SARAH

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A chuva ainda caía pesada, o som das gotas misturando-se aos nossos passos na lama enquanto corríamos pela mata. Meu coração estava disparado, e minha cabeça parecia uma tempestade de pensamentos confusos. Tentei focar no momento, ignorar o medo que fazia meus músculos tremerem, mas era impossível. Ele estava por perto. Podíamos sentir.

"Por que isso está acontecendo?", pensei. "Por que com a gente?"

Quando chegamos à cabana da enfermaria novamente, todos estavam exaustos. Mia abriu a porta com um empurrão, e eu fui uma das últimas a entrar. A enfermeira estava lá, exatamente onde a havíamos deixado. Ela segurava o rádio, a mão trêmula, tentando ajustá-lo enquanto a estática ecoava no ambiente.

— Conseguiu contato? — Blake perguntou, ainda arfando.

— Não... ainda não. Mas... há sinais... — a enfermeira murmurou, sem desviar os olhos do aparelho.

Luke olhou pela janela, como se pudesse enxergar o assassino através da cortina de chuva.

— Ele está perto. Eu sei que está.

O silêncio se tornou pesado, apenas quebrado pelo som do rádio falhando. Era um som quase enlouquecedor.

Eu fiquei próxima de Mia. Podia sentir a tensão no ar. Ela estava pálida, mas seus olhos estavam cheios de determinação. Por um instante, me permiti observá-la, mesmo no meio do caos. Era engraçado como, mesmo agora, ela conseguia trazer um tipo de conforto.

— Sarah? — a voz dela me chamou de volta à realidade. — Você está bem?

Assenti rapidamente, afastando os pensamentos que não tinham lugar ali.

— Sim. Só... tentando processar tudo isso.

Ela apertou minha mão por um momento antes de se afastar, indo ajudar Blake com algo na porta.

Foi então que aconteceu.

A enfermeira, ainda focada no rádio, se moveu para perto da janela, como se estivesse tentando captar um sinal mais forte.

— Por favor... alguém... alguém nos ouve? — ela disse, a voz repleta de desespero.

O silêncio que veio em seguida foi quase ensurdecedor. Até que o vidro atrás dela estilhaçou.

O assassino surgiu como um fantasma, uma sombra grotesca contra a tempestade lá fora. Ele se moveu rápido, muito mais rápido do que qualquer um de nós poderia reagir. Antes que alguém pudesse gritar ou correr, ele segurou a enfermeira por trás e enfiou a faca em suas costas.

O som... Deus, o som foi horrível. Era como um rasgo abafado, seguido pelo gorgolejo do sangue. O corpo dela ficou rígido antes de cair no chão, os olhos arregalados em choque enquanto a vida a deixava.

— Não! — Mia gritou, mas ninguém conseguiu se mover.

Ele não parou. Pegou a faca ensanguentada e a cravou no rádio, destruindo qualquer chance de contato com o mundo exterior. A estática cessou, e o silêncio foi preenchido apenas pelos nossos ofegos e pela chuva.

Tudo aconteceu rápido demais. Ele saltou pela janela, movendo-se como uma fera, os olhos brilhando de ódio sob o capuz. Blake foi o primeiro a reagir, avançando com uma cadeira, mas o assassino o derrubou com facilidade.

Luke tentou puxar Anny para um canto seguro, enquanto Ethan pegava qualquer coisa que pudesse usar como arma. Eu fiquei congelada por um momento, mas então vi Mia. Ela estava parada no meio da sala, os olhos fixos no corpo da enfermeira.

— Mia! Sai daí! — gritei, correndo até ela.

Agarrei seu braço e a puxei para trás, bem a tempo de evitar o golpe do assassino. A faca passou tão perto que senti o vento cortando minha pele.

A luta foi caótica. Gritos, objetos sendo arremessados, o som de corpos colidindo. Eu mal conseguia acompanhar o que estava acontecendo. Só sabia que precisava proteger Mia.

Mas então aconteceu.

Um movimento errado. Uma distração. Não sei ao certo. Só senti uma dor aguda no abdômen, seguida por um calor estranho. Olhei para baixo e vi a faca. Ele a cravou em mim.

Eu caí no chão, as forças me abandonando. O som ao meu redor começou a se tornar distante, como se eu estivesse submersa em água.

Minha vida passou diante dos meus olhos, mas não eram exatamente memórias. Eram sentimentos. Momentos que nunca tive coragem de aceitar. Como todas as vezes que meu coração acelerou quando Mia sorriu. Ou o jeito que eu me sentia segura quando ela estava por perto.

Sempre foi ela.

"Eu deveria ter dito", pensei, enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. "Eu deveria ter contado."

Mas agora era tarde demais.

Vi o rosto de Mia acima de mim, borrado pelas lágrimas e pela dor.

— Sarah! Não! Por favor, não! — ela gritava, segurando meu rosto.

Quis dizer algo, mas as palavras não vinham. Quis pedir desculpas, dizer que a amava, mas tudo o que consegui foi sorrir, mesmo que de leve.

E então tudo ficou escuro.

Silêncio MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora