PRÓLOGO

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2007

O filme acabara trinta minutos antes, então Liz, Mimi e Clara estavam sentadas, entediadas, cada uma em um quadrado disposto no sofá com três lugares, pensando no que fazer em seguida.

— Poderíamos jogar alguma coisa — sugeriu Mimi.

— Ou... Poderíamos assistir a outro filme. — Foi a vez que Clara vir com uma solução, que logo foi rejeitada pelas amigas.

— NÃO! — gritaram Mimi e Liz em uníssono. — Não aguento mais um filme. Foram dois em sequência. — Liz argumentou. — Precisamos de algo divertido que nos faça passar a noite inteira.

— Mas ainda são onze horas! Temos que inventar uma coisa muito boa.

— Eu tenho alguns jogos legais — insistiu Mimi. Estavam em sua casa, era possível que sua sugestão fosse a usada. — Tipo Twister.

— E aquele de dança?

— Ah, mas o Playstation não está aqui, Mateus emprestou a seu irmão, Clara. — Mimi murchou, cruzando os braços.

— Marcus nunca vai querer me devolver. — Clara rolou os olhos para cima, cansada só de pensar no irmão. — Tudo bem. Nós podemos fazer algo que não envolva videogames, ou televisão, nem nada que nos faça passar horas preparando.

Nessa hora Liz se agitou, levantando os braços, mas Clara logo tratou de levantar o dedo em riste, fazendo a amiga se acalmar.

— Não iremos cozinhar mais nada, Liz! Já comemos dois potes de brigadeiro. DOIS! — Clara, autoritária como sempre, levantou o queixo, orgulhosa de sua posição. Ela era apenas nove meses mais velha que as outras duas, mas já se sentia no direito de agir de tal forma, como se mandasse nas amigas. Liz, sempre mais pacífica, apenas dava de ombros.

— Então, nós podemos criar alguma história, tipo para um livro. Uma história de terror... — O tom de voz de Clara foi abaixando aos poucos, causando arrepios na medrosa Miranda.

— Ou uma lista. — Liz interveio, ignorando o terror de Mimi. — Como naquele filme com a Britney Spears! — Batendo palmas, ela se agitou novamente, mas dessa vez Clara não conseguiu intervir. Mimi entrou na onda da mais nova, talvez por alívio em não ter que passar uma noite inteira imaginando todo tipo de esquisitices sobrenaturais acontecendo pela casa.

— Sim! Mas a gente pode fazer alguma coisa diferente. Tipo uma lista com 10 coisas para fazer nos próximos 10 anos, e daqui a 10 anos temos que achar a lista e já ter feito tudo! — Mimi incrementou a ideia.

— Isso é muito... normal — desanimou Clara, mas logo seus olhos voltaram a brilhar. — Podemos fazer uma lista com coisas que nós NUNCA iremos fazer — sugeriu, finalmente.

— Mas qual a graça disso? — perguntaram Liz e Mimi numa só voz.

— A graça é que daqui a anos, nós podemos ler a lista e aí ver se aquilo que acreditamos hoje ainda se mantém — argumentou Clara.

Aos onze anos, a garota já pensava em futuro e tinha planos bem traçados para sua vida. Ao contrário das amigas.

Liz e Mimi se entreolharam, em dúvida se gostaram ou não da ideia. Clara, sempre à frente das duas, logo saiu do sofá e buscou a caneta mais próxima. O caderno de matemática de Mimi estava jogado pela sala e logo foi parar nas mãos da mais velha. Arrancou de lá, sem dó, três folhas listradas, distribuindo entre seu trio.

— Pronto. É fácil. Só começar a anotar dez coisas que você não quer NUNCA fazer — explicou. Mimi e Liz seguraram as folhas, hesitantes, enquanto Clara já começava sua lista. Ela não deixou que nenhuma das meninas lesse, virando-se de costas na hora de escrever.

