Um dos vários motivos pelos quais amo Valentina: chocolate.
A cidade é conhecida por ter uma fábrica de biscoitos de chocolate logo em sua entrada. Atravessando o arco de bem-vindo está a fábrica, que nos recebe na cidade com um cheirinho de chocolate enfeitiçando nossos olfatos.
E, para melhorar: o Festival do Chocolate, que acontece nos dois primeiros finais de semana do mês de dezembro, no pátio da antiga fábrica, a primeira fundada em Valentina, em 1922.
— Meu Deus, como eu sinto falta disso! — deliro, saindo do carro no estacionamento do Festival. É o domingo do segundo final de semana, no começo do dia. Alguns expositores estão chegando, e eu estou no paraíso. — Eu deveria ter voltado aqui todo ano só para isso.
— Tá bom, Liz, não precisa deixar assim tão claro que chocolate é mais importante pra você do que nós! — Clara exclama, apontando a cabeça para o grupo: John, Mimi e Lavínia.
Para minha defesa, Lavi parece tão empolgada quanto eu. Se eu tivesse um ano, também estaria; há Minions gigantes gritando "banana" numa barraquinha mais à nossa frente, onde estão vendendo banana Split com sorvete de chocolate e raspas de chocolate branco—e Lavínia é fascinada pelos bonecos amarelos falantes de sua própria língua e com o senso de moda extraordinário. Acho que eles têm muito em comum, de fato.
— Não é isso, é só que... olha toda essa maravilha.
Clara não se convence e continua revirando os olhos. John coloca Lavínia sobre os ombros novamente e saímos andando na direção em que a maioria das pessoas parece ir, seguindo o fluxo.
Hoje é o primeiro dia do festival, então está lotado. As comemorações de Natal só começam em Valentina após toda a cidade se empanturrar de chocolate, e eu estou mais do que empolgada de estar aqui. Nunca escondi meu amor por doces, e, quando criança, fazia questão de estar no Festival muito mais do que ver a chegada do Papai Noel na cidade, por exemplo.
E também é uma garantia de que iremos encontrar vários conhecidos. A primeira pessoa que vejo, estreito o olhar e me lembro, é Letícia, uma das amigas do curso de italiano de Clara. Ao seu lado há um rapaz quase idêntico a ela, e só então lembro que Letícia tinha um irmão gêmeo, Leandro, mas que eu não conhecia pessoalmente. Sorrio, acenando para ele, que parece abraçar a timidez e fita os próprios pés, embora esteja sorrindo de volta.
Como se uma espécie de alarme soasse quando eu olho para outra pessoa do sexo masculino, Miranda pergunta para mim por que Marcus não está aqui com a gente.
— Não sei — respondo a verdade, e dou de ombros.
— Eu ouvi ele dizendo que viria, esses dias. Sexta-feira.
— Não falei com ele ontem, então não sei — insisto.
— Vocês estavam tão próximos... — Mimi joga assim para mim, e eu a olho de soslaio. Ela está me encarando com mil e uma pergunta nos olhos.
Lembro de Marcus dizendo que o que ele e Mimi tiveram foi insignificante, coisa de adolescentes, e que nada teria acontecido se ele soubesse sobre meus sentimentos. Me pergunto se com Miranda é a mesma coisa; se ela nunca sequer desconfiou que eu gostava dele.
— O que foi, Mimi?
— Nada! — Ela exagera na defensiva. — Você que me diz, o que foi?
Mesmo por debaixo dos óculos de sol, consigo ver que Mimi espera que eu lhe conte algo. Algo. Ela levanta as sobrancelhas além das hastes dos óculos, e eu olho para o céu, balançando a cabeça minimamente de um lado para o outro.
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Liz e a Lista do Nunca
Novela JuvenilTrês amigas, três listas e várias promessas quebradas. Assim começa a história de Liz, Mimi e Clarice, três amigas de infância que, numa noite de "festa do pijama" decidiram criar uma lista apontando coisas que NUNCA farão. Em suas cabeças de pré-a...