Estou ignorando qualquer responsabilidade adulta, qualquer indício de que devo voltar para a casa e arrumar minhas coisas, só para ficar mais um tempo no mar — que está calmo, mas a maré já começa a subir. A parte da areia é apenas uma faixa dourada, onde Jonathan está brincando com Lavínia e Caio foge do agito das ondas.
Descobri que ele não sabe nadar — ou melhor, como ele quis colocar: ele até sabe, mas com a segurança de que há o chão debaixo dos seus pés, o que não consegue sentir em mar aberto. Eu entendo, mas agora ainda estou matando a saudade da sensação inebriante que é estar cercada por natureza e me perder entre as ondas de vez em quando.
Sinto uma fisgada na minha perna, e por um momento me desespero, até lembrar que Marcus e Gustavo estão dentro do mar também. Não há mais ninguém na praia além de nós, o que me faz sentir como se estivesse numa ilha privada, onde a civilização ainda não chegou. A paisagem cercada de morro e árvores de um lado contribui para isso.
Mergulho a cabeça na água e jogo os braços para a frente, para saber quem dos dois segurou minha perna. Quando minha cabeça imerge na superfície, estou segurando um pulso. Reconheço a risada antes de abrir os olhos e me livrar do sal da água. É Marcus.
— Virou tubarão agora? — pergunto, tirando os cabelos do rosto.
— Só quando tem coisa boa na água — ele diz, ainda com um resquício de sorriso no rosto. Dou-lhe um tapa no braço e reviro os olhos, virando-me para o lado oposto.
— Ei — Marcus me chama, e eu viro apenas a cabeça para olhá-lo. — Tá a fim de fazer uma trilha amanhã cedo?
— Hum... — olho para a areia, onde Caio brinca com Lavínia, levantando-a sobre a cabeça. Jonathan parece ter dormido ali mesmo.
— Pode chamar... — Marcus aponta com a cabeça para onde eu estava olhando.
— Pode ser. Você conhece o lugar por aqui? — Volto a andar com dificuldade para fora da água, o mar pesando minha caminhada. Marcus me acompanha.
— Guga conhece. E mesmo assim, sempre tem um pessoal indo, a gente não vai se perder.
— E se...
— Não vai — ele espirra um pouco de água em mim. — Deixa de ser medrosa.
— Acho que eu tenho um pouco de razão em sentir medo dessa vez.
— Não tem. Você precisa deixar um pouco o medo de lado, Liz.
— O medo de me perder na mata? — pergunto, sorrindo.
— Não. — Marcus responde apenas, e só continua quando já chegamos na areia. — O medo de tudo.
Ele passa direto por Caio, o cumprimentando apenas com um aceno de cabeça, e sobe as escadas para a casa correndo.
— Tudo bem? — Caio me pergunta, enquanto ainda olho Marcus sumindo degraus acima.
— Tudo — respondo automaticamente. Meu coração está acelerado, e eu me convenço de que foi apenas por causa do esforço para caminhar com o peso da água e da areia nos pés, até aqui. — Vamos subir?
Caio coloca Lavínia nos ombros e eu acordo John, que estava já começando a roncar, com uma fralda de pano cobrindo os olhos. Seu melhor momento.
_____
A noite chega rápido demais, e o cansaço da viagem afeta todo mundo. A casa tem três quartos, e só um deles com cama de casal. Ficou decidido que esse, obviamente, está reservado para Clara e Jonathan. Os outros quartos foram motivos de disputa entre o restante de nós. Gustavo queria dividir meninas e meninos, com o apoio e entusiasmado de Marcus, mas Mimi achou sensato que eu dormisse num dos quartos com Caio.
— E você vai dormir com Gustavo em outro? — Marcus perguntou, levantando uma sobrancelha junto com todas as suspeitas.
— Não, eu não disse isso.
— Mas faz sentido... — Guga brincou.
— Não faz. Eu durmo na sala, não me importo. O sofá é confortável, e eu acho que tem um colchão inflável no carro.
— Você prefere dormir no colchão inflável do que no mesmo quarto que eu? Não é nem a mesma cama.
— Isso que é ter falta de confiança em si mesma, hein, Mimi? — Marcus apoia o irmão nas brincadeiras, e a única resposta de Miranda é revirar os olhos e cruzar os braços. Normalmente ela lutaria contra toda essa zoação, mas acho que até seu temperamento esquentado tem um limite de cansaço.
— Vai, Mimi. Dorme lá no quarto, eu fico aqui na sala. — Gustavo joga um travesseiro para Mimi. — Gosto de dormir com a tevê ligada, de qualquer forma.
O sorrisinho de Miranda demostra sua gratidão pelo gesto.
Porém, lembro que o quarto de Guga não tem televisão, lá na casa de Clara, mas não falo para ninguém. Caio joga o braço por cima dos meus ombros enquanto caminhamos para nosso quarto.
— Sério que ninguém percebe esses dois? — Caio comenta.
Abro um sorrisinho enquanto atravessamos a porta e me desvencilho de seu corpo, mas ele segura minha mão e me puxa para si novamente. A porta é fechada com o impacto do nosso corpo contra a madeira, e meu sorrisinho se expande rapidamente.
Caio fita minha boca por alguns segundos antes de beijá-la, umedecendo os lábios como se estivesse se preparando para algo extraordinário. Essa antecipação sempre me causa um friozinho no estômago que se vai quando seus lábios tocam os meus, saciando minha vontade. Ele sobe a mão lentamente por minhas costas até a nuca, e afasta nosso beijo.
— Hummm — resmungo, inevitavelmente.
— Finalmente um tempo sozinhos — ele diz, me fitando os olhos.
Abaixo o olhar, levemente desconfortável. Há algo sobre olhar nos olhos de uma pessoa que transmite muito mais do que apenas uma simples olhada. Segurar o olhar por muito tempo nunca é sobre algo simples.
— Acho que tive um pequeno infarto quando sugeriram dormir meninos e meninas separados — ele diz, levando uma mão ao peito.
— Para de graça — empurro seu corpo para trás.
— Tô falando sério.
— Não vai fazer muita diferença, já que são camas separadas — digo.
— Tem uma solução simples — ele se afasta de mim e se coloca ao lado de uma das camas. Com os joelhos flexionados, começa a empurrar o móvel para o lado. Dou um gritinho de surpresa e jogo a cabeça para trás, rindo.
— Simples, viu? Agora é uma cama só.
— Você sempre consegue o que quer, né?
Caio dá de ombros e vem até mim novamente.
— Às vezes... — diz, com a boca muito próxima da minha orelha. Não consigo evitar o arrepio que percorre minha nuca.
Ele percebe os efeitos que está tendo sobre mim, e adora cada um deles. Eu percebo isso, e espalmo a mão em seu peitoral.
— Espero que você goste de dormir de conchinha — sentencio —, porque é a única coisa que sou capaz de fazer essa noite. Tô morta de cansaço.
Caio joga a cabeça para trás e solta uma risadinha. Ele volta a me olhar com as sobrancelhas erguidas e uma pontinha da língua pra fora.
— Eu aceito isso.
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<3
oi môs amores. como cês estão? espero que estejam gostando dessa semi-reta-final <3 E aí, o que acham que vai acontecer com Liz e Caio? E Guga + Mimi, vai ou não vai? HUAIAH
beijos, amo vcs!
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Liz e a Lista do Nunca
Teen FictionTrês amigas, três listas e várias promessas quebradas. Assim começa a história de Liz, Mimi e Clarice, três amigas de infância que, numa noite de "festa do pijama" decidiram criar uma lista apontando coisas que NUNCA farão. Em suas cabeças de pré-a...