O ar no carro parecia pesado, quase sufocante, enquanto eu tentava controlar minha respiração acelerada. Aquele sonho ainda estava tão vívido que eu quase podia sentir o cheiro metálico do sangue que escorria das mãos de Niya. Meu coração batia forte no peito, como se quisesse escapar. Olhei em volta, receoso de ter soltado algum grito ou murmúrio que pudesse ter chamado atenção.
A escuridão ao meu redor era quase total, exceto pela luz pálida da lua que entrava pelas janelas. Então, percebi o olhar dela sobre mim. Niya estava acordada, os braços cruzados e os olhos fixos em mim, como se estivesse esperando que eu dissesse alguma coisa.
— O mesmo pesadelo de novo? — perguntou ela, com a voz baixa, mas firme.
Engoli em seco, desviando o olhar. Não queria preocupá-la mais do que já estava.
— Não foi nada — menti, tentando parecer convincente, embora soubesse que ela não acreditaria.
— Newt... — Ela disse meu nome devagar, como se estivesse me chamando para encarar a verdade.
Suspirei, derrotado, mas ainda sem coragem de contar a verdade.
— Você está bem? Tem conseguido dormir? — Em vez disso, tentei mudar de assunto.
— Insônia. Só isso. — Ela hesitou por um momento antes de responder.
Eu franzi o cenho. Não era a primeira vez que ela dava essa desculpa. Havia algo nos olhos dela que não me convencia. Uma preocupação que ia além do cansaço. Mas eu sabia que, se insistisse, só faria com que ela se fechasse ainda mais.
Minha mente voltou ao sonho. Aquilo tinha sido diferente de tudo que já experimentei. Ver Niya se transformar em Crank, o sangue, a violência... Era como se cada detalhe estivesse gravado em minha cabeça. Desde que deixamos o acampamento de Bryan, tudo parecia piorar. As coisas mudaram de uma maneira que eu não conseguia explicar, como se estivéssemos presos em uma espiral descendente.
Desviei o olhar para a janela do carro. Lá fora, o comboio estava parado. O ônibus à frente estava imóvel, e eu conseguia distinguir as figuras dos outros, dormindo profundamente. Suspirei. Sentia saudades da Clareira. Apesar de tudo, lá as coisas pareciam mais simples. Não havia essa constante sensação de que estávamos correndo contra o tempo ou contra nós mesmos.
Bocejei, esfregando os olhos enquanto a exaustão tomava conta do meu corpo. Quando olhei para Niya novamente, percebi que ela havia adormecido. Seu rosto parecia tranquilo, mas seu corpo estava tenso, como se mesmo em seus sonhos ela estivesse lutando contra alguma coisa.
De repente, algo chamou minha atenção. Do lado de fora, no deserto que nos cercava, uma sombra parecia se mover, parada, observando. Meu corpo ficou tenso, e meu coração disparou novamente. Cruzei os braços, sem desviar o olhar, tentando discernir o que era aquilo. Não podia acordar os outros sem ter certeza.
Aos poucos, a sombra desapareceu na escuridão, como se nunca tivesse estado lá. Ainda assim, não pude deixar de clicar no botão que trancava as portas do carro. Por precaução.
Encostei a cabeça no banco, fechando os olhos, tentando encontrar algum resquício de paz. Mas tudo que pude fazer foi rezar para que, se outro pesadelo viesse, não fosse com ela. Não com Niya.
O sono não vinha fácil. Mesmo com os olhos fechados, as imagens do pesadelo continuavam a me assombrar. O rosto de Niya distorcido, os olhos cheios de vazio... Era impossível afastar a sensação de que aquilo não era só fruto da minha imaginação. Desde que ela começou a se afastar, uma parte de mim temia que os outros estivessem certos. Que ela realmente estivesse perto de se transformar.
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Prova de Fogo: Sombra e Luz - NEWT
FanfictionEm um mundo devastado por um vírus letal, os sobreviventes enfrentam não apenas a ameaça da contaminação, mas também as manipulações de uma organização poderosa conhecida como CRUEL. Após escaparem de um complexo controlado por essa organização, Tho...