Capítulo 25

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O inverno era rigoroso em certos dias, meus pés estavam envoltos de uma bota e eu havia buscado as meias mais quentes que eu poderia ter na gaveta, mas a neve que se acumulava ao redor de meus pés insistia em quase congelar a região. Minhas mãos estavam usando a luva que a vovó Turner havia tricotado antes de falecer, entre meus dedos faltava espaço, porém eu ainda insistia em usá-la.

A época de natal sempre fora a minha preferida, mesmo depois do diagnóstico da cardiomiopatia, não deixava de ficar animada, a cidade repleta de luzes, a compra da árvore de natal e a ceia.

— Esta está boa Hailey? — meu pai perguntava apontando para uma das mais altas árvores.

— Não, fica difícil colocar a estrela, mas essa aqui é perfeita. — falei apontando para uma de tamanho médio, aos meus olhos era perfeita.

— Será essa. — o sorriso que meu pai esboçou me fez sorrir de imediato.

Respirei fundo feliz por mesmo já estando quase na idade adulta, namorando e ainda ter feito uma tatuagem, nada disso fazia com que meu pai me tratasse diferente do que sempre tratou, sendo a sua garotinha.

A árvore fora escolhida, um senhor que usava uma touca de lã ajudou meu pai a erguê-la em cima do carro, sorri quando os pés dele pisaram em uma parte lisa do gelo fino que estava na calçada o fazendo escorregar.

— Não é contra alguma lei que a filha fique caçoando de seu pai desastrado?

— Creio que não. — falei lhe estendo a mão. Observei o sorriso do homem de touca, as bochechas de meu pai estavam levemente avermelhadas.

Assim que entramos no carro que estava aquecido, notei que estava realmente com frio.

— Amanhã irá fazer sua primeira viagem sem a sua família. — o tom de voz de meu pai saía divertido, porém uma breve analisada em sua expressão mostrou que ele estava preocupado.

— Acho que esse é o primeiro passo para a liberdade.

Nenhuma palavra foi dita, somente o som do carro foi ouvido pelo resto do caminho.

Chegando à nossa casa a árvore ficou perfeita no canto da sala, como sempre a caixa contendo a velha decoração foi trazida pelas mãos de minha mãe, entre uma decoração e outra colocada uma a uma a estrela ficava sempre por último.

— Acho que esse ano você merece colocar a estrela, Hailey. — meu pai esticava a sua mão com a enorme estrela dourada em minha direção.

Relutei em pegar a posição sempre deixada a meu pai, porém lembrei que esse ano foi um dos melhores, o que eu mais recebi benção se for assim colocada a minha situação, um transplante, amigos e um namorado, tive muito mais do que eu poderia um dia imaginar, a magia do natal invadia minha sempre constante relutância em aceitar as coisas boas, estendi a minha mão em direção à estrela, o peso não era tão amedrontador como o tamanho, subi na cadeira e posicionei-a ao centro da árvore.

Os olhos de minha mãe brilharam assim que meu pai ligou as luzes, e sim o verdadeiro espírito natalino estava instalando na residência dos Turner. O telefone soou retirando um pouco do clima, a mão de minha mãe estava enroscada a mão de meu pai.

— Deixem que eu atendo! — falei rapidamente não querendo desmanchar aquela cena. Corri até o aparelho que ficava na cozinha, e nem senti a falta de fôlego, agora não mais me sentia fadigada aos pequenos esforços graças as constantes caminhadas que fazia com Nicholas.

— Residência dos Turner! — minha voz soou divertida, sendo que eu raramente atendia ao telefone.

— Hay?! — a voz rouca de Nicholas me fez ficar mais relaxada.

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