33 - Aos olhos da morte

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Perspectiva de Newt

A noite estava absurdamente silenciosa. Silenciosa demais para o meu gosto.

O vento soprava leve, carregando consigo o cheiro úmido da terra e o som distante de folhas farfalhando ao longe. O céu era um manto negro, pontilhado de estrelas que não traziam nenhum conforto, apenas deixavam a paisagem ao nosso redor ainda mais sombria. O prédio da CRUEL se erguia à nossa frente como um monstro adormecido, suas enormes paredes metálicas refletindo a luz pálida da lua. Parecia abandonado, mas eu sabia melhor do que confiar nessa impressão.

Nós estávamos prontos. Pelo menos, era o que queríamos acreditar.

Desde que começamos a planejar essa invasão, sabíamos dos riscos. Sabíamos que a chance de algo dar errado era enorme. Mas o que eu não conseguia tirar da cabeça era o fato de que não havia muitos guardas ao redor. Isso não fazia sentido. Desde que conhecíamos a CRUEL, sabíamos que eles eram paranoicos com segurança. Então, por que hoje, justo hoje, estava tão fácil?

Fácil demais.

Thomas percebeu o mesmo. Ele lançou um olhar rápido para os lados antes de se voltar para nós. Seu rosto estava tenso, os olhos escuros carregados de determinação e cautela. Ele respirou fundo, organizando seus pensamentos, e então começou a falar, sua voz baixa, mas firme.

- Certo, vamos recapitular. - Ele olhou para cada um de nós antes de continuar. - Brianna, Gally, Jorge e Brenda criam uma distração e eliminam os guardas da entrada. Assim que recebermos o sinal deles, nós quatro eu, Minho, Niya e Thomas seguimos até a porta principal. Se conseguirmos entrar, seguimos pelo corredor principal. Se houver guardas demais ou a porta estiver trancada, procuramos outra entrada.

Ele fez uma pausa, um músculo de sua mandíbula se contraindo levemente.

- Plano B: se der tudo errado, recuamos e tentamos de novo mais tarde.

Ele passou os olhos por nós mais uma vez, esperando alguma objeção. Mas ninguém falou nada. O plano era arriscado, claro, mas já estávamos ferrados de qualquer jeito.

Ainda assim, algo dentro de mim se remexia desconfortável.

Minhas mãos estavam frias apesar da leveza do vento, e meu coração batia um pouco mais rápido do que eu gostaria. Eu odiava isso. Odiava essa sensação de que algo estava errado, mas eu não sabia o quê.

Meus olhos vagaram involuntariamente para Niya, e foi aí que eu percebi.

Ela parecia... diferente. Sua pele, que normalmente tinha um tom saudável, estava mais pálida do que o normal. Seria o reflexo da lua? Ou apenas a tensão da missão? Me aproximei um pouco e baixei a voz para que só ela ouvisse.

- Ei. - Meu tom era cauteloso. - Você está bem?

Ela piscou algumas vezes, como se estivesse tentando afastar o cansaço, e então assentiu. Mas algo na forma como ela fez isso me incomodou. Seu sorriso parecia forçado, e antes de responder, ela fechou os olhos por um instante, respirando fundo.

Não gostei nada disso.

Suspirei, analisando seu rosto por mais alguns segundos. Não queria pressioná-la, mas algo me dizia que ela não estava completamente bem.

Prova de Fogo: Sombra e Luz - NEWTOnde histórias criam vida. Descubra agora