Legacy • Jung Kook ▪︎ Apocalipse (02)

Uma última corrida

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— Você... removeu as personalizações.  

A Mercedes tinha mudado quase que completamente por dentro e isso me assustou quando notei, sem painel arroxeado, sem as luzes destacadas que eram tão características, os bancos tinham voltado ao seu estado original.

— Sim, eu vou vender... e essa é sua última corrida. - ele disse em um tom sério, apertando o volante com os dedos como se externalizasse sua dor.

O choque de realidade me abateu como um acidente de carro inesperado, de que ainda que voltássemos um dia, nem eu e nem ele seríamos mais os mesmos depois de tudo que tínhamos passado. Com cuidado, eu delineei as curvas do painel interno do carro que me transportou muitas vezes, era como uma despedida para nós dois.

Jung Kook se assegurou de que sua máscara estava bem fixa no rosto e se posicionou corretamente no banco do motorista, todos os outros corredores alinhados lado a lado enquanto a multidão gritava excitada para que a largada fosse dada, a garota em frente aos carros com duas bandeiras vermelhas, esperando o aviso sonoro para que todos pudessem partir.

— Como você sabia que eu estaria aqui? - ele perguntou, e mesmo à alguns segundos de início, não olhava a garota, olhava para mim.

— Isso não importa... - desconversei, aproveitando o som de partida para desviar seu foco.

Eu e ele tínhamos desenvolvido uma sincronia única na vida, não só nas corridas. Quando lutávamos em dupla nos torneios proibidos, quando dançávamos, quando praticávamos tiro escondidos, quando invadíamos casas de praia de futuros prefeitos que sequestravam a ex, quando cozinhávamos, quando treinávamos e principalmente quando corríamos na Mercedes.

A mão direita dele tocou minha coxa esquerda, e suas tatuagens apareceram por baixo do seu moletom oversized, esquentando minha pele exposta, minha mão esquerda segurou a marcha e para que isso funcionasse em nossa sincronia perfeita, com braços entrelaçados, a cada toque de seus dedos, eu comandava a marcha de seu carro, assim ele podia se concentrar somente na direção e nos outros motoristas, enquanto eu estabilizava sua velocidade. 

1-2-3! GO!

Adrenalina, dopamina, velocidade, rapidez e tesão eram nossa praia. Logo depois da largada, ele me deu o primeiro comando e eu mudei a marcha enquanto ele guiava a Mercedes pelas rampas de subida do estacionamento, girando o volante em cada curva, com apenas uma das mãos, na terceira curva ele já estava em primeiro, e as pessoas se amontoavam tentando ver a identidade do motorista habilidoso por trás do vidro escuro do carro.

Quando chegou ao topo do estacionamento, seus dedos grandes deslizaram pela minha perna e ele a pressionou, como um carinho, me dizendo para liberar a marcha completamente de volta ao ponto neutro para que ele pudesse girar o carro em trezentos e sessenta graus e recomeçar o circuito de descida, rumo à linha de chegada.

E foi o que eu fiz, o giro perfeito com apenas uma das suas mãos fez os pneus riscarem o asfalto deixando uma cortina branca de borracha queimada para trás enquanto ele voltava às rampas descendo com o carro sem nem ao menos ver qualquer um de seus concorrentes. Talentoso, milionário, cantor, dançarino, tatuado, e o piloto mais desejado da Coreia, sorria de prazer com a própria performance enquanto acariciava minha perna entre a troca de marcha sincronizada com suas aceleradas.