BLAKE

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A madrugada era uma criatura silenciosa e impiedosa. O som da chuva, que antes batia suave, agora se tornava um tambor ensurdecedor, e o vento, cortante, trazia consigo uma sensação gélida que parecia cortar os ossos. Mas a verdadeira sensação de frio vinha de dentro de mim, das entranhas, da alma. O medo já não era o único companheiro; a raiva havia se enraizado, fazendo meu sangue ferver e minhas mãos tremerem.

O que restava do nosso grupo estava exaurido, mas ainda com o mesmo objetivo. A raiva nos movia, alimentava a adrenalina em nossas veias, nos mantendo alertas e focados. Mas não tínhamos mais certeza de nada. Os gritos ecoavam pela escuridão do acampamento como um lembrete sombrio de tudo o que perdemos.

O assassinato de Sarah ainda ardia como uma chama viva em minha mente. Ela tinha sido a nossa luz em meio a tanta escuridão, e agora... ela estava morta, estilhaçada pela lâmina do maldito assassino. Ele não parava, não cedia, e estava agora entre nós, mais perigoso e mais insano do que nunca.

Enquanto nos movíamos pela floresta, tentando encontrar qualquer sinal de um ponto seguro, fomos atacados de novo. Eu mal conseguia respirar. O terror já estava tão presente em nosso corpo que não era mais um medo saudável, mas uma presa caçada. Não havia mais escapatória. Nada fazia sentido.

A primeira vítima naquela noite foi Nathan. Ele correu para a cabana de enfermaria, acreditando que poderia ser nossa única chance de sobrevivência. Mas o assassino o pegou antes, seu corpo arremessado para longe, e a lâmina o atingiu com tanta precisão que ele mal teve tempo de reagir. Seu olhar vazio, sem vida, refletia a perda de algo precioso – uma vida interrompida. Nós, os sobreviventes, estávamos cada vez mais desesperados, cientes de que o assassino não pararia até que todos nós estivéssemos mortos.

A luta foi incessante. Tentamos nos proteger e nos esconder, mas o assassino parecia estar em todos os lugares. Ele nos caçava sem piedade, um predador insaciável. Luke, em sua tentativa de ser o herói, se enfrentou com ele, e a batalha foi brutal. O som dos impactos e o barulho das lâminas cortando o ar se misturavam ao som da chuva, tornando o ambiente ainda mais macabro. Luke foi ferido gravemente no peito, mas antes de cair, ele nos deu uma última esperança de que poderíamos sobreviver. Mas sua queda foi a última.

Mia e eu estávamos quase sem forças. Ela estava ferida, seu corpo tremendo de exaustão, mas ainda lutando. Tentávamos nos manter juntos, mas o medo era avassalador. Cada esquina, cada sombra parecia esconder o assassino, e ele estava sempre um passo à frente.

Quando tudo parecia perdido, ele apareceu. A sombra que nos caçava, com seus olhos vazios por trás da máscara, se movia rapidamente, como uma entidade do mal. Eu sabia que, se ele nos alcançasse, não haveria mais saída. Mia, em um ato desesperado, tentou se defender com um pedaço de madeira, mas sua tentativa foi inútil. Ele a agarrou com uma força sobrenatural, e a lâmina cortou sua carne com precisão. Mia caiu, sua respiração se apagando lentamente, e ela se foi.

Eu estava prestes a perder toda a esperança quando o assassino se aproximou de mim, a máscara ainda em seu rosto. Eu sabia que meu fim estava próximo. Mas algo aconteceu. O assassinato, a dor, a luta, tudo parecia estar chegando ao fim.

Então, ele fez algo inesperado. Parou. O ar ficou pesado, como se a realidade estivesse prestes a mudar. Com calma, o assassino removeu a máscara.

E foi aí que a surpresa aconteceu.

Abaixo da máscara, não havia o rosto de um desconhecido, mas de alguém que todos nós conhecíamos – um homem do cinema da cidade. Seu nome era Gabriel, um técnico de som que trabalhava nas produções locais. Ele nunca havia sido mencionado antes, mas agora estava ali, diante de nós, com um sorriso frio e satisfeito.

"Vocês nunca perceberam, não é?", disse ele, a voz grave e sem emoção. "Eu estava sempre por trás das câmeras. Observando. Preparando tudo para o grande show."

O choque foi imenso. Não conseguíamos acreditar no que estava acontecendo. Gabriel, um homem aparentemente inofensivo, escondia por trás de sua fachada a verdadeira face de um assassino.

"Tudo isso foi uma preparação", continuou ele, revelando sua verdadeira intenção. "Vocês, todos, eram apenas peças do meu jogo. Mas não temam, eu não sou cruel. Não sou... irreversível. Todos vocês têm uma chance de sobreviver. Mas será que querem? Ou melhor, têm coragem?"

Antes que ele pudesse se mover, o som do golpe ecoou pela cabana.

Eu e os poucos sobreviventes, já exaustos e com nossas forças quase no limite, o pegamos de surpresa. O impacto foi certeiro, e Gabriel caiu no chão, inconsciente.

Rápido, amarramos suas mãos e pés, garantindo que ele não escapasse. O ambiente estava pesado com a sensação de alívio, mas ainda havia a inquietação da revelação que acabáramos de presenciar. Gabriel estava ali, amarrado, ainda com aquele sorriso vazio, mas sem mais poder sobre nós.

Com mãos trêmulas, retiramos a máscara.

E ali, diante de nós, estava ele: Gabriel. O técnico de som do cinema da cidade. Um homem que até então nunca havia sido mencionado, mas que agora, de forma cruel e implacável, se revelava como o responsável por tudo o que havia acontecido. O homem que, por trás de sua profissão, havia orquestrado essa macabra sequência de mortes.

Silêncio MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora