração, e a algazarra podia ser ouvida do elevador mesmo antes de entrarmos, mas foi só a porta se abrir que tudo silenciou, os pares de olhos indecisos encararam o casal separado, parado em posições contrárias, que caminhou para lados opostos sem nem falar um com o outro.

Eu carregava o peso dos problemas de todos eles tranquilamente quando precisava, mas parecia pesado demais não ter Jung Kook.

— Yune. - Alyss me abraçou, depois que passei da entrada, mesmo sobre meus protestos mas foi obediente em ser curta e rápida como eu preferia.

— Yun-Hee. - por trás dela e segurando um sorriso poderoso Ha-Eun também me cumprimentou de maneira mais tradicional e eu agradeci.

— Olha só, todas nós reunidas de novo... Graças a Deus! - por último a estrangeira, com o sorriso largo, o abraço apertado e longo, um tufo de pelos brancos na mão direita, confirmando o que eu mais temia.

A sala estava dividida. Não fosse Lee e Jimin conversando e conectando alguma coisa, Yoongi, Namjoon e Taehyung estavam ao lado de Jung Kook, e elas ao meu lado.

— Você pode ser rápida? - perguntei para Angel visivelmente incomodada com aquela situação e ela me empurrou a pequena Shooky, um pouco maior com cinco meses, que tinha sido resgatada por Yoongi como um presente de aniversário.

— Ah... sim.. - voltou dando pulinhos para o centro. — Vamos gente, tá todo mundo aqui, e os militares?

— Jin? - em um tablet na mão de Lee a cabeça de Jin surgiu flutuante enquanto nós nos arrumávamos no sofá da sala.

 — Annyeonghaseyo, pessoas, quem é esta bela mulher rechonchuda em minha frente? - o alto falante conectado no sistema de karokê fez todos nós ouvirmos a conversa.  — Ah, sim, minha mulher! - disse orgulhoso.

 — Hyung? - enquanto isso, Jimin expandia a cabeça de Hoseok, projetada na grande parede branca por trás, e ele terminava de por seu boné de recruta aprovado.

Era a primeira vez que o víamos depois de seu alistamento, e o suspiro de saudade e tristeza se misturaram por toda a sala quase como um coro.

 — Hey... - Namjoon se aproximou de mim enquanto as cabeças flutuantes se comunicavam uma com a outra, cada uma em sua tela.  — Toma. - ele me deu uma xícara cheia até a borda.

 — Café? - eu questionei, sentada na extrema ponta do sofá, ao lado de Ha-Eun, sem espaço para mais ninguém, nem ele. 

 — Também... toma.. - insistiu com aquele sorriso cheio de covinhas que só ele tinha.  — Eu sei como é difícil tá perto de quem a gente gosta sem poder fazer nada.

É, ele sabia. E fiquei grata por não ouvir nenhum discurso essa noite, por seu alento vir de uma grande xícara de café misturado com whisky às dez da manhã, e mais que isso, por ele não me pedir para trocar de lugar e mesmo grande e largo, se apertar e sentar no braço do sofá me dando a sensação de que eu estava sozinha, mas não estava ao mesmo tempo, os dois me protegeriam, pelos lados, como meus pais, na ausência de SeokJin.

 — YUN-HEE! - o grito esganiçado de Hoseok quase me fez derrubar o café batizado do líder e todo mundo olhou para mim ao mesmo tempo  — Seu cabelo.

Bom, agora todo mundo sabia.

 — Ahh, vamos aos assuntos de hoje, Hoseok... ei espera. - a cabeça flutuante de Jin segurada por Lee cortou os olhares em mim e eu bebi meu café à goladas, só rezando para aquilo acabar logo sem me gerar uma crise de ansiedade.  — Eu sou mais velho, minha cabeça devia estar flutuando ali!

 — Ali, onde? - Hoseok perguntou incrédulo.

 — No seu lugar, me troca de lugar com ele, Jimin, é uma ordem, põe o meu cabeção na parede, o dele nessa telinha...

 — Diz que você não sente falta? - Namjoon me cutucou, enquanto eu terminava o café e Jimin trocava as cabeças. 

Do caos? Da confusão? Daquela balbúrdia? Deles todos juntos? Dos sete? Sim! Eu e mais alguém um pouco mais sorridente outro lado do sofá também.

 — HAJIMA! - Yoongi finalmente interveio naquela confusão de crânios alternando entre telas e pegou o tablet da mão de Jimin.  — Eu sou o mais velho na sua ausência, e vai ficar assim. 

Quem podia culpar ele por ter anunciado o namoro da pior maneira possível mais de um ano atrás? Tinha horas que convivendo com eles, a gente simplesmente entendia que ou era nesse nível de comando, ou nenhum obedeceria.

 — Pode começar, Anjo... - a voz sutilmente mudando quando falava com a namorada e ele não percebia que era óbvio o que todos nós víamos, eu soltei a cadelinha impaciente e ela correu direto para o pai.

 — Bom... Yoongi e eu temos um anúncio... - a felicidade estampada, quase transbordava e quando ela levou a mão ao rosto, o anel em forma de coração reluziu com o brilhante.  — Nós vamos nos casar. 

Fiquei devidamente mais grata porquê dessa vez houve exatamente o esperado, a comemoração generalizada, todos eles ao redor dela, o abraço coletivo na estrangeira e o produtor gritando ''hajima'' enquanto também era apertado, as cabeças flutuantes sorrindo e se sacudindo mesmo à distância, e eu e o maknae ainda sentados em pontas extremas do sofá quando nossos olhares se encontraram.

Jung Kook deu um sorriso tímido na minha direção e eu curvei a cabeça em sinal de confirmação que essa tarefa nós cumprimos com maestria, dessa vez tudo tinha saído como os dois mereciam, com nossos amigos nós não falharíamos mesmo que isso custasse nosso coração.

ꕀ ꕀ ꕀ ꕀ ꕀ ꕀ ꕀ

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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Legacy • Jung Kook ▪︎ Apocalipse (02)Onde histórias criam vida. Descubra agora