O primeiro

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— Tenente.

— Capitão.

— Não me lembro de termos marcado nada para essa semana, mas recebi a solicitação do exame. Sabe o que eu descobri? Que existem brasileiros em todos os lugares do mundo, literalmente. Me lembro de em todos os meus shows eu sempre ver uma bandeira do Brasil, alguém gritando 'te amo, te amo Jin'... - ele entrou tagarelando na sala, as mãos para cima, gesticulando sem parar. — Aí, comecei a pensar, quando o Bangtan fazia um show no fim do mundo...

— No 'canfudó dos judas'... - a médica falou algo em português docemente, mas ele nem reparou e continuou falando sem parar.

— Tinha sempre um brasileiro lá, na primeira fila, gritando e chamando minha atenção... e agora tem você e...

— É nós estamos em todos os lugares, realmente. - ela precisou interrompê-lo, porquê o tempo estava correndo, ainda que ele não parasse. — Você se sente bem? Como vai o treinamento dos recrutas? - mesmo assim ela observou o capitão de cima a baixo se assegurando que ele estava bem fisicamente.

— Você acha que eu tenho comido demais, Srta. Taehwa? - lá estava mais um coreano sem conseguir dizer seu nome corretamente. — Estou desacostumado a comer tanto assim, sinto que estou mais largo... e.. 

Ele estava tão concentrado em tagarelar que não percebeu outra mulher na sala, algo que era incomum esses dias, já que desde com o incidente da enfermeira sasaeng que tinha lhe aplicado uma vacina de maneira clandestina eu mesma tinha solicitado que a atenção e o cuidado em cima dele fosse triplicado.

Como eu estava fardada, com as cores da equipe de atendimento médico do exército, meu cabelo preso, escondido por baixo da boina, e todas as minhas tatuagens cobertas, inclusive a do pescoço, ele não me reconheceu no instante que me viu, parada na sala, segurando uma prancheta qualquer, fingindo ser atendente da médica e infringindo pelos menos seis crimes de estado contra o governo para vê-lo.

— Não se assuste... ela precisava muito falar com você. 

Eu congelei alguns segundos, esquecendo de tirar a máscara para ele me reconhecer. Paralisei porquê senti uma súbita vontade de chorar em seu colo, no único afeto paterno que eu conhecia, mesmo naquele jeito de irmão mais velho misturado com pai desajeitado, ele era meu exemplo, primeira figura de homem que eu tinha em minha mente que não era deturpada pela cobrança excessiva e agressões verbais.

Legacy • Jung Kook ▪︎ Apocalipse (02)Onde histórias criam vida. Descubra agora