A Organização

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-  ... e por fim, uma salva de palmas aos nossos homens de campo que cumpriram com maestria a execução de seus alvos: PC e JP!

A sala de conferências ovacionou os dois. Ambos agradeceram acenando positivamente com suas cabeças, sem muito alarde. Assim que as palmas cessaram, o líder Z falou ao microfone:

- E agora, encerramos os trabalhos por hoje. Amanhã será um novo dia, com mais trabalho de execução, desta vez com os homens de campo TJ e OP. E que como hoje, tenhamos ótimos resultados. EEPR!

- EEPR! - foi o que o coro de pessoas na sala falou, em uníssono. Ao se levantarem de seus assentos, os membros do esquadrão iam deixando o local, e conversando uns com os outros. Era inegável a alegria pelo início bem-sucedido das missões a que o grupo se prontificara a fazer. JP havia sido o responsável pela bomba plantada no carro do senador Saldanha, PC pelo assassinato do senador José Hilário. Dos dois atentados, apenas no caso de Saldanha, as mortes foram de seus subalternos, e não do próprio - tudo porque o maldito senador não havia ido sequer um dia da semana para o seu trabalho. Segundo pesquisado anteriormente pelo grupo, quarta-feira era o dia que o senador mais comparecia ao senado. Infelizmente, não no dia do atentado. O que isentava JP de qualquer culpa, idem para a célula envolvida no atentado em questão.

Sim, havia uma bela organização por trás de tudo isso: simétrica, intersecional, detalhista. Mas, tratava-se de um grupo pequeno de pessoas. Não mais que cinquenta, ao todo. E assim eles estavam divididos, tanto os homens quanto as mulheres-membros: havia o time de campo, que era o responsável direto pela execução dos planos do EEPR, onde seus membros tinham como codinome duas letras como identificação. Havia o time de analistas, nada além de estrategistas que botavam o plano no papel e dissertavam sobre a viabilidade ou não de sua execução (com a presença e a ajuda do time de campo, na maioria das vezes); estes tinham como pseudônimo as letras do alfabeto grego. E por fim, havia o time técnico, que cuidava do monitoramento por câmeras, a parte de informática, escutas telefônicas, etc... Estes eram chamados por números, sempre de dois dígitos, como zero-dois, quatro-quatro, e assim por diante. Para o infortúnio de algum membro ser baleado, ou até mesmo passar mal nas dependências, dois médicos estavam de plantão dia e noite, numa salinha própria, com macas, remédios, anestésicos...

E, como não poderia deixar de ser, havia os líderes. Dois: líder Z e líder Y. Eles eram os mentores por trás do EEPR. O cérebro, o porquê de todos estarem ali. Se consideravam apenas uma parte do time perante todos, e obviamente que eram, porém desde o início do EEPR, até o dia em que decidissem pela dissolução do grupo, tudo ali acontecia por causa deles, Z e Y. Era deles todo o dinheiro envolvido na formação e manutenção do EEPR. O próprio QG, onde todos os membros viviam como moradores, e todo o demais (aparelhos, carros, armas, alimentos) vinha através de fundos disponibilizados pelos líderes. Eles haviam elaborado o estatuto do grupo, e, uma vez dentro, os membros dos times, fossem de campo, de analistas ou técnico, todos tinham de seguir o estatuto sem questionar nada. Assim era, assim deveria ser.

Mas, os líderes sabiam que para manter um time concentrado, deveria haver uma pausa, um tipo de descontração para suas cabeças. Dentro do QG, que ocupava um quarteirão inteiro, os líderes mantinham à sua frente uma pequena empresa, só de fachada; tudo o que ficava para trás era propriedade privada. E nessa propriedade, os membros tinham uma ampla sala de jogos, com mesas de sinuca, tênis de mesa, dardos, e até mesinhas para um carteado. Havia uma piscina, que poderia ser usada em horas de folga também. Uma sala de musculação, com aparelhos novinhos em folha. Cada um dispunha de um quarto individual para si; pequeno, mas confortável. Com acesso à internet - monitorado pelo time técnico - além de TV, com um número limitado de canais a cabo (previamente escolhidos a dedo pelos líderes). Um pequeno frigobar trazia água, sucos e isotônicos para o conforto de cada membro. Bebidas alcoólicas, assim como entorpecentes de qualquer natureza, eram expressamente proibidos pelo estatuto.

As rotinas diárias envolviam manhãs e tardes focadas em cima dos ataques. Cada célula criada tinha o propósito de estudar o seu ataque, entre os devidos membros que a compunham. Era normal uma interação entre as células, especialmente quando os analistas pediam o parecer dos demais integrantes a respeito de um dado ataque. Havia também treinamento de alvo, numa sala de tiro criada especialmente para esta prática. Ali, não apenas os homens de campo, mas todos os demais membros praticavam tiro, apenas para que todos se mantivessem bem preparados para o caso de uma possível invasão do local. E, para manter o ambiente limpo e organizado, o líder Y tinha, entre muitas outras coisas, uma empresa de serviços de limpeza de propriedade sua, que ele dispunha para que fosse feita a faxina dos quartos, corredores e cozinha do local. Os faxineiros que vinham limpar não viam absolutamente nenhum membro dos times; acreditavam eles, se tratar de um spa particular para ex-dependentes químicos.

A questão da identidade de cada membro ser um segredo era outro item do estatuto. Ninguém poderia saber o nome verdadeiro de ninguém. PC vinha tão acostumado com a alcunha, que por vezes parecia esquecer seu próprio nome de batismo. Ao chegar na porta de seu quarto, PC se despediu de OP, que vinha logo do seu lado:

- Boa sorte na missão de campo amanhã, OP. Tente dormir bem...

- Obrigado, PC. Escuta: você por um acaso dormiu ontem?

- Dormia e acordava. Mas dormi um pouco, sim...

- Cara... você foi demais hoje. Parabéns de novo, meu companheiro de campo!

- Valeu OP. Força pra você, meu irmão. EEPR!

- EEPR! Até!

PC entrou em seu quarto mais leve, achando que iria dormir em questão de segundos. Mas não foi bem o que aconteceu. Primeiro ele ligou a TV, e tentou se concentrar numa reprise de MMA que passava na TV. O sono não veio. Aí, ligou o seu laptop para ler um pouco a respeito do feito de um pouco mais cedo. Lendo sozinho, PC ria de algumas bobagens que a imprensa escrevera a respeito do assassinato do senador. "Não sabem de nada", pensava ele. Aí PC fez algo que há dias não vinha mais fazendo: em seu laptop, ele tinha acesso à tela do computador de sua antiga casa. Algo que ele havia feito pouco antes de se juntar ao Esquadrão. Até àquele momento, PC nunca havia sido comunicado de nada pelo time técnico a respeito disso - afinal, eles sabiam o que PC via na tela de seu laptop. "Desde que não interfira em meu trabalho aqui, acho que eles nunca me dirão nada a respeito disso", era o que PC imaginava.

Mas, verdade era que PC via o sinal de computador ligado e ficava curioso para saber o que sua mulher vinha olhando na rede. Ele sabia que nenhuma mulher era de ferro. Também sabia que nada poderia ele fazer para impedir que sua ex-companheira tivesse relações com outros homens. O único fio de esperança para PC era de que os resultados surtissem o efeito que os líderes almejavam; com isso poderia ser declarada a dissolução do esquadrão (conforme constava no estatuto), e cada um iria embora dali para o seu lado. Neste dia, com sorte, PC poderia quem sabe, bater na porta de sua antiga casa e pedir para voltar à única mulher que ele realmente havia amado em sua vida...

PC acompanhou o bate-papo que acontecia entre sua ex-mulher e um outro homem. Papinho de cá, conversinha de lá... e ao final ela deu um corte no tal pretendente, deixando-o a ver navios. PC, deitado em sua cama com o laptop sobre as pernas, deu um soquinho pro ar como quem comemorasse um gol na hora em que viu o fora dado por Susana. E aí lembrou com saudosismo de quantas e quantas vezes eles haviam feito amor... De como ela o chamava, bem pertinho de seu ouvido: "Beto...amor". Sim, Susana adorava chama-lo de Beto!

Nesses pequenos momentos, PC dava lugar à Roberto novamente. Lembrava-se de como era bom ter uma mulher como Susana. Olhando para a tela, ele começou a piscar os olhos em sinal de sono. Desligou o laptop, e fez suas preces antes de dormir, agradecendo primeiramente por estar com vida. Depois, agradeceu também pelo sucesso do time de campo e orou para que em breve, todos os objetivos do EEPR fossem alcançados e que ele, Roberto, voltasse a ser um homem de uma só identidade novamente.


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