— Liz! Você tá aí? — A voz de Gustavo vem da sala, e eu me apresso até o corredor para lhe pedir que fique quieto.
— Tô aqui — falo quase por sinais.
— O que foi?! — Ele olha para os lados, suspeito.
A casa está em silêncio, mesmo já passando das dez da manhã e com uma criança menor de três anos entre os moradores.
Clarice adormeceu no sofá, ontem, após Crossroads — Amigas Para Sempre acabar. Começamos a caçar outro filme ruim para assistir e achamos Vampiros do Deserto, mas ela não aguentou chegar até a metade.
— Pedi para John trazer Lavínia para baixo assim que ela acordasse, e Clara continuou dormindo. Até agora... isso aconteceu de umas sete horas da manhã.
— Uau. Acho que uma criaturazinha dessas aqui deixa qualquer um cansado mesmo — ele diz, acariciando os cachos castanhos de Lavi.
— Eu tenho certeza que dá — Mimi comenta, levantando os olhos do notebook por dois segundos.
Gustavo arrasta uma cadeira sem fazer barulho e se senta ao lado de Miranda.
— O que você tá fazendo?
— Guga, você entrou me procurando — corto, genuinamente curiosa. — O que foi?
— Ah! — Ele pula na cadeira, de repente. — Eu consegui uma casa pra a gente passar o natal — diz, e vira-se para Mimi de novo. — Foi você quem desenhou isso aí? — Gustavo aponta para a tela.
Estalo os dedos em frente ao rosto dele.
— Gustavo! Desenvolve a ideia, por favor.
— Uma casa na praia — ele finalmente me dá atenção, quando Miranda vira o notebook na direção contrária. Gustavo suspira em frustração, mas começa a se empolgar com o que tem para me dizer: — Na praia da Areia Dourada, lembra que te falei?
— É sério?! — É Mimi quem pergunta. — Eu já vi fotos dessa praia, é linda. — Ela bate palminhas. — Quando vamos?
— Sexta ou sábado, vocês quem sabem. Aí, Liz, você pode ir na minha garupa — ele dá uma piscadela na minha direção.
— Gustavo, pelo amor de Deus — Mimi revira os olhos após vê-lo jogando conversa fiada para cima de mim, de repente esquecendo toda a empolgação visível um segundo atrás. — Você deveria parar de ser assim.
— Ih, tá com ciúmes, Miranda? Você nunca foi de ter ciúmes — ele joga o ombro pro lado dela. — O que foi agora?
— Não é ciúmes, idiota. — As palavras de Mimi têm o dom de serem duras, mas soarem como elogios. — É só um conselho.
— Pra eu deixar de ser... eu?
— Isso é impossível, primeiramente. Você é muito — ela mexe as mãos no ar, formando linhas confusas — muito. Não tem como voltar atrás, eu acho.
— Então o que você quer dizer?
Mimi dá de ombros.
Eu estou só observando os dois. Viro minha torrada na grelha e espero o outro lado dourar, de braços cruzados enquanto olho de Mimi para Guga, querendo saber onde essa conversa vai dar.
(Lavínia, no entanto, sentada na cadeirinha acoplada à mesa, concentrada num livro de figuras coloridas, não está nem aí para a conversa dos dois.)
— Tô dizendo que não é só porque você é homem que é bonito sair por aí dando em cima de todo mundo. É desesperado, não é engraçado.
— Ai! — Ele leva a mão ao peito.
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Liz e a Lista do Nunca
Teen FictionTrês amigas, três listas e várias promessas quebradas. Assim começa a história de Liz, Mimi e Clarice, três amigas de infância que, numa noite de "festa do pijama" decidiram criar uma lista apontando coisas que NUNCA farão. Em suas cabeças de pré-a...