Capítulo 13

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Depois de sete anos morando na Capital, algumas lembranças de Valentina foram se apagando ou se fundindo com as lembranças que, na realidade, são de lá, da Capital. Uma das mais fortes é toda a calmaria de Valentina — depois de um tempo comecei a lembrar da cidade em que nasci como uma cidade com os mesmos sons que a cidade onde moro, mas é muito diferente.

Estou sentada em frente à casa de Clara, esperando todos para irmos ao centro da cidade apresentar à Lavínia a decoração de Natal na avenida principal de Valentina, e aparentemente comprar mais decorações — para o quintal — porque o que tínhamos não foi suficiente (conhecendo Clara, eu já esperava por isso); e, depois de vinte minutos aqui, olhando o movimento de crianças na rua e de poucos carros que passam lentamente em direção à saída, não posso deixar de perceber a diferença.

No apartamento em que moro na Capital, até uma tarde tranquila de domingo se transforma em festa com algo acontecendo na rua. Há alguma coisa para reparar, algum evento se desenrolando no clube da esquina, alguém dando PT no bar ao fim da rua. Em dias de comércio há carros e sons de engarrafamento, crianças agitadas esperando o ônibus no ponto bem abaixo da minha janela do quarto, e às sete horas da manhã, mesmo que eu queira dormir por mais trinta minutos, sou acordada com risadas de adolescentes com a capacidade de gritar e pular antes das dez da manhã.

O som de uma moto vem da direção do portão do condomínio e eu olho para ver quem chega, mas não precisava. É Gustavo, que estaciona a moto em frente à casa da irmã e vem se juntar a mim, sentada na calçada do outro lado da rua. Ele está com as bochechas rosadas, e olhando de perto, bronze nos ombros e nos braços.

— Estava surfando? — pergunto.

— Que nada, hoje não, mas queria — responde com um sorriso fácil. — Estava numa praia incrível que descobrimos esses dias... — diz, sem deixar claro quem faz parte do "descobrimos".

— Você sempre dá um jeito de descobrir novos mares — comento.

— Sim. Por mim, viveria para explorar novas praias. Você está acostumada com as praias da capital, né?

Assinto em silêncio.

— Pra mim, são todas iguais.

— Estão perto, então eu vou. — Dou de ombros.

— Nem sempre o que está mais perto é melhor. Essa praia que acabei de voltar se chama Praia do Mar Dourado, ou Praia da Areia Dourada, depende. As pessoas chamam dos dois jeitos. É escondida, precisa passar por uma trilha para chegar. Para mim, é o paraíso mais próximo.

— Por que não me leva lá? — Faço os ombros dançarem, tentando charminho.

Ele aponta para a moto estacionada.

— Ali, olha. É só subir, agarrar em mim, e a gente vai.

Deixo escapar uma risada gostosa.

— Para quantas garotas você já fez essa proposta?

Guga estala a língua.

— Mais do que posso pensar. Mas poucas aceitaram, então, estou com a agenda livre pra você.

Continuo rindo. O charme natural de Gustavo realmente o deve ter levado a atrair diversas pessoas. É como ele vive, sempre rodeado de pessoas encantadas com sua naturalidade.

— O que você estava fazendo aqui sozinha, pensando na morte da bezerra? — pergunta, depois de um tempo sem falarmos nada.

Sorrio, fitando a casa, enquanto Gustavo se curva para trás, apoiando as mãos abertas no chão.

Liz e a Lista do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora