20 ❃ RESSACA

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Eu não conseguia lembrar o meu nome.

Ou por conta das bebidas eu não soube onde meu nome se encaixava no meu cérebro entre tanta dor de cabeça. Mas a dor de cabeça parecia ter um barulho e o barulho se chamava campainha.

- Holly, atende a maldita porta - resmungou Tibby do meu lado ao colocar a cabeça por baixo do travesseiro.

Resmunguei algo quando a campainha tocou novamente e Tibby me empurrou direto pro chão. Paige dormia toda largada na cama improvisada no chão. Caminhei devagar até a porta e gritei quando ela tocou novamente:

- Já vai!

Podia ser qualquer um. Mas eu fui escovar os dentes e a visão foi assustadora. Por mais que eu não tenha usado maquiagem ontem, o meu cabelo estava um ninho. Coloquei-o pra trás e fiz um coque bagunçado. Suspirei e escovei os dentes rapidamente antes de correr até a porta e me deparar com nada mais e nada menos que James Backer. E seu sorriso. Droga de herança de família!

- James, oi!

- Boa tarde - ele riu.

- Boa... tarde? São que horas? - Eu arregalei os olhos.

- Quase três.

- Nossa - passei a mão na testa. - Hmm, eu vou fazer café, quer entrar?

- Claro - ele sorri visivelmente. - Pelo visto a noite foi boa.

Olhei para ele enquanto fechava a porta.

- Paige e Tibby estavam bem mal ontem e sugeri em irmos ao Dark Club.

Por um segundo eu notei que ele mudou sua feição. Ele balançou a cabeça e olhou em volta, enquanto eu ia fazer o café.

- Foram só vocês três?

- Bem, tecnicamente sim - eu ri.

- Estou vendo esse tecnicamente - respondeu ele. - "Acabei te levando pra cama e devo admitir que foi bem diferente de tudo o que costumo fazer. Mas valeu a pena. Tenha uma boa ressaca. Jack".

Virei-me rapidamente ao vê-lo com um papel rasgado contendo um recado de Jack. Ele me encarava e remexia o maxilar.

- Mexendo nas minhas coisas, huh - falei só pra provocar.

- Que merda você está fazendo, Holly? - ele perguntou furiosamente.

- Shh!

Falei enquanto ia fechar a porta das meninas, por sorte era bom aquela porta, eu mal escutava os passos no corredor.

- Isso não é mais da sua conta, James. Para de bancar o namorado ciumento, já terminamos, supere!

- Você sabe que não vou superar, você ainda sente algo - falou.

Revirei os olhos para ele.

- Mas Jack? - ele balançou o papel que ainda estava na sua mão. - Isso é muito baixo. Usando meu próprio irmão para me afetar. Sabe de uma coisa, está funcionando. É, realmente estou fervilhando de ciúmes!

Franzindo o rosto, eu explodi:

- Você é completamente fora de si, James! Pare de achar que tudo vive ao seu redor. Pare de achar que eu e Jack temos algo, pare de achar que isso é da sua conta!

- É da minha conta - ele aproximou -, você sempre será minha. Minha primeira vez, meu primeiro amor...

- Você também foi meu, foi minha primeira vez de muitas, meu primeiro amor... e a minha primeira decepção - falei com tristeza. - Não venha querer mandar em mim, James.

- Eu só quero que você se afaste dele, Holly, apenas isso.

- Isso não cabe você a decidir. Você não me deixou decidir naquele aeroporto. Você se foi, você me deixou completamente sozinha. Sabe quantas noites eu passei em claro pensando que ligaria ou quando chorava de saudades?

Ele tinha o rosto franzido, remoendo a própria culpa.

- Você não estava aqui nem mesmo quando minha mãe morreu - cuspi, olhando nos seus olhos. - Não ligou, não mandou e-mail, nem mesmo cartas. E agora, só porque o seu irmão voltou, você está querendo que eu fique longe dele.

Eu ri em desgosto.

- Você é um egoísta, James. Tudo é do seu jeito ou nada feito. Da mesma forma que você me deixou plantada por meses sem notícias suas.

- Me perdoe, Holly - ele murmurou entre a voz embargada.

Ele segurou em meu rosto com carinho e acariciou meus cabelos.

- Eu juro que mudaria tudo pra te ter novamente... tudo.

James não aguentou a possível necessidade. Ele acabou me beijando quando ouvimos a porta se abrir, revelando Tibby com a cara toda amassada e os cabelos loiros bagunçados.

Empurrei James na mesma hora e suspirei, dizendo:

- Acho melhor você ir, James.

Ele olhou pra Tibby e depois pra mim. Em seguida, me deu um beijo no topo da cabeça como fazia sempre. E foi embora.

Balancei a cabeça e suspirei de derrota, vire-me e encontrei Tibby com a sobrancelha bem feita erguida.

- Por favor, não diga nada que eu já não saiba.


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