Estou espirrando água no rosto de Caio e sendo atacada por trás, por Mimi, enquanto Gustavo nada por baixo e ataca a perna de alguém, que grita. Vejo que é Lavínia, nos braços de John, e todos nós gritamos animados ao vê-la assustada, para que perceba que não é nada demais e fique feliz. Ela copia tudo o que fazemos, então logo levanta os braços acima da cabeça e balança as mãos, empolgada. No meio de toda essa cena, olho para a beira do rio e vejo Clarice sentada, abraçando as pernas junto ao peito, e o queixo apoiado nos joelhos. Ela não parece triste, está com o olhar sorridente. Mesmo assim, me desvencilho da guerra infantil que acontece na água e vou até ela.
— Olááá — cantarolo, enrolando-me numa toalha, sentindo de repente o frio do vento gelado envolvendo meu corpo.
— Olááá — ela imita meu tom, um pouco mais afinada que eu.
— Ei, você ainda é boa! — disparo. Ela revira os olhos. — Falando nisso, eu fui procurar seus vídeos no YouTube há uns meses, e não achei nenhum.
— Eu tirei todos, tá louca? Estão privados. Eu não quero que o mundo inteiro me veja cantando, com John do lado tocando violão, tentando acompanhar.
Solto uma gargalhada. Ela estende uma toalha na pedra ao seu lado e eu me sento.
— Eu adorava ver você cantando.
— Você pode ver ainda, só não vou tirar do privado. E obrigada, mesmo que eu saiba que não era nada boa nisso.
— Pfff — descarto o que ela fala com um abano de mão. — Mas, e aí, Clara? — Empurro-a com o ombro. Ela me empurra de volta.
— E aí, Liz? Como você tá?
— Ah, tudo bem comigo. Mas não quero falar de mim, por favor, minha cabeça já está o tempo inteiro "eu, eu, eu". Não aguento mais.
Ela ri, tremendo de leve os ombros. Está mais solta, já não abraça mais as próprias pernas. Ao seu lado há uma vasilha com frutas picadas, e eu a peço que me passe.
— Se a sua está assim, imagina a minha.
— Não — digo, entre um pedaço de abacaxi e outro. — A sua está "Laví, Laví, Laví" ou "John, John, John" — brinco, sorrindo. Ela sorri de volta, mas não fala nada. — Vou te fazer um desafio — digo, me animando mais do que o necessário.
— Ah, lá vem você com um de seus desafios. O que foi agora? Quem come mais sanduíche de frango em cinco minutos?
— Não! — Jogo a cabeça para trás. — E eu ganharia fácil nessa. Mas não é isso.
— O que é, então?
— Me diz o que você tem feito.
— Só isso?
— Mas tem uma coisa.
— Vai, fala. — Ela vira-se completamente para mim, as bochechas erguidas, curiosa sobre o que vou propor.
— Nada do que você disser pode envolver Lavínia, Jonathan, casamento, etecetera. Nada disso.
— Hum — Clara morde os lábios e franze o cenho, olhando além de mim. Ela fita a cachoeira por uns segundos, até que topa. – Certo, tem uma coisa! Eu comecei a assistir uma série nova na Netflix esses dias.
— Ah! — Bato uma palma, quase derrubando as frutas. — Qual?
— Workin' Moms. — Ela diz, e fecha os olhos, mas não totalmente. — Eu sei que envolve maternidade... mas é tão engraçada. Fala sobre mães que trabalham e têm que criar os bebês mesmo assim. E elas participam de um grupo de apoio... não sei, mas um grupo onde as mães vão com os bebês e trocam experiências.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Liz e a Lista do Nunca
Teen FictionTrês amigas, três listas e várias promessas quebradas. Assim começa a história de Liz, Mimi e Clarice, três amigas de infância que, numa noite de "festa do pijama" decidiram criar uma lista apontando coisas que NUNCA farão. Em suas cabeças de pré-a...