Capítulo 2 - Atrito

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...... Dez anos atrás .....

Catharina estava abaixada com um algodão na mão limpando os ferimentos pelo corpo de Alfred, que estava sentado em uma cadeira, o menino de apenas seis anos havia se envolvido numa briga com outros garotos na escola.

- Aqui estão os remédios, esparadrapo e todas essas coisas... - anunciava Thor chegando na sala com as mãos cheias de sacolas.

- Eu pedi apenas um cicatrizante, não a farmácia toda - brincava sorridente a doce Catharina.

- Ah Catharina eu nunca precisei comprar remédios na minha vida, não esperava que meus filhos fossem precisar principalmente o de seis anos - dizia o homem maior encarado o menino, que abaixou a cabeça.

A belíssima mulher de longos e lisos cabelos loiros voltou-se para o filho, que gemia ao toque dos remédios em alguns de seus ferimentos.

Minutos depois, já não existia mais nenhuma ferida exposta todas estavam devidamente tratadas com pomadas ou cobertas por pequenos curativos, Catharina levantou-se puxou uma cadeira e sentou-se de frente ao filho e com o mais terno dos olhares perguntou:

- Por que você brigou com seus colegas?

O rapazinho hesitou responder, mas a mãe levantou o rosto dele forçando-o a encará-la.

- Desculpa mamãe, eles me ofenderam... Me chamaram ... De... Bastardo... - desabafou Alfred curvando os sobracelhas.

- E você sabe o que significa a palavra bastardo?

- Mais ou menos... Ernst me disse que bastardo e quem não tem pai e nem mãe, MAS EU TENHO PAI E MÃE SIM! - respondeu o jovem elevando a voz.

- Calma meu anjo - dizia Catharina tentando tranquilizá-lo - o significado não é bem esse, porém isso não é importante, você precisar compreender que apesar do que seus colegas disseram sua atitude foi errada, a violência não resolve nada e você sabe que não pode usar a força contra os outros.

- Mas se eu ficasse parado eles me machucariam mais e...

- Sua atitude foi errada Alfred! Você é um deus e possui uma força muito superior a de qualquer mortal, sabia que poderia ter matado aquelas crianças - esbravejou Thor.

- Acalme-se Thor, gritar agora não vai resolver nada - repreendeu Catharina ao marido - querido seu pai tem razão você é muito mais forte fisicamente que seus coleguinhas e se não se controlar poderá nos expor e você sabe o quanto isso seria ruim.

- Sei sim, mas se eu ao menos tivesse cabelos loiros como os de Ernst, ou vermelhos como os de Emilie, ou se tivesse olhos azuis como o do papai ou verdes como os seus, as pessoas parariam de dizer que eu não tenho pai nem mãe, POR QUE EU TIVE DE NASCER DIFERENTE?- desabafou o garoto não conseguindo conter o choro.

A expressão nos rostos de ambos foi a mesma, profunda tristeza, lágrimas começaram a lavar o belíssimo e pálido rosto de Catharina.

- Querido, eu... Eu... Você é um menino forte e precisa saber de alg...

- NÃO CATHARINA! - interrompeu-a Thor nervoso.

- Já chega Thor, ele já tem idade pra entender, prometemos que na hora certa ele saberia!

Alfred parou de chorar, era a primeira vez que ele via a mãe alterar o tom de voz para o pai. Thor não falou nada, apenas assentiu com uma expressão de contrariedade.

Catharina voltou o olhar para o menino, era visível a tristeza em sua face. Respirou fundo e disse:

- Filho... Eu... Eu não sou sua mãe.

YGGDRASIL- A Saga dos Nove MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora