O Aeroporto

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- Para quantos dias a senhora pretende ficar fora?

- Ahmm... Por...

- Uma semana. Pode marcar uma semana. Já vou deixar pago. Quanto é? - Roberto apressou-se em acertar o aluguel da garagem, enquanto Susana apenas observava tudo, de braços cruzados. Sua cara era de poucos amigos - o que causava uma impressão de que "aquele casal não estava numa boa". Definitivamente, não.

- Estaremos mandando outra pessoa buscar o carro. Sem problemas?

- Seria bom deixar o nome dela para mim... - ao olhar para Susana e Roberto e não ter uma resposta, o atendente completou:

- ... vocês podem também me enviar por e-mail o nome da pessoa. Quer dizer, se eu estiver aqui, não tem problema. É que normalmente não fazemos esse tipo...

- OK, amigo. Estamos com pressa. Podemos ir?

- Sim, só assinar aqui e tudo certo. - Roberto passou o papel e a caneta para as mãos de Susana, que só o olhou, mordendo os lábios de raiva. Contrariada, assinou e documento e deu às costas à garagem de veículos. Apenas disse a Roberto:

- Faça algo de útil e leve minha mala.

Com um silêncio constrangedor, ambos entraram no aeroporto. Roberto, totalmente inquieto, olhava para todos os lados. Susana já se dirigia às companhias aéreas responsáveis pelos voos com os Estados Unidos - com sua experiência, ela já sabia quais delas tinham as tarifas mais baixas para oferecer, bem como a frequência de voos que saiam diariamente do país. Roberto segurou-a pelo braço firmemente, dizendo:

- Antes da passagem, entra aqui nessa loja comigo. Tenta fingir que tá tudo bem... faça isso por nós dois, Susana.

- Se você não apertar meu braço...

- Desculpe. Só vou tirar isso aqui do corpo e vestir algo diferente... - PC vestia a tradicional calça e camiseta preta, normalmente usada em suas missões no EEPR. O macacão de manutenção ele havia deixado no carro de Susana, escondido por debaixo do banco.

Mesmo Roberto sendo rápido ao escolher suas peças de roupa, Susana não deixou um minuto sequer de pensar nas prováveis consequências que aquilo iria acarretar. Se ambos conseguissem sair do Brasil, e depois, entrar no Estados Unidos numa boa, ela pediria a alguma amiga que buscasse o seu carro dali; logo em seguida, Susana seria demitida da agência por abandono ao trabalho, o que a faria perder seus direitos trabalhistas; e por fim, o que estava começando a acontecer com Jorge, simplesmente "morreria na praia". Mas, isso tudo era ainda muito pequeno se, do nada, alguém chegasse e simplesmente acabasse com a sua vida. "Ao lado de um terrorista", pensava Susana "era bem o que poderia acontecer".

Em menos de cinco minutos Roberto estava pagando pelas roupas, e vestido como um turista "de mau gosto": uma bermuda xadrez, uma camiseta larga (que escondia um pouco o seu físico definido) com o nome "Brasil" em letras garrafais, óculos escuros largos e um boné de uma marca americana de esportes na cabeça. Roberto ainda mantinha o tênis preto e a meia preta, roupas dadas pelo grupo. Antes de sair, pensou e pegou um par de Havaianas em suas mãos:

- Vou levar essas também. Desconta do cartão, por favor.

Susana por um breve momento teve vontade de rir do ridículo que se passava: Beto, seu antigo amor, usando um figurino daqueles, que lembrava um americano qualquer de meia-idade passeando pelo Corcovado. Só faltava uma máquina fotográfica em seu pescoço. Aqueles segundos foram os únicos desde sua chegada em casa, nos quais Susana conseguiu achar graça de algo. E só - a tensão já tinha voltado ao Roberto pegar sua mão e ir com ela até o balcão da companhia aérea para definir a escolha do voo.

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