Cap. 19 - Letter

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Camila's POV

Eu observava as pessoas caminharem na rua enquanto o ônibus fazia o caminho para minha escola. Todas elas perdidas em seu universo, sonolentas, se dirigindo ao trabalho. O mundo hoje era muito mecanizado. Eu odiava isso, odiava uma rotina, odiava essas certezas. A insegurança nem sempre é ruim, estar perdido te faz encontrar coisas novas. Por isso eu temia o futuro. Temia que um dia me acostumasse a mesmice, que me acostumasse a ver um sorriso no rosto das pessoas e nunca achasse um especial, que me acostumasse a fazer a mesma coisa todos os dias, que me acostumasse a tratar as pessoas mal sem perceber, que me acostumasse a ver o azul do céu e nunca agradecesse por um dia em especial. Esse era meu maior medo, me acomodar. Existem tantas coisas para ver no mundo, tantas pessoas para se conhecer, tantos ligares para se visitar, livros para ler, músicas para se ouvir, mas aqui estou eu, pegando o ônibus que pego todo dia, indo para onde vou todo dia, vendo o céu que vejo todo dia, fazendo o que faço todo dia. Talvez não... O que não nos faz acostumar a beleza de todos os dias são as opções, as esperanças. E o que nos faz sair da mesmice é o amor. Por mais que seja tortuoso, por mais que a vontade que temos seja nos livrar dele, sempre temos esperança. Esperança de que seja recíproco, de que você possa passar seu dia do lado da pessoa e que possa retirar todas as palavras ruins que dedicou ao amor.

Bem, eu tinha essa esperança, mesmo que as possibilidades fossem remotas, eu tinha essa esperança.

Desci do ônibus me juntando a multidão de alunos que entravam pelo portão da escola. Eu tinha que falar com Lauren, eu precisava de respostas, mas não a encontrei até que chegasse a sala.

Eu pensei que estaria tudo bem, que seu humor estaria bom, mas não. Sua expressão me dava indícios de que não queria conversar comigo. Eu não queria que sua grosseria estragasse meu dia então me limitei a sentar na frente de Harry e prestar atenção na aula.

- Para Sócrates, o primeiro passo para se aprender é admitir sua ignorância. - a professora de filosofia falava.

"Só sei que nada sei." Me lembrei da frase de Sócrates, a sabia de cor, me lembro de quando ainda tinha seis anos, mal sabia escrever, mas meu pai insistia em citar filósofos famosos. Eu o admirava muito, admirava muito o quão erudito era, talvez fosse um dos maiores motivos para eu ler e estudar tanto. Se tinha uma coisa que eu queria ser era culta.

A aula não demorou a passar, logo o sinal do recreio bateu. Eu precisava falar com Lauren, quando ela passou por mim, peguei seu braço e puxei.

- Preciso falar com você.

A carreguei pelos corredores para o banheiro individual mais próximo, ignorando sua luta para se livrar do meu braço. Entrei no banheiro e tranquei a porta. Lauren me olhava com uma cara indignada.

- O quê você quer Camila? - seu jeito grosso e arrogante me irritava muito.

- A pergunta aqui é o quê VOCÊ quer! - praticamente gritei. - Qual é o seu problema? O quê você fez com a Keana?

- N...Nada. - ela pareceu assustada e surpresa.

- Lauren. É serio. - eu lutava para recuperar a paciência. - Qual é o seu problema? Eu não te intendo, EU NÃO TE ENTENDO. - seu semblante parecia vulnerável por minha súbita alteração de humor. Joguei as mãos por alto. - Por quê diabos você pediu para Keana se afastar de mim? O quê você fez com ela? Por quê Lauren?

- Você liga muito para ela.

- Eu juro, JURO que eu tento te entender, MAS EU NÃO CONSIGO! Você fala que eu não signifiquei nada para você, que tudo que quer comigo é uma amizade. - eu estava indignada, não pude evitar que uma lágrima escorresse por meu rosto. - Que nosso beijo foi só mais um entre muitos e que você se arrependeu, mas pede para Keana se afastar de mim. - de vulneravel ela passou para surpresa. - QUAL É O SEU PROBLEMA?

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