35 ❃ MUITA SORTE

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Recebi uma mensagem de Jack informando que ele faria uma viagem a negócios por uma semana em Toscana, aparentemente Jack se interessou por uma produção de vinhos por lá. Eu não entendi muito bem o que daria lucro.

Aproveitei o frio de Nova York para ir a uma cafeteria logo perto de casa. O Coffehouse era um lugar simples, mas sofisticado. O piso era de uma textura semelhante a madeira, a porta de vidro balançava um sino ao sinalizar um cliente entrando ou saindo. Ao entrar, pude escutar vários sons: pessoas ao telefone, rindo, mexendo no notebook e outros sons alternavam entre máquina de café para o ruído dos carros no lado de fora.

- É um cappuccino com chantilly extra, por favor - pedi para a atendente.

Ao pagar os cinco dólares, eu procurei alguma mesa até que James me avistou e acenou para mim. Ross estava junto. Sorrindo de leve, eu fui até eles e falei:

- Olá, rapazes.

- Holly! - Ross me olhou surpreso. - Ei, como vai?

- Ótima e vocês?

- Tudo fluindo - disse Ross após um momento.

- Pedido 119! - Gritou uma das atendentes.

- É o meu - peguei a nota fiscal.

- Deixa que eu pego pra você, sente-se conosco - disse James ao pegar a nota fiscal da minha mão e ir buscar o meu pedido.

Sem alternativas, eu sentei no banco revestido de couro ao lado de James e o aguardei. Ross estava sentado de frente para mim e tomava café puro.

- Como vão as coisas na Falls?

- Exaustivas - ele suspirou. - Estávamos conversando sobre isso mesmo. James acha que devemos explorar outros estados. Mas há muitas empresas querendo parceria com a Falls Interprise que estamos deixando as outras opções pra mais tarde.

James vinha com o meu cappuccino em uma bandeja e dois cookies de framboesa. Oh...

- Eu sei que você ama esses cookies, achei que gostaria de acompanhar com o cappuccino - ele sorria de leve ao sentar ao meu lado.

- Obrigada, James.

Ross e eu trocamos breves olhares. Ele me entendia muito bem quando se tratava de James. Suspirando, bebi meu cappuccino e comi os cookies enquanto absorvemos uma conversa calma e com direito a diversas risadas.

- De jeito nenhum! - Eu gargalhei. - Não é justo. Eu que disse pra você não comprar aquele skate.

- Mentira! - Gargalhou James ao meu lado. - Você disse que amava skate.

- Eu disse que amava pessoas que conseguiam andar de skate - sorri pra ele.

Enquanto caminhávamos pelo Central Park, James e eu lembrava sempre dos momentos mais engraçados durante e depois de nossa amizade. E não soava estranho isso.

- Ok, você esqueceu de falar essa parte.

- James, eu falei! Não tenho culpa se você quebrou o braço ao tentar se mostrar... - e começamos a gargalhar.

- Eu cai tão feio que, naquele momento, eu quase cavei o chão pra enterrar minha cabeça lá!

Rindo, eu senti meu corpo pegar em chamas por conta das risadas. James sorriu pra mim e eu parei de rir aos poucos.

- Onde está Jack?

- Viajou para Toscana a trabalho - sorri de leve.

James não se surpreendeu por eu saber do paradeiro do irmão, apenas suspirou e concordou com a cabeça.

- Você... - ele se remexeu de incomodo. - Você está gostando dele?

- É, eu gosto dele - o olhei de lado.

Após um instante, ele perguntou:

- Você o ama?

Surpresa com tal pergunta, demorei um tempo para processar e atrevi a questionar para mim mesma os meus sentimentos que eu poderia ter por Jack.

- Eu não sei - falei depois do silêncio. - É muito recente pra saber, não é?

James riu de leve.

- Como eu posso saber? Só... não me deixe no escuro, eu ainda me preocupo com você.

Reparando no possível erro que estaria cometendo, eu parei de andar e James andou alguns passos até perceber que havia parado e franziu a testa.

- O que foi?

- James - pisquei algumas vezes ao ver que estava pronta para colocar as cartas na mesa. Aproximei de James e observei seus lindos olhos. - Eu gosto do Jack. E eu sei que você e eu temos um histórico, fomos namorados e por muito tempo tentamos novamente.

Ele me encarava de testa franzida.

- Mas nós dois não temos mais nada um com o outro e... eu entendo que ele é o seu irmão e você simplesmente o odeia. Mas eu não o odeio. Eu não consigo e acho que nem mesmo você. Você apenas odeia o fato dele ser mais sucedido que você.

- Isso não é verdade.

- Claro que é. Você parece querer me gabar como um troféu e acredito mesmo que o que você pensa que sente por mim é apenas uma ilusão de um garoto de dezessete anos apaixonado por uma garota viciada em livros e fotografia.

- Nós crescemos, James - continuei. - Você merece ser feliz, não merece correr atrás de algo que não vai voltar para você. Você tem uma grande empresa para representar e seu irmão está ali pra te ajudar. Eu amo você, de verdade. Mas não... amo mais você daquela forma.

- Você ainda carrega mágoa de mim com a morte da sua mãe? - algumas lágrimas brilhavam em seus olhos.

- Não - falei honestamente. - Não, eu não carrego mágoa. E não odeio você.

- É... - James tentou afastar as lágrimas piscando várias vezes. - Jack venceu novamente.

- Isso não é uma competição, James - balancei a cabeça.

- Mesmo assim, ele é um cara de muita sorte - disse ele ao me olhar nos olhos e virar as costas quando vi de relance uma lágrima cair no seu rosto.

Deixei-o ir e senti-me inesperadamente... livre. Não sabia que falar com James sobre tal assunto iria me aliviar um dos maiores pesos que sentia nas minhas costas.

- Uau, isso deve ter partido o coração do cara - falou uma voz vagamente familiar atrás de mim.

Virando para reconhecer o dono da voz, encontrei um homem alto, negro, cabeça raspada, olhos pretos e usando roupas normais. Mas não era nada normal quando se tinha um coldre segurando sua arma.

- Olá, Devin. E essa não era a minha intenção - coloquei os polegares no bolso de trás da minha calça.

Devin sorriu.

- Sempre não é nossa intenção. Como vai, garota?

- Bem - sorri e aproximei dele para abraça-lo. - E você?

- Precisamos conversar - ele pareceu sério.

- Se for sobre aquele assunto...

- Precisamos conversar - ele repetiu mais firme. - Tenho uma hora pra entrar em serviço e ter Campbell me enchendo o saco. Vamos, eu pago.

- Acabei de tomar um café - franzi a testa.

- Tudo bem, você paga então.



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