Quando foi a vez de Liz montar sua lista, passou vários minutos pensando no que realmente nunca queria fazer. Quando os itens já estavam todos dispostos no papel, parecendo reais, ela se orgulhou de pensar daquela forma e ter aquelas convicções.

Liz

Lista do Nunca

· Nunca irei deixar de comer só porque já comi demais (!!!)

· Nunca deixarei de gostar da Avril Lavigne

· Vou estudar culinária e NUNCA terei comida ruim em casa

· Nunca beijarei mais de um menino em uma só festa, como Luana faz (eca!)

· Nunca namorarei o ex-namorado de nenhuma de minhas amigas

· Nunca vou pintar meu cabelo de loiro, porque ruivo é muito mais bonito

· Nunca irei me mudar de Valentina. É a melhor cidade do mundo! ♥

· Nunca ficarei mais de um dia sem falar com Mimi ou Clara

· Nunca voltarei a gostar de Marcus!

As meninas não mostraram suas listas uma para a outra. Depois que todas já tinham finalizado, dobraram os papéis em várias partes e esconderam até que a caixinha de papelão confeccionada por Clara estivesse pronta.

— Está tudo pronto. Iremos abrir essa caixa só muito tempo depois, certo?

— Certo. — Mimi e Liz concordaram em uma só voz.

— Daqui a... dez anos nós abrimos a caixa e confessamos se já fizemos ou não alguns dos NUNCA. — Ela continuou, com o queixo apontado na direção das amigas. — Eu sei que eu conseguirei. E vocês?

— Eu conseguirei! — Mimi levantou o punho, convicta. Liz continuou calada.

— Você não vai conseguir, Liz? — Clara perguntou, em tom de provocação. — Você é fraca?

— Não! Eu vou conseguir. — Ela disse, mas a dúvida era perceptível em sua voz.

Depois de prometerem não fazer nada do que havia ali, marcharam até o quintal da casa de Clara – como a chefe da missão, ela achou digno que o tesouro fosse escondido em sua casa –, cada uma com uma lanterna em mãos, e Clara com uma luz na cabeça, muito folgada para seu crânio, pois pertencia ao pai de Mimi, mas estava bom para ela que queria sempre se manter à frente. Como três mineiros escavando para encontrar um tesouro, elas faziam o contrário: cavavam o tesouro.

Depois de muito sujar os dedos sem unha — não acharam uma pá —, o buraco já estava do tamanho suficiente para caber a caixa de papelão toda revestida em papel de presente, cola e glitter que as meninas enfiaram debaixo da terra.

Pisaram na areia fofa até que não tivesse vestígios de que algo estava enterrado ali, e com a mão cheia de glitter, Mimi espalhou o brilho pela terra, certa de que aquilo marcaria o território.

— Mas os piratas colocam "X" na marcação. — Liz fez questão de apontar.

— Não temos como marcar um X. A canetinha não risca o chão. — Mimi argumentou, fazendo Clara revirar os olhos.

— Não precisamos de glitter, nem de canetinha. — Ela olhou de Mimi para Liz, depois para o pé de árvore plantado bem ao lado delas. — É só lembrarmos desta árvore aqui. — Ela bateu a mão no tronco duro e sorriu abertamente. — Essa será nossa marcação!


N.a: [1]Cidade fictícia onde se passará o livro.

~♥~

AAAA! Sejam bem-vindos de volta. 

Em 2015 eu comecei a escrever esse livro, mas parei porque a história não estava indo para onde eu queria. Em 2018 eu voltei, mas parei por causa de motivos maiores que me fizeram finalizar outras duas histórias antes. Eu deixei apenas em pausa, nunca quis abandonar Liz. E agora estou repostando os capítulos que já tínhamos, revisados e com pouquíssimas alterações, para começar a postar os novos capítulos. <3 Espero que gostem, e me mandem boas energias para finalizar tudo hahahah ♥

Liz e a Lista do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora