Capítulo 26

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"Dizem que o tempo cura todas as feridas, mais quanto maior é a perda mais profundo é o corte. E mais difícil é o processo pra ficar inteiro novamente.

-Klaus Mikaelson"

Depois de duas horas de choro eu voltei pra casa. A casa que era nossa.
Jett veio ao meio encontro, e ele olhava meio diferente pra mim. Tanto ele como eu, estavamos sentindo falta de uma presença feminina.
Ele sabia que não a veria.
Me abaixei perto dele e fiz carinho em sua cabeça, ele se deitou no chão de cabeça baixa, como se estivesse de luto, assim como todos nós.
- Oi Jett.
Ele permanecia de cabeça baixa enquanto eu falava.
- Eu sei garoto, eu também vou sentir falta dela, todos vamos.
Eu já não aguentava mais chorar, mas era inevitável. Sempre choraria. tocando nesse assunto.
- Eu a amava, assim como você.
Eu falava com ele, como se ele fosse capaz de me ouvir. E no fundo eu acreditava que sim.
Eu precisava acreditar. Ele era o único que me restava agora. Eu sei que ainda tenho minha família em Londres, mas eu não sentia a mínima vontade de ir voltar pra lá.
Minha mãe certamente continuava focada em sua loja. Desde que vim pra cá ela se dedicou somente a aqueles vestidos ridículos.
Meu pai, é meu pai. Não ha o que dizer sobre ele.
Depois de uma conversa com o Jett entrei num banho quente, na esperança de que eu acordasse e aquilo não passasse de um pesadelo. Mas tudo que acontecia era sentir meu corpo aquecido pela água.
Parecia ser a única coisa que eu sentia, ou iria sentir a partir de agora.
Eu não via minha vida sem ela. Parece que desde o avião minha vida estava fadada a ser junto a dela. Eu não queria ficar sem ela, isso era um fato. Mas no banho eu consegui pensar com clareza. O que eu faria a partir de agora? Iria seguir em frente como ela pediu? Ou iria realmente me afundar em bebidas e lágrimas?
Qualquer coisa que eu fizesse eu não iria suportar de verdade a perda.
Depois do longo banho, e depois de ter me ligado de que não era um pesadelo, sai do banho e me sequei vestindo uma calça de moletom em seguida.
Me joguei na cama, na esperança de que o sono viesse, mas tudo que veio foi o cheiro da Lisa. O seu perfume estava nos lençóis.
Eu abracei o travesseiro afundando o meu rosto, sentindo seu cheiro. Como vou sentir saudades dele.
Quando levantei um pouco o rosto, vi seu travesseiro molhado. Eu já estava em prantos novamente. E seria assim nos próximos dias, semanas e meses. O tempo não iria curar a ferida que sua morte me causara, e não apagaria meu amor por ela.

Depois de uma noite longa noite acordado, me levantei as 13h para me arrumar para estar lá as 15h. Estava na hora de eu dar adeus ao amor da minha vida.
Eu não estava pronto. Nunca estive. A ideia de dizer adeus a alguém me assombrava, ainda mais quando era a alguém que eu amava. Saber que jamais iria ver alguém, me fazia focar nas lembranças que eu manteria dela.
Desde que me conheço por gente, não me lembro das muitas vezes que fui à um enterro. Sempre evitei. Mas não o dela. Eu precisava ir. Precisava a ver, pela última vez. Mesma que eu quisesse manter a lembrança dela viva e sorridente. Manter como ela estava até o pedido.

Ian queria passar na minha casa para me levar, mas eu queria ir no meu carro. O carro que era meu e dela.
Quando cheguei ao seu velório, ela estava vestida com um vestido que havia comprado uma semana atrás, para podermos viajar para o litoral. Ele lhe caia tão bem, mas ao mesmo tempo, eu detestava que ela estava vestida com ele.
Meu olhar percorreu todo seu corpo. Reparei em todos os detalhes, até mesmo na maquiagem que fizeram. Mas nenhum desses detalhes ajudavam a diminuir a dor. O fato dela estar bonita, não amenizava o fato de que seria a última vez que a veríamos.
Assim que meu olhar encontrou sua mão, eu vi seu anel de noivado, e automaticamente olhei a minha, onde minha aliança estava. Eu não a tiraria. Assim como a dela também não iria ser retirada.

O cemitério estava com vários carros estacionados. A maioria de pessoas da empresa que simpatizaram com ela.
Havia algumas cadeiras perto de onde ela seria enterrada, e um púlpito a frente para prestarem suas homenagens a ela.
Eu me sentei em uma das últimas cadeiras. Eu não queria ser alvo de olhares de misericórdia, assim como a família dela. Eles estavam na primeira fila porém. Eu estava sozinho. A mãe dela chorava desolada, seu pai a tentava consolar, e Chris, apenas olhava pro caixão perplexo.
Depois do padre falar suas palavras na tentativa de conforto aos que ficaram, começaram as homenagens. Ian falou o quanto sentiria falta de sua melhor amiga, Ingrid disse que ela foi a grande salvadora de seu casamento, mas que aquela data a marcaria pra sempre, sua mãe não conseguia falar, seu pai também não, pois seu tempo era marcado para consolar a mãe, Chris falou como sua irmã mais nova o provocava constantemente, mas que ele sentiria falta da Doce Eli, até mesmo o Sebastian falou. Suas palavras, assim como a de todos naquela tarde, pareciam ser levadas pelo vento pra mim. Não entravam em minha mente.
Infelizmente chegou a minha vez de falar. Eu não havia me dado a honra de escrever um discurso fúnebre pra ela. E nem queria. Mas sentia que naquele momento, eu que havia passado as últimas horas com ela, precisava falar algo para seus pais, que estavam a tanto tempo longe.
- Eu não sei como falar... Nunca soube na verdade... - Eu estava realmente nervoso. Eu sempre evitava falar em funerais. - Mas tem algo que eu sei, eu a amava. E ainda a amo. Porque pra mim não importa a quantos quilômetros, anos, ou mundos estamos distantes, meu coração sempre pertencerá a ela. - Eu olhei sua mãe que estava com um lenço limpando suas lágrimas. - Lisa amava sua família, e eu agradeço vocês, senhor e senhora Gerard, por me darem alguns meses de felicidade, e eu prometo a vocês que não será em vão... - Rio fraco lembrando da promessa que fiz a ela. - Ela... Ela fez eu prometer que não me afundaria nas bebidas assim que ela se fosse, e eu prometi. Ela é tão única que ela já se preocupava comigo antes mesmo de algo acontecer. - Olhei pro Sebastian que estava Olhando suas maos. - Todos nós sofremos uma grande perda nessa noite, mas o céu ganhará uma estrela a mais pra brilhar nesse céu escuro. Se ela conseguiu fazer meu coração escuro e gélido, brilhar e se aquecer, então ela iluminará nossa noite, e nos guiará por nossa vida. - Eu já não aguentava mais os olhares de todos em cima de mim. Andei de volta pra minha cadeira, eu realmente não aguentava mais aquele clima.
Quando o padre voltou para terminar a cerimônia, eu me levantei, e coloquei de volta meus óculos escuros e minhas mãos no bolso da calça, e simplesmente sai andando. Eu não aguentava mais o cheiro de flores. Até porque, era o que ela mais gostava de receber, mas acho que nesse momento, eu não queria dar uma pétala sequer a alguém.

Uma Metade PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora