Capítulo 4

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Eu amo romances clichês. Meu tipo de filme favorito são as comédias românticas clássicas, onde, no final, a gente está apaixonada junto com os personagens principais, suspirando de amores e acreditando nesse fenômeno como nunca antes. Eu adoro assistir a isso tudo acontecendo na tela, mas, passar por isso... não exatamente. Não há nada mais angustiante do que sentir na pele o momento em que a comédia romântica começa a acontecer. Esse momento que todo mundo conhece, onde um dos personagens começa a se apaixonar, e poderiam aparecer, na tela, seus batimentos cardíacos desenfreados.

Meu gráfico de batimentos agora estaria ocupando a tela inteira.

Acabei não fazendo nada para jantar, e comemos o que sobrou do almoço. Não estava com estruturas. O cansaço da viagem também ajudou para que eu me sentisse fora de órbita, então inventei essa desculpa e vim parar no quarto, deitada na cama às oito da noite.

Fitando o teto, as mãos apoiadas sobre o estômago, minha cabeça gira, gira, gira. Imagino meus pensamentos como planetas girando, cada um isolado, em torno do sol – minha mente. Penso em Marcus—quem mais? Mas penso em Mimi também. E o pior: em Marcus e Mimi; a festa de quinze anos de Miranda. E em Marcus e eu; minha festa de despedida de Valentina.

Na festa onde Marcus e eu nos beijamos – não apenas chegamos perto, mas nos beijamos, e no fim da noite, fizemos muito mais que isso. Só para no outro dia eu ter eu ir embora.

Essa lembrança faz, involuntariamente, uma lágrima escorrer pelo cantinho do olho e molhar o travesseiro. Limpo, com a costa da mão, e dou uma fungada. Agora, meu gráfico de batimentos cardíacos daria lugar a um coraçãozinho quebrado no canto da tela. Esse é só o primeiro dia que estou aqui, e minhas emoções entraram numa montanha-russa e estão relutantes a sair.

E eu sinto que esse é só o primeiro passeio no parque de diversões sentimental com as atrações principais Liz e Marcus. Espero que o coração sobreviva inteiro à essa aventura.

_____

— O que você vai precisar?

— Depende. Você quer donuts ou bolo quadriculado?

A expressão de Clara não podia ser mais confusa.

— Sei lá. O que você preferir, pra mim dá no mesmo, Liz. Bolo redondo, quadrado...

Deixo escapar uma gargalhada.

Quadriculado. Ou pode ser massa folhada... — falo baixo, mais para mim mesmo.

— É, pode ser — ela abana a mão no ar, já desviando a atenção para outra seção do supermercado. — Eu não cozinho, não sei esse tipo de coisa. Fica para você mesmo.

— Você deveria tentar, é tão fácil.

— Você sempre tentou me fazer cozinhar, lembra? E o único bolo que fizemos juntas acabou queimado porque eu não ajustei a temperatura do forno.

Senti a risada na garganta enquanto Clara ainda estava na metade da frase, e acabei soltando uma risada roncada ao fim.

— Eu enlouqueceria se não cozinhasse — brinco.

— Aposto que sim — Clara reforça minha afirmação e eu a olho de soslaio, puxando um sorrisinho.

E eu acho que é verdade mesmo. Eu poderia enlouquecer se não fizesse o que faço, o que amo fazer.

Estou trabalhando há um ano na empresa Bake Cake, e todo dia é um novo dia na cozinha. Não há receitas iguais, mesmo usando técnicas idênticas. Não há confeiteiro perfeito, não existe esse tipo de coisa. Desde sempre estou na cozinha, e há apenas cinco meses consegui aperfeiçoar a massa folhada. Não existia nada mais tenebroso para mim, que sempre dava um jeito de errar o ponto da massa e estragar o preparo. Agora que consegui, não perco uma oportunidade. Acabo decidindo levar ingredientes para a massa também, mesmo que não vá prepara-la hoje.

Liz e a Lista do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora