11. Roxo

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Queria usar, quem sabe

Uma camisa de força

Ou de vênus

Mas não vou gozar de nós

Apenas um cigarro

Nem vou lhe beijar

Gastando assim o meu batom

Zé Ramalho, Chão de Giz

A estrada fora longa, cansativa e regada por perguntas. O que fora aquilo? O que ela quis dizer com um beijo? Mas, sobretudo, o que ela disse com aquele "talvez"?

Era para ser uma história de amor. Mesmo que fosse fugidio e corriqueiro ou de verão, era para ser aquele mesmo amor que vemos em livros e filmes.

- Eu só quero te amar, Sol - sussurro para mim mesmo baixinho, confidenciando um segredo aos meus neurônios.

Não sabia se deveria voltar para casa. Na verdade, eu não queria pisar lá. Mas, para onde eu iria? Pensei em Jorge. Se eu explicasse tudo... Não, precisava ir para casa. E enfrentar medo, obsessão, amor e dor; tudo de uma vez só.

Entro com o pé esquerdo. Os mais supersticiosos diriam que aquilo seria um mau sinal. Forcei meu corpo a entrar no recinto. Não tinha a mínima ideia de que horas eram, estava muito escuro, por essa razão, eu não consegui ver nem um palmo a minha frente.

- Achei que não voltaria, filho - a voz era lenta, calma e serena.

- Para onde eu iria, mãe? - o "mãe" saiu em meio a um soluço seco, dando a entender que estive chorando. Por mais que não estivesse.

- Não sei... Para algum lugar com a Sol. - lógico, lógico. Ela me viu saindo atrás da senhorita, aonde mais eu poderia estar a não ser com a Sol? Bem... Se eu não fosse tão idiota, estaria ao seu lado agora.

Mas eu sou idiota.

- Não.

Talvez soasse bruto demais, ou até certo ponto um pouco indiferente. Embora, por dentro meu peito transformara-se em uma sopa. Meus sentidos estavam sendo esmagados pelo sentimento e aquele escuro. Negro, entrecortado por fótons perdidos.

Caminhei em direção ao interruptor e senti meus dedos formigarem. Minha cabeça girava e girava, mantendo o mesmo campo de visão. Senti que iria vir ao chão todo o corpo, todo o acontecimento. Eu a amo. Eu a amo muito.

Você não tem ideia, leitor, do que o amor é capaz de fazer com pessoas normais como eu. É uma agonia. Uma ânsia. Um temor. Uma vontade de sempre estar ali. Abraçar. Amar. Querido verbo "amar", um dia você também amará e saberá a inquietude de uma alma separada da outra.

Apertei o interruptor, fechando os olhos para não "quase-ficar-cego". O vestido era roxo. Roxo-roxo para ser exato e não roxo-lilás.

Se você amasse, atreveria-se a deixar o amor ir embora?

Se você amasse, conseguiria lidar com o "não correspondido"?

Se você amasse, e a pessoa não te quisesse... Se afogaria em lágrimas?

Se você amasse, conseguiria não ter essa pessoa perto de você mesmo que ela também demonstrasse amor por você?

Se você a amasse, procuraria-a amanhã?

Sol Onde histórias criam vida. Descubra agora