CAPÍTULO 24 - ACABOU?

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- Deus em sua infinita sabedoria nunca fará com que uma folha caia sem que essa seja sua hora. E assim é também como seus filhos. Filomena e José. Foram namorados desde o colégio e construíram suas vidas juntos e tornaram-na uma só. Fizeram o seu papel como homem e mulher. Trouxeram ao mundo essa menina linda. Liana - o padre me olhou - saiba que seus pais cumpriram o papel deles perfeitamente. Eles souberam fazer de você essa mulher que hoje está aqui. Esse será seu ultimo adeus carnal, mas em pensamento e durante toda a sua vida eles estarão com você. Em pensamentos ou em força espiritual. Agora a carne deles descansará e o espirito irá seguir seu curso natural. Me parte o coração quando eu vejo um filho enterrando seus dois pais ao mesmo tempo, mas o propósito de Deus nunca é falho.

Ele continuou falando e falando e falando e eu balançava a cabeça concordando, embora eu tenha escutado muito daquilo tudo desde o momento que chegamos ao velório.

Fiquei sentada a noite inteira vendo pessoas se despedindo dos meus pais, mas eu mesma não cheguei perto do caixão. Eu não iria ter a memória deles dois deitados ali, sem vida.

Eu já não mais chorava. Provavelmente meu estoque de lágrimas havia se acabado e pode-se contar também o fato de eu não ter mais forças para isso. Era mais do que eu poderia suportar naquele momento.

Passaram infinitas pessoas por mim me abraçando e dizendo palavras de conforto. Era sempre: "Eles estão em um lugar melhor". "Eles estão em paz agora". "Eles cumpriram a missão deles aqui na terra. Agora eles têm um novo plano de Deus para concluir". E assim foi a noite toda. E a madrugada. E agora de manhã.

Eu estava exaurida com aquela situação toda.

Era realmente mais do que um ser humano poderia aguentar.

Fiquei sentada aqui nesse mesmo lugar desde que eu cheguei. Eu vestia branco de fora para dentro.

Sim. Meu vestido era branco. Até a altura do joelho e justo. Meu sapato também era branco. Meu cabelo estava preso em um coque frouxo e não me dei ao trabalho de me maquiar.

O meu luto era de dentro para fora.

Por dentro eu não sentia nada. Era tudo preto. Um caos. Um blackout total.

Eu não queria mais nada do que pudesse remotamente me lembrar a minha vida.

O Roberto cuidou de tudo. Desde o contato com a funerária, documentação, velório, ligações. Tudo mesmo.

Ele me olhava preocupado e eu permanecia sentada ali.

Eu não queria estar ali e ele parecia perceber isso.

Quando o caixão chegou ele me perguntou se eu queria ver os dois antes de todo mundo e eu somente disse que não com a cabeça.

Sorri quando tinha que sorrir, balancei a cabeça quando tinha que balançar