Cap. 28 - Flares

332 28 3
                                    

- Camila, Lauren acordou, vem para a casa dela, Lucy virá, eu e Vero já estamos aqui.

Acordou, Lauren acordou. O medo que tanto me tormentara e a ansiedade tanto me enlouqueceu cessaram. Era como se um peso fosse tirado de minhas costas.

- Ok, eu vou, beijos.

- Beijos.

Quando Dinah desligou o telefone, o êxtase por Lauren ter acordado passou.

Me lembrei de tudo.

Tombei mais uma vez. Fazer o que eu queria ou fazer o que precisava?

Obviamente, eu não tinha resposta. Eu nunca tinha. Suspirei, angustiada. Mil questões passaram por minha cabeça, mil hipóteses, mil loucuras. Bem, não era como se eu tivesse muito escolha, não era como se eu pudesse escolher quem eu amava. É tão engraçado como, com milhões de pessoas boas e gentis no mundo, milhões de rostos bonitos, milhões de sorrisos ingênuos, milhões de corações dispostos a se entregar, eu tinha que escolher Lauren. O amor é uma coisa tão subconsciente e longe de nosso controle que me assusta. Quando tomamos conta do que está acontecendo, já era; estamos sorrindo como bobos, sendo atacados por milhões de perguntas sem resposta, nos iludindo, esperando algo que talvez nunca venha, deixando tudo de lado, nos corroendo aos pouquinhos, perdendo umas partes de si mesmo e, por fim, desesperados. A necessidade angustiante de uma incoerência tortuosa, esse era o amor.

Deixei de lado meus pensamentos e saí do quarto. Minha mãe me levou até a casa de Lauren.

Quando saí do carro, as estrelas brilhavam delicadamente no negro infinito do céu. A lua minguante iluminava parcialmente as ruas movimentadas.

Avisei ao porteiro que iria para a casa de Lauren e, depois de alguns processos burocráticos e mesquinhos, pude subir. Dinah abriu a porta, abrindo um sorriso cheio de vida para mim e me abraçando.

- Ei, Camila

- Oi, DJ

Entrei no apartamento, na sala desnecessariamente grande estavam as meninas, amontadas no sofá, as cumprimentei e me sentei. Quando meus olhos encontraram os de Lauren, eles não brilhavam em segurança e superioridade, como de costumes, eu podia dizer que estavam diminutos, quase frágeis. Desviei rapidamente o olhar.

- Mas, continue, o que o médico disse? - Perguntou Lucy.

- Ah, não tem nada de mais. Ele deu algumas recomendações e receitou um analgésico - explicou, como se ficar desacordada por três dias não fosse nada.

As meninas concordaram em ver um filme, Laranja Mecânica. Quando estava na metade, senti minha garganta seca e fui até a cozinha buscar um copo d'água.

Eu sentia chão de mármore gélido sob meus, não me dei ao trabalho de ligar a luz, mas quando retirei o copo do armário, ela se acendeu. Me virei, assustada, ficando frente a frente com Lauren, seus olhos verdes e seguros de si, que tanto me assombravam, agora se perdiam, vazios. Se sua fragilidade me espantara, as palavras que saíram de sua boca me deixaram completamente sem reação:

- Camila... - ela suspirou. - Eu sinto muito. Me desculpa, me desculpa por tudo, por ter te machucado. Eu não... Eu... - Lauren não conseguia juntar as frases, parecia não achar as palavras certas. - Camila, eu não sei o que fazer.

A olhei, sem intender muito bem o sentido de suas palavras.

- Como assim?

- Por que você não me visitou no hospital? - juntei as sobrancelhas.

- Eu fui, eu te visitei. Passei quase o dia inteiro no hospital, mas você não acordava - me arrependi de minhas palavras quase que instantaneamente.

ConfusedOnde histórias criam vida. Descubra agora