Capítulo 19

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Sempre que viajo para passar mais de uma semana em algum lugar, me embaralho toda com malas, bolsas e toda essa coisa de organização. Já não sei mais se tirei tudo do carro quando chegamos, ou se tirei tudo da mala e espalhei pelo quarto de hóspedes. Estou procurando uma mochila que trouxe – ou pelo menos eu tinha certeza que sim – há mais de uma hora, e não há vestígios dela por aí.

— Se for uma mochila rosa gold, estava com Mimi hoje mais cedo — diz Clara, ao entrar na sala e me ver vasculhando debaixo das almofadas do sofá. Não precisou nenhum questionamento, ela sabe o que eu quero.

— Não — apoio as mãos nos quadris e suspiro — essa é dela. A minha é uma quadriculada, vermelha e branca. Bem sem graça, mas tem um chaveiro felpudo prateado.

— Hum — Clara ergue as sobrancelhas e faz o máximo para parecer interessada. — Você deve ter esquecido em casa...

Me jogo sentada no sofá e resmungo.

— Estava tentando de tudo para não chegar à essa conclusão.

Alguém começa a descer as escadas enquanto Clara diz:

— Se eu tivesse uma, te emprestava.

— Uma o quê? — Marcus pergunta, e logo chega na sala saltando uns três degraus da escada direto para o piso.

— Uma mochila, para não ter que levar uma mala para a casa de praia. — Clarice responde de pronto.

— Ah, — ele se encosta no corrimão da escada — eu tenho uma. Umas três, na verdade.

— Ótimo — Clara demostra muito alívio com a solução de Marcus — pronto, Liz, agora você pode parar de encher o saco de todo mundo com essa mochila.

— Eu não estava enchendo o saco de todo mundo — aponto — Marcus nem sequer sabia que eu estava procurando uma mochila.

— Isso porque ele acordou agora.

— Podem parar de falar de mim na terceira pessoa, por favor? Eu tô bem aqui. — Marcus aponta as mãos para si.

— Ah, Marcus, não enche você também. A gente sai daqui uma hora, então, Liz, vai logo arrumar suas coisas.

— A gente sai às uma, né?

— Meio-dia, acabei de dizer.

— Mas você disse uma... — Marcus entra na minha brincadeira, com o cenho franzido, dando mais seriedade à frase.

— Sério? — Clara apoia uma mão fechada em punho no quadril. — Meio-dia. Daqui a uma hora, e não às uma...

— E nem um minuto a mais? — pergunto, prendendo o riso enquanto ando para perto de Marcus ao pé da escada.

— Nem um minuto a mais... — Clara olha para Marcus e eu, e percebe nossas expressões à beira de um ataque de riso. — Ah, fala sério! — Ela agarra a primeira coisa que vê e joga na nossa direção. Por sorte, é um brinquedo de borracha de Lavínia.

— Meio-dia, capitã! — Marcus bate continência enquanto eu corro para subir os degraus. — Estaremos aqui... — ele não termina de falar, pois uma almofada coberta de lantejoulas voa para cima dele, que corre atrás de mim, subindo de dois em dois degraus, rindo.

— Eu odeio vocês, saibam disso! — Clarice cantarola lá de baixo.

Marcus e eu chegamos no corredor de quartos rindo e um pouco esbaforidos. As pessoas pintam essa imagem de jovens ativos, mas quando a gente passa dos vinte anos sem pisar na academia, todos os ossos do corpo parecem se rebelar contra nós.

Liz e a Lista do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora