Filhos do Mar - O Despertar

O Garoto da Água Negra

Tarde de Torne o 5° dia, 14:23, dia 20, mês do Ar, ano 379 ciclo do Mar, o Corvo do Mar navegava tranquilo e lentamente nas águas perigosas do mar negro, o mais perigoso e violento território do mar dito como nunca dominado, Barock mestre de artilharia do navio fitava a água escura do mar do canto esquerdo da popa do navio junto de Igor perna morta, e outros dois tripulantes do navio, estes seguravam algumas cordas ligadas a um rede que já estava no fundo do mar buscando fisgar algo.

Todos os quatro esperavam ansiosos para ver se conseguiriam ou não pegar alguma coisa, não só pelo fato do mar negro ser repleto de lendas de seres nunca antes vistos escondidos em suas águas mais também por que fizeram uma aposta entre conseguir ou não pegar algo no mar.

Já estavam ali a mais de uma hora e a animação pela disputa não acabava, só se ouvia piadas e zombarias de uns contra os outros enquanto aguardavam e fora isso só se ouvia alguns poucos gritos dos tripulantes puxando e afrouxando cordas.

Barock já prevendo que seu capitão fosse reclamar da folga dos quatro tentou uma abordagem mais direta pra irritar Igor e os outros dois:

-Desistam inúteis, vcs não tem como vencer nessa, estamos nas águas mais perigosa dos 9 mares, não vão conseguir pegar nem alga quanto mais um bicho e se por um milagre conseguirem vai provavelmente ser um tubarão de 10 cabeças ou quem sabe um polvo gigante de 80 metros!-

-Você mais do que ninguém deveria saber que quando se quer muito algo que tem no mar, ele mesmo te dá! - afirmou Igor encarando Barock já levemente irritado com suas perturbações.

- Velhas superstições do mar, acha mesmo que ele perderia tempo ajudando velhos demônios como nós que andam profanando se....- dizia Barock em resposta a Igor quando foi interrompido.

-Arrumem o que fazer seus desgraçados inúteis ou jogo todos os quatro no mar pra irem pegar seu peixinho com as próprias mãos- disse o capitão encarando os quatro de perto do timão do navio.

- Sim senhor, iremos recolher a rede agora capitão- disse Igor em tom mais baixo demonstrando respeito a seu superior. Depois de acatar a ordem Igor agarrou a corda em suas mãos e começou a puxa-la recolhendo a rede com seus dois companheiros.

Eles puxaram muito pouco e a rede parou agarrada em alguma coisa, Igor tentou puxar com mais força e por impulso deu um passo pra trás mas sua perna esquerda não tinha nenhuma força e ele caiu, os outros dois quase perderam a corda das mãos por conta disso, mas a seguraram firme e puxaram com força, porém, a rede estava bem presa e não voltava de jeito nenhum.

-Não acredito que pegaram alguma coisa neste inferno seus desgraçados-disse Barock indo até eles, logo agarrou a corda junto a seus dois companheiros e começou a puxar, enquanto Igor se levantava com certa dificuldade.

-Já mandei pararem de perder tempo, o que estão fazendo ai parados ainda?- perguntou o capitão já irritado com a demora dos quatro.

-a rede está presa capitão- disse um dos rapazes enquanto fazia força pra puxar.

-Impossível idiotas esse mar é tão profundo quanto o céu sobre nossas cabeças, puxem logo essa rede seus mariquinhas-disse o capitão perdendo a paciência com os quatro.

-Não da senhor, não estamos...conseguindo- disse Barock fazendo força pra puxar a rede enquanto ela se afastava ainda mais graças a movimentação do navio ao mesmo tempo que a corda arrastava nas mãos dos rapazes que já estavam quase esfoladas.

O capitão respirou fundo, passou o polegar lentamente sobre o chicote preso ao lado direito de sua cintura, olhou o convés e gritou a três homens que descansavam deitados no convés inferior com o sol brilhando sobre eles como lagartos:-ei vocês três, acabou a folga, levantem e ajudem estes desgraçados a puxarem a rede.- imediatamente os três levantaram em um pulo, olharam firme o capitão e gritaram em uníssono "Sim senhor Capitão" e correram até a popa do navio, agarraram firme a corda e juntos fizeram força pra puxar, mas nada adiantou, o capitão olhou a situação surpreso e um pouco irritado, controlou-se pra não xingar os rapazes, olhou novamente para o convés, mirou mais dois homens jogando cartas.-Ei, você e você, venham aqui.- disse o capitão apontando um por um, logo viu o novato limpando o convés e o chamou também:-peixe, venha ajudar também, ajudem a recolher a rede.- e os homens foram correndo, agarraram as cordas e puxaram com força, mas ainda não adiantou.

-Merda, atenção, puxem juntos no três...um...dois...Três!!!- disse Barock berrando o número ao final e todos puxaram juntos com toda força a corda e no fundo do mar algo se partiu.

O mar negro sacudiu com uma pequena onda que pareceu sair debaixo do Corvo do Mar e todos os homens puxando a rede caíram no chão.

-O que foi isso?- perguntou Igor assustado com o ocorrido olhando para os lados esperando que algum de seus companheiros lhe desse uma resposta.

-Eu não sei- respondeu Barock apreensivo se levantando e indo a popa do navio pegando novamente a corda nas mãos.-Vamos puxar- disse ele olhando seus companheiros que já haviam se levantado.

-Homens, todos a postos!- gritou o capitão ordenando que seus tripulantes se preparassem pra enfrentar um possível perigo e mesmo sem entender bem o motivo, os homens cumpriram rapidamente a ordem dada a eles, Barock olhou o capitão, e o mesmo assentiu dando ao velho mestre de artilharia a permissão para puxar a rede e junto os homens a puxaram.

A rede foi puxada com certa facilidade, apesar de algo um pouco pesado pesar para o fundo, finalmente ela foi tirada da água, Barock olhou pro que estava no meio da rede um tanto assustado, Igor por sua vez só foi se afastando mais e mais da rede, e ficou olhando de longe, o capitão se aproximou pra ver melhor e se espantou ao ver presa a rede uma rocha com forma humana de um garoto entre 14 a 17 anos, e na rocha um pequeno buraco acima do peito que mostrava um corpo real debaixo da pedra e esse corpo se movia respirando lentamente por debaixo da capa de rocha. O capitão olhou para todos os outros tripulantes ali, respirou fundo, olhou em seguida para a rocha e falou com a voz firme apesar do desconforto pelo ocorrido: -Tirem o garoto da pedra!