Parte 6: Não diga "eu te avisei"

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                                                                             (Jhonatan)


Melany pareceu assustada ao abrir a porta e arregalar os olhos para mim.

- Você! O que você ta fazendo aqui? Não me diga que... – ela estava surpresa demais para terminar a frase.

- Sua mãe te liberou do castigo. Ela ficou assustada com a idéia de Alex te levando para a escola todos os dias. Você sabe, tempos sozinhos dentro do carro e tal. Acho que ela confia mais em mim.

- Mas e você? – ela pergunta.

- Sua mãe convenceu a minha mãe de me liberar também.

- Nossa. Legal então, vou terminar de me arrumar. A, espere, o Alex ia vir mesmo me buscar, o que eu faço?

E aquele sentimento retorna. Sentimento de medo e angústia. A hora em que ela teria que escolher de novo entre Alex, seu namorado, e eu, seu melhor amigo. Não querendo transparecer minha indiferença apenas dou de ombros.

- Vou ligar para ele e dizer que você vai me levar. Entra aí. – Mel abre mais a porta e eu passo por ela. O alívio me toma por completo ao saber que ela, mais uma vez, escolheria a mim.


As semanas seguintes continuaram sendo a mesma coisa. Eu ainda levava Melany para a escola, mas Alex a estava esperando lá. Era óbvio que eles estavam namorando, pelos beijos que davam no corredor, mas nenhum deles falava sobre o assunto. E ainda tinha alguns momentos em que Mel tinha que escolher entre os dois para fazer alguma coisa. Às vezes ela me escolhia, mas não deixava de escolher Alex também. Essa era a parte negativa de ter uma melhor amiga mulher.

Era horrível ter que observá-la de longe aos beijos com ele. Às vezes ela nem percebia minha presença. E eu também não fazia questão. Mas de certa forma não conseguia tirar os olhos.

Estava cada vez mais difícil também aproximar-me fisicamente de Melany. Quem diria. A garota do qual eu sempre estive grudado agora num simples toque me eletrizava. Deixando-me arrepiado e estremecido. E a dor que eu sentia a cada vez que ela pronunciava o nome de Alex com paixão me deixava confuso. Ainda mais que o toque. Nunca fui tão egoísta ao ponto de querê-la só para mim. Ela que sempre foi a egoísta.

Sempre estive acostumado a ouvir Melany dizer "eu te amo". Ela já me dissera isso várias vezes, e eu também conseguia pronunciar as palavras. De fato eu sempre amei Melany. Tanto que não consegui viver sem ela até agora. Mas da última vez, quando ela direcionou a mim as exatas palavras "eu te amo" eu simplesmente não consegui devolvê-las. Aquela conhecida dor no meu peito, uma fisgada - como se o seu coração pudesse parar - me tomou e tentei com muito custo disfarçar a minha mágoa. O simples fato de escutar aquela palavras saindo de sua boca direcionadas a mim me deixava nostálgico. Isso porque eu sabia que não era um amor de verdade. Apenas um amor de amigo. Algo do qual no momento eu não podia retribuir. Porque eu sabia que meu amor por ela havia evoluído de certa forma, então preferi não repetir aquelas simples palavras, se não seria como se eu estivesse mentindo.

Certo dia, vi-me sentado na calçada da frente do colégio numa aula vaga. Meus olhos miravam a frente sem ver. Meus pensamentos se distanciavam conforme os devaneios de minha mente. E voltavam a se concentrar no único assunto que agora me perturbava. O namoro de Melany. A preocupação e o ciúme me inundavam de forma que eu não conseguia ouvir, ver ou sentir nada naquele momento.

Meus olhos estavam abertos, mas eu estava viajando pelas lembranças do passado. Lembranças tão simples que me fez querer voltar a elas. Lembranças de quando éramos crianças, quando Melany ficara doente de bronquite e eu não queria sair de perto dela no hospital. E mesmo quando fechavam a porta dizendo que a hora da visita já tinha acabado eu dava um jeito de entrar de novo. Eu achava que ela estava morrendo e eu estava também de certa forma. Ou quando ela escorregara e caíra no chão no primeiro dia de aula ano passado e eu ria tanto que não consegui nem ajudá-la a levantar. Ela ficou enfurecida.

Amor de amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora