Capítulo 31

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— Esse é pra você, Clara. — Tiro da sacola a embalagem do presente da minha amiga, e ela surge empolgada, batendo palminhas.

Me sinto a mamãe Noel, sentada no sofá, com Marcus ao meu lado, cada um com uma sacola de presentes, e meus amigos à minha frente, esperando ansiosos por seus pacotes. Alguns estão embrulhados, como o presente de Lavínia — que já entregamos, pois já passa da meia-noite e ela não pôde estar acordada a essa hora. A menina se empolgou tanto com a boneca que está dormindo abraçada a ela (a quem deu o nome de Liza, em minha homenagem... sim, eu quase chorei).

— Eu encontrei na sessão de papelaria do mercadinho — digo, enquanto Clarice rasga o embrulho que a moça do caixa gentilmente preparou.

— Tinha de tudo lá, por incrível que pareça.

— Quase tudo — conserto.

Marcus dá de ombros.

Clara finalmente abre. É um planner para o próximo ano. E na capa está escrito "I'm not bossy. I'm the boss"*

— Eu não encontrei nada mais a sua cara do que essa frase.

— Você deveria tatuar — opina Mimi, folheando o planner.

— Pra você, Mimi, toma — tiro seu presente da sacola. Não está embrulhado, então ela logo vê. Não se empolga no começo, mas solta uma gargalhada ao perceber o porquê.

É uma case de telefone, e atrás está escrito "influencer" em glitter cor-de-rosa.

— Ah, puxa — Jonathan diz, de repente, agachado à minha frente. — Eu tinha visto isso aí dentro, achei que fosse pra mim.

Empurro-o para trás, e ele cai por cima de Clara, rindo.

§§§§§

A missão Mamãe Noel acabou de madrugada, depois de algumas garrafas de cervejas, com bagunça na sala e felicidade fácil. Tentei ao máximo prolongar a noite, me sentindo como não sentia em muito tempo, com o coração livre de qualquer aperto e a cabeça leve, ao redor das pessoas que eu mais adoro vivendo atualmente no mundo.

Essa sensação passou um pouco quando abri a porta do quarto e me deparei com as camas juntas, como uma só, o lençol um pouco bagunçado e o cheiro de Caio no ar. O quarto ficou fechado o dia inteiro, depois que ele foi embora, então é como se tivesse preservado essa essência.

Arrasto as camas devagar, fazendo o mínimo de barulho possível, e as arrumo como estavam originalmente, separadas, bem longe uma da outra. Eu colocaria a outra cama de pé, mas seria muito dramático.

Ouço três batidas na porta, e olho para trás, já encontrando Marcus com a cabeça para dentro.

— Tá tudo bem aí? Achei que tivesse derrubando a casa.

Aponto para as camas, deixando que ele junte as peças.

— Ah. — Marcus assente. — Certo. Entendi. Volto outra hora ou...?

— Não, — bufo e jogo os cabelos para trás. A franja está crescendo, e os fiapos loiros batendo em meus olhos só me fazem lembrar constantemente o erro que cometi ao pintar os cabelos... enfim — pode ficar. O que foi? Quer trocar de quarto? Eu posso dormir com Mimi e você dorme aqui com Gustavo, pra o coitado não ficar na sala. Ou ele pode vir... — olho para a cama vazia. — É, ele pode vir. O que acha?

— Seria mais lógico ele dormir no quarto de Mimi e eu aqui, né?

— Seria... mas aqui ninguém trabalha com lógica.

Liz e a Lista do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora