A manhã chegou sem alívio. O sol já estava alto no céu, esmagando tudo com seu calor implacável. O deserto se estendia à nossa frente como uma grande massa de areia dourada e seca, sem fim, como se o horizonte fosse uma mentira. O silêncio era profundo, a única coisa que quebrava a calma era o som de nossos passos arrastados sobre a terra quente.
A água já estava acabando. Eu podia sentir a garganta seca, cada gole um alívio temporário que se esvaía rápido demais. A comida também era escassa, restando apenas algumas migalhas em nossas mochilas. Não íamos aguentar muito mais assim.
Senti o peso da dor de cabeça começar a se instalar. O calor do deserto, o cansaço do corpo e a tensão constante faziam tudo pior. Me forcei a engolir mais um gole de água, tentando ignorar a sensação de que minha mente estava se dissolvendo lentamente sob a pressão do sol.
Minhas mãos estavam suadas, e foi quando percebi que uma delas estava entrelaçada com a de Newt. Ele caminhava ao meu lado, quase como se soubesse o quanto o peso do deserto estava me esmagando. Seu toque era suave, mas firme, e me dava alguma sensação de estabilidade em meio a todo o caos. Seu corpo estava tenso, mas seus olhos estavam focados à frente, sempre atentos, como se procurasse algo qualquer coisa que nos tirasse daquele lugar.
Olhei para o lado, onde Jorge estava. Seu rosto estava cansado, as marcas de uma noite mal dormida e a falta de descanso visíveis nas linhas de seu rosto. Ele parecia tão exausto quanto eu, e podia perceber o esforço em cada movimento, cada passo que dava.
Os outros estavam mais atrás, mas todos compartilhavam da mesma exaustão. Cada um com seus próprios pensamentos, mas todos conectados pelo mesmo peso de estarmos presos nesse deserto.
Eu dei mais um gole de água, o gosto amargo da escassez se instalando na minha boca. Não era o suficiente. Nada mais parecia ser o suficiente.
— Quanto mais, Newt? — minha voz soou rouca, arrastada, quase um suspiro.
Ele olhou para mim, seus olhos refletindo a mesma preocupação que eu sentia. Ele não respondeu imediatamente, talvez porque ele não soubesse. Eu também não sabia. Apenas seguíamos, passo a passo, sem destino certo, sem promessas de alívio.
O calor aumentava, o ar mais denso à medida que avançávamos. Cada passo era um peso, cada movimento parecia levar uma eternidade. Eu não sabia quanto mais poderia aguentar. Mas não havia escolha. O deserto nos engolia de todos os lados. E, no fim, a única coisa que restava era seguir em frente.
O som foi suave no começo, quase imperceptível, mas logo se tornou inconfundível algo pesado atingindo o chão. Eu parei de andar por um momento, e todos ao redor também fizeram o mesmo. Olhei para trás, e vi Kayla no chão, suas pernas esticadas, os braços caídos ao seu lado. Ela estava pálida, seus olhos semicerrados, como se estivesse lutando contra uma onda de escuridão que a engolira.
Antes que qualquer um de nós tivesse tempo de reagir, Thomas correu até ela com uma velocidade quase instintiva. Ele se agachou ao lado de Kayla, puxando ela para seus braços, tentando ajudá-la a se levantar. A expressão dele era uma mistura de preocupação e frustração, e, por um momento, todos nós paramos, observando, sem saber o que fazer.
Brianna rapidamente se aproximou, pegando a garrafa de água que estava quase vazia e oferecendo um pouco a Kayla. Eu podia ver o esforço dela para beber, mas parecia que a água não era suficiente para recuperar o que ela havia perdido. O desespero começava a se espalhar entre nós. O calor estava nos matando, um pouco de água não iria mais salvar ninguém.
Jorge foi o primeiro a quebrar o silêncio pesado.
— Se continuarmos assim, vamos morrer pelo sol — ele disse, sua voz rasgada, quase desolada.
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Prova de Fogo: Sombra e Luz - NEWT
FanficEm um mundo devastado por um vírus letal, os sobreviventes enfrentam não apenas a ameaça da contaminação, mas também as manipulações de uma organização poderosa conhecida como CRUEL. Após escaparem de um complexo controlado por essa organização, Tho...