Capítulo 29

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Capítulo 29

Um dos meus motivos para sempre evitar pensar em viver, fora a luta contra a decepção, eu nunca quis me frustrar com situações inalcançáveis, nunca quis pensar em minha cura até o transplante nunca quis ter esperanças de uma vida normal até ela estar diante de meus olhos, e agora? Quando finalmente eu havia aceitado que viver era algo que eu podia enfrentar a desgraça estava diante de mim, novamente aquela dúvida constante das partes iguais que a vida lhe dá, estava diante de mim.

As partes iguais de alegria e tristeza que eu sempre indaguei estavam dando prova de sua existência.

Mesmo aflita e sem realmente saber o que fazer, peguei o celular em minhas mãos e dedilhei rapidamente o número de Christina, poderia ligar a minha mãe, porém iria atrapalhar seu trabalho.

Os minutos pareciam horas e mesmo com o sol que o início de primavera trazia eu estava tremendo sentindo a leve brisa gelada, ou talvez fosse o excesso de nervosismo que me fizesse ter essa reação.

O carro de Christina parou a minha frente e demorei algum tempo a perceber que ela estava esperando que eu entrasse.

— Hailey me explique direito isso tudo! — ela perguntou colocando imediatamente o carro em movimento.

— Nick está inconsequente, eu não deveria tê-lo deixado. — falei apressadamente.

— E o que poderia ter feito? — ela falou áspera. — Poderia ter sido pior, você poderia estar no carro.

— Sim, eu poderia ter dirigido, insistido para ele pegar um táxi, qualquer coisa, mas era minha obrigação estar ao lado dele.

O caminho para o hospital era curto e quando o carro parou em um dos sinais Christina me encarou.

— Não faça isso, não me venha com hipóteses e nem comece a se culpar, acidentes acontecem, e não é a primeira vez dele.

— Não comece você a fazer comparações, eu não preciso disso agora, lembrar-se de Bia só irá me deixar pior.

Christina se calou e assim que o sinal mudou ela continuou dirigindo.

— Você não precisa de comparações, isso eu sei, mas não precisa se culpar.

Suspirei e tentei fazer com que a palpitação excessiva de meu coração fosse ficando mais lenta, inutilmente, entretanto era necessário.

O carro mal parou no estacionamento eu já estava com a porta aberta e saltei apressadamente, se Christina estava me seguindo eu nem fiz questão de reparar, cheguei à recepção recebendo o sorriso de uma das atendentes que eu conhecia bem.

— Renata, pode me informar onde Nicholas Scoot está?

— Bom dia Hailey, vamos por partes o que aconteceu?

— Ele é... — estava ofegante e tentando soar coerente eu encarei a mulher de olhos verdes intensos e cabelos ruivos presos em um coque, o sorriso em seu rosto se desfez analisando o meu estado preocupado — Meu namorado, ele sofreu um acidente, eu não sei nada...

— Calma, vou verificar. — meu corpo estava debruçado sobre o balcão enquanto escutava o barulho irritante das telas do computador sendo pressionadas. — Sim, Nicholas Scoot, ele deu entrada essa madrugada, já está no quarto.

Nem esperei que ela me liberasse estava caminhando em direção ao elevador meus dedos pressionavam o botão como se a velocidade do elevador dependesse da força.

— Hailey a moça da recepção mandou você usar isso. — Chris estava ao meu lado esticando o crachá de visitante em minha direção. — Ela disse que ele está no 223.

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