A sala de interrogatório era fria e impessoal, com paredes cinzentas que pareciam engolir qualquer traço de humanidade. No centro, uma mesa metálica separava Nathan do detetive que o encarava com olhar duro. Apesar das circunstâncias, Nathan parecia estranhamente calmo, quase confortável. Ele vestia o uniforme laranja de detento, mas ainda carregava o mesmo ar de superioridade que sempre o caracterizou. Sua expressão era vazia, como um espelho sem reflexo, enquanto tamborilava os dedos na mesa com irritante regularidade.
Quando o detetive ligou o gravador e pediu para ele começar, Nathan sorriu. Um sorriso gelado, que não alcançava os olhos.
"Vocês querem entender, certo? Querem saber por quê? Como eu fiz isso? Bem..." Ele inclinou-se para frente, os olhos fixos no detetive. "Eu adoraria contar."
Nathan sempre se considerou diferente, mesmo quando criança. Não havia culpa, remorso ou empatia em seu mundo. Ele via o sofrimento alheio com curiosidade clínica, como quem observa um experimento em andamento. A dor das pessoas não era algo a ser evitado, mas algo a ser analisado, entendido, explorado.
"No fundo, eu sempre soube que não era como os outros", começou ele, com uma voz surpreendentemente tranquila. "Quando minha mãe chorava porque meu pai a deixara, eu não sentia tristeza. Eu só pensava: por que ela está desperdiçando tanta energia? Quando uma criança da escola caiu e quebrou o braço, todo mundo correu para ajudar, enquanto eu fiquei ali parado, fascinado pelo ângulo estranho do osso e o som que ele fez ao quebrar."
Ele riu baixinho, como se lembrasse de uma piada interna. "Foi ali que percebi que eu era... especial."
Mas especial não era suficiente. Nathan precisava de controle. Durante o ensino médio, descobriu que ser jornalista do colégio era a desculpa perfeita para estar em todos os lugares, ouvindo todas as conversas. "As pessoas adoram falar com jornalistas, sabe? Elas acham que estão sendo importantes, que a história delas é digna de destaque. Enquanto isso, eu só coletava informações, cada detalhe inútil que elas derramavam como um rio transbordando."
O trabalho no jornal não era apenas uma forma de se esconder em plena vista, mas também um treinamento. Ele manipulava histórias, moldava narrativas e plantava desconfianças no grupo certo de pessoas. "Manipular é uma arte", disse ele, os olhos brilhando pela primeira vez na conversa. "Eu dizia o que elas queriam ouvir, fazia perguntas que provocavam exatamente as reações que eu precisava. Você ficaria surpreso com o que as pessoas estão dispostas a revelar quando acham que têm a sua atenção."
Foi em um dos cantos mais obscuros da internet que Nathan conheceu Gabriel. Eles se cruzaram em um fórum da dark web, onde estranhos trocavam histórias e fantasias sobre violência e controle. Gabriel era diferente dos outros membros. Ele não estava ali apenas para falar; ele queria agir.
"Gabriel tinha a força, a brutalidade", disse Nathan. "Mas ele não tinha direção. Ele era como um cão raivoso sem coleira. Eu fui a coleira. Mostrei a ele como transformar toda aquela raiva em algo maior, algo significativo."
A conexão entre os dois foi instantânea. Gabriel, um técnico de som que trabalhava no cinema da cidade, era discreto e quase invisível. Ninguém suspeitaria dele. Nathan elaborou o plano meticulosamente, explorando cada fraqueza da cidade, cada ponto cego das autoridades locais. "A cidade era o palco perfeito. Pequena, cheia de segredos e de pessoas presas em suas próprias rotinas entediantes. Ninguém percebeu quando começamos a mexer os pauzinhos."
Eles criaram um sistema: Gabriel agia, e Nathan observava. Como jornalista, ele sabia onde os rumores começavam e para onde iam. Sabia quem desconfiava de quem, quem estava mais vulnerável. Ele era o maestro de uma sinfonia de terror, e Gabriel era sua principal ferramenta.
"Vocês querem saber se eu me arrependo?", perguntou Nathan, inclinando-se ainda mais para frente. "Não. Para ser honesto, achei tudo isso fascinante. A forma como as pessoas reagem ao medo... é uma obra de arte. A adrenalina, os gritos, as lágrimas... É tudo tão puro, tão cru. Vocês acham que isso é maldade, mas eu chamo de honestidade. No final, todos mostram quem realmente são."
Nathan explicou como manipulou cada detalhe para manter o grupo dividido e vulnerável. Ele espalhou rumores, criou tensões e garantiu que ninguém confiasse plenamente em ninguém. Até mesmo a escolha das vítimas foi calculada.
"Sarah foi a primeira porque ela era a cola que mantinha o grupo unido", disse ele com um sorriso frio. "Sem ela, vocês ficaram em frangalhos. E Luke? Ele era o herói. Precisávamos destruir a esperança de vocês."
Ele falou sobre cada movimento como um jogador de xadrez explicando sua estratégia. Mas o que o detetive percebeu, mais do que tudo, era a ausência total de emoção. Nathan não estava se gabando; ele estava simplesmente relatando os fatos, como se estivesse discutindo o tempo.
Quando o detetive perguntou por que ele havia se entregado tão facilmente no final, Nathan deu de ombros. "Porque eu já venci. Não importa o que aconteça comigo agora. O caos que eu criei vai continuar. Vocês acham que estão seguros, mas sabem que não estão. Sabem que existem pessoas como eu, por aí, esperando. Isso é tudo que eu precisava fazer: plantar a semente."
Ele recostou-se na cadeira, satisfeito. "Vocês me chamam de monstro, mas eu sou apenas um reflexo do que todos vocês realmente são. Vocês mentem, enganam, traem... Eu só amplifiquei isso."
O detetive desligou o gravador e encarou Nathan por um longo momento. Não havia arrependimento naquele garoto. Apenas vazio. Enquanto Nathan era levado de volta para sua cela, ele olhou por cima do ombro e disse, com um sorriso inquietante:
"Vocês acham que acabou, mas isso foi só o começo."
Com as portas da prisão se fechando atrás de Nathan, uma sensação de desconforto pairava no ar. Ele havia sido capturado, mas as palavras dele continuavam ecoando, como um sussurro no fundo da mente. A cidade estava a salvo – por enquanto. Mas em algum lugar, nas sombras, outra ameaça poderia estar se formando.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Silêncio Mortal
HorrorEm uma cidade pequena marcada por segredos e tragédias, uma série de assassinatos brutais transforma o cotidiano em um pesadelo. Enquanto o medo se espalha, um grupo de jovens tenta desvendar a identidade de um assassino mascarado que parece sempre...