Hoje na aula de artes eu fui fazer o que o professor me mandou, faria um desenho livre, eu não tinha a mínima ideia do que eu poderia fazer.
— Hailey busque inspiração dentro de você, sonhos, o que você queria, algo especial.
— Não é tão fácil assim. — coloquei meus fones de ouvido novamente na música que andava em minha mente.
O que o professor não sabia era que eu não tinha sonhos, isso poderia soar triste, mas não tive muito tempo de pensar em sonhos, nem mesmo o transplante o qual eu fiz, eu sonhava, desejar algo também não. Eu tinha uma bela família e agora eu teria que aprender a conviver com um futuro ao qual nem ao menos estava preparada.
E foi nesse momento que uma imagem se formou em minha mente.
O grafite em minhas mãos parecia ter vida própria, eu comecei a desenhar nem sabia o que significava, porém eu estava animada com o resultado, que estava chegando.
As grandes asas do tordo estavam abertas e ele tentava subir mais alto, além do sol, além do que ele queria ir, porém algo o impedia, ele estava em uma gaiola, e as asas bateram com tanta força que ficaram feridas. Eu não estava fazendo um desenho colorido, mas mesmo sem o vermelho eu podia sentir como se o sangue escorresse dele, era como se os meus dedos estivessem sedentos de colocar para fora a imagem que se formava em minha mente.
O tordo enjaulado querendo voar, querendo viver.
Assim que o sinal anunciou o fim da aula, eu encarei meu desenho, olhei meus dedos escuros do grafite e foi ali que eu percebi algo sobre meus sentimentos, algo que nem ao menos eu sabia.
A jaula era a única coisa que impedia o Tordo de voar. Ele poderia até se ferir, porém não desistiria. Não era o mundo que me detinha, ele me deu o sol, me deu um coração novo, a jaula nada mais era do que feita por mim mesma. Eu era a jaula, reprimindo a vida, eu não podia ficar mais assim, pois ganhei uma oportunidade que muitos almejam a cada dia, mas eu me sentia mal por não achar que merecia algo tão grande em minha vida.
Por que eu sempre me sentia enjaulada? Sentindo que eu não deveria estar aqui? Minhas mãos foram ao meu peito e fiquei pensando: quem foi a dona do coração? Que vida ela tinha? O que a aguardava?
Por que a vida de alguém teve de ser interrompida pela metade, e porque eu deveria ter a chance de viver?
Saí da sala deixando o desenho em seu pedestal, mas ele não saiu de minha cabeça. Durante a aula de história eu não conseguia me concentrar, eu precisava voar, mas como soltar o tordo quando os sentimentos que o enjaulavam estavam tão arraigados?
— Devemos combinar um dia para o trabalho.
Olhei para cima e Nicholas estava virado em minha direção.
— Tudo bem. — dei de ombros e continuei a escrever as respostas do exercício que a professora passou.
— Estou falando sério Hailey, não gostei da ideia de fazer o trabalho com você sabendo que me odeia, mas temos de fazer!
— Eu não te odeio. — falei normalmente.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Tá, eu não morro de amores, mas odiar é uma palavra muito forte.
— Tanto faz. Olhe, como teremos jogo hoje, sábado não tenho treino.
Quando ia confirmar, lembrei-me da reunião da comissão.
— Sábado tenho compromisso à tarde, não posso.
— Então, domingo?
Domingo era restrito a família, mesmo eu sempre estando com eles, porém acho que meus pais não iam se importar por se tratar de um trabalho. Então eu respondi:
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Voar
RomanceHailey Turner e Nicholas Scoot se conheceram como qualquer adolescente, e assim com os relativos problemas deles gradativamente se envolveram, porém isso não é só uma história sobre dois adolescentes que se apaixonam, e sim sobre superação. Um rapaz...