Nos filmes de comédia romântica, sempre que um casal tem um bebê e a mulher decide sair de casa uma noite, antes de atravessar a porta ela precisa passa mil e uma instruções para o marido; como se o homem não fosse capaz de saber lidar com uma criança—pior, com seu próprio filho. Ainda mais tenebroso: o personagem masculino realmente se mostra mais inútil que uma amoeba, e, no final, a casa está um desastre, o bebê está sujo e o pai com a maior cara de derrotado. É uma dessas coisas irritantes nas comédias românticas, mas que estão lá e provavelmente estarão para sempre.
Quando Clara desce as escadas, pronta para sair, seguida por Mimi e eu, não precisa entregar um livro de instruções para Jonathan. Ele está deitado no sofá com Lavínia sentada em seu estômago, brincando com bloquinhos de madeira, e ele interage com ela enquanto assiste à tevê.
— John, já estamos indo, tá? — Ela se curva até ele e lhe dá um beijo estalado, depois segue para Lavínia, que não parece muito abalada.
— Divirta-se. Qualquer coisa me liga. A gente corre pra te buscar — diz Jonathan, segurando a mão de Clarice.
Eles realmente são meu modelo de casal perfeito. Aquela referência que tenho sempre que penso em desistir dessa história toda de romance e me jogar numa piscina de chocolate branco.
Desligo o alarme do carro e nós seguimos até ele, já estacionado em frente à casa. Clarice corre em passinhos pequenos, atravessando para o lado do motorista, e pede para dirigir.
— Não! — Mimi e eu dizemos em uníssono.
Clarice murcha.
— Eu tirei a carteira.
— Há um mês. Depois de três tentativas.
— Então, quer dizer que já estou boa nisso — ela justifica, mas já está voltando de mansinho para abrir a porta do passageiro.
— Hã, depois você tenta. Em outro carro, de preferência, não o meu. Ainda tô pagando — digo.
— Isso me lembra uma coisa! — Miranda se ajeita exatamente no meio do banco de trás, para assim poder enfiar a cabeça entre Clara e eu quando quiser, e tagarelar nos nossos ouvidos. — Liz, você não morria de medo de dirigir?
— Ahhh — ligo o motor e dou partida. Gustavo está chegando agora na casa, consigo vê-lo pelo retrovisor, e ele acena para mim. — Eu tinha, mas, sei lá. Simplesmente perdi o medo.
— Isso me lembra outra coisa — Clarice adiciona. — As listas!
— Eu não vi a sua, Liz. Você me mostrou? Não lembro.
— Mostrei — minto, já sabendo que Clara irá me dedurar.
— Mentirosa! — Ela se vira para trás e fala diretamente com Mimi: — Ela está fazendo segredo. Tem alguma coisa macabra ali.
— Uhum. Várias confissões de assassinato e coisas desse tipo — brinco, enquanto atravessamos com o carro pelo portão do condomínio.
A noite está fria e o céu promete chuva. Por enquanto, apenas o vento cortante invade o carro.
Nunca tive a oportunidade de dirigir por Valentina com a liberdade que estou tendo agora. Sempre saíamos a pé ou com outra pessoa conduzindo. Sinto como se a cidade pertencesse a mim, como eu sentia quando ainda morava aqui.
— O que tinha na sua lista, Mimi? — Quero saber.
— Nunca abandonar minhas amigas, e coisas desse tipo. Sei lá, eu não fui muito a favor dessa ideia, quando fizemos as listas. Devem ter só umas três coisas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Liz e a Lista do Nunca
Teen FictionTrês amigas, três listas e várias promessas quebradas. Assim começa a história de Liz, Mimi e Clarice, três amigas de infância que, numa noite de "festa do pijama" decidiram criar uma lista apontando coisas que NUNCA farão. Em suas cabeças de pré-a...