"We only say goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to black. "*Amy Winehouse, Back to Black
⌘Corpo sóbrio, mente ébria. O suspiro construiu um caminho de pedras dentro de mim o qual a cada um que passava, meu peito transbordava. Gritava! Encantava-se! Eu estava ali, certo? Eu estava, de fato ali! Com aquelas pequenas mãos me apertando, tateando e conhecendo alguns centímetros do corpo que já era seu.
Meu peito pulsava cada vez mais forte. Quando ela se afastou olhou diretamente para o chão. Suas bochechas e todo seu rosto estavam completamente vermelhos. A Sol fica linda corada, já disse isso?
Passei as mãos suavemente pela face daquela senhorita. Quente. Sol olhou para mim. Ó, como eu gostaria de narrar esse acontecimento sem me perder nas lembranças de seus olhos amarelos. Como gostaria, leitor, de simplesmente conseguir dizer o que aconteceu sem suspirar ou sentir todo o sangue evaporar-se dos vasos. O momento era demasiadamente inapropriado. Mas, ambos estávamos ali, a contemplar o rosto um do outro, ou apenas sem saber o que fazer a seguir. Bem, eu não sabia.
Ela havia revirado minha mente. Ela havia, com toda aquela doçura, revirado minhas ânsias. Ela, menina ou mulher, revirou minha alma. Em tão pouco tempo. Em um espaço tão curto. E, logo, eu a perderia para o tempo. Para o vento. Para qualquer coisa, mas principalmente, eu a perderia para o horizonte.
Talvez eu pudesse ir com ela... Não gostaria de pisar naquela casa novamente, muito menos levá-la até lá. Nunca mais.
Sol começou a andar na frente, do mesmo modo como fez quando fomos ali pela primeira vez. Ela me tomou tudo. Ela levou tudo! Ela... Leoa mortífera, loba sanguinária, feiticeira, enterrada ou não, mesmo sendo uma droga de cadáver continua a permear meus sentimentos. Permear estes malditos pensamentos. E eu, a amá-la incondicionalmente.
Alcancei minha... Então, eu tinha que acabar com aquela história logo. Eu ia perdê-la de todo jeito. O tempo passa. O tempo passa. O tempo passaria. Não poderia deixá-la ir. Talvez... Se eu pedisse para ficar, talvez se eu a pedisse em namoro pelo menos algum dia voltaria, ou eu... Droga. No entanto, alcancei-a e minha mão cobriu sua omoplata.
Muito provavelmente, se a deixasse ir e esquecesse tudo fosse o certo a se fazer. Ah, meu caro, isso eu penso hoje, naquele dia, só a desejava. Só queria aproveitar o tempo com aquela menina. Meu pai teria que suportar.
- Sol...
- Oi, Tê. - ela parou. Droga! Droga! Droga! Eu não aguentaria falar nada se estivesse mergulhado nos pequenos olhos dela.
Continuei a passos largos e ela logo voltou a andar.
- Oi. - repetiu.
- Sabe... Para onde você vai depois dessas "quase três semanas"? - lá vinham as palavras falhadas penetrar em minha boca sem pedir permissão.
- Eu não sei. Vou com a minha mãe para muito longe.
- Não sabe onde é, mas sabe que é muito longe?! - sorri, tentando disfarçar a vergonha.
- Não quero falar sobre, Tiago.
- Desculpas. - Afirmei cabisbaixo.
- Nada não.
- Sol.
- Huh?
- Sabe que temos pouco tempo, certo?
- Sei. Infelizmente...
- Quero.... Quero... Bem, eu estava pens... - meu corpo logo parou, e eu a fitei diretamente.
- O quê?
- Não sei o que somos.
- Nem eu. - Sol sorriu abertamente e abraçou meu abdômen, encaixando sua cabeça perfeitamente em meu peito.
- Quero que sejamos namorados. - Ela me soltou.
- Não. - disse se afastando.
Não sabia o que dizer. Silêncio. Silêncio durante um bom tempo. Voltamos a andar.
- Por quê? É por causa do... - eu disse muito baixo, mas ela ouviu.
- Não, não dou a mínima para o seu pai. Eu não quero, ponto final. Não prefere mudar de assunto?
- Talvez. Gostaria de uma resposta mais concreta, achei que nós fossemos mais que... Droga. Não temos tempo, não quero dizer adeus sem pelo menos ter sido algo a mais do que um namoradinho de verão na sua vida.
- O mar está bonito, né?
- Sol! Me responde.
- Olha, Tiago. Não sou do seu bico. Foi só um beijo. Que tal só amigos? Sem namorico nem nada...
- E aquele papo de "sinto que devo continuar" - fiz as aspas com as mãos.
- Besteira, já passou. - Então seria assim?
- Besteira? Era um tipo de... Brincadeira?
Não conseguia acreditar. Minha respiração por vários minutos ficou falha e os dedos formigavam. Era muito para um dia só. E, ela, diz que é besteira.
- Não era brincadeira. Acredite, Tiago, é o melhor a se fazer.
- Por quê? Que droga de segredo você guarda, Pandora? - esbravejei. - Por favor, seja minha.
- Já sou sua amiga, não está feliz?!
- Não. Eu quero mais.
- Eu, não. Não posso ter um relacionamento contigo.
- Motivo?
- Você não serve para mim.
Eu me calei. Não insistiria mais naquela hipótese. Só queria ir embora. Só isso. Sair dali, sem olhá-la.
- Amigos? - Senti que precisava concertar as coisas, ainda não queria perdê-la.
- Talvez.
Existe um breve limite entre o sim e o não, chamado talvez. Limite esse que pode ser quebrado com o simples passar de um centésimo de segundo. Ou persistir por milhares e milhares de anos. Talvez significa esperança. Talvez não é não. Não é sim. Talvez é talvez. Talvez é a barreira. Às vezes, grande. Às vezes, pequena. O "talvez" era o breve limite que separava a vontade de me jogar ao mar e a de puxa-la para um beijo frenético. Talvez. Talvez.
- Tudo certo.
- Vou para casa. Boa noite, Tiago.
E foi. Deixando-me ali, sozinho. Com um pai bravo em casa, com a lembrança dos olhos do gatinho. Com o fardo de ter que esquecer um beijo. Com ela dizendo que não me queria. Com a tarefa de matar asfixiado todo um amor. Fui para casa.
⌘* [ Nós apenas dizemos adeus com palavras
Eu morri umas cem vezes
Você volta para ela
E eu volto para o luto ]
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Sol
Romance*Editando "Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, ó ser humilde entre os humildes seres, embriagado, tonto de prazeres, o mundo para ti foi negro e duro. Atravessaste no silêncio escuro a vida presa a trágicos deveres e chegaste ao dever de altos s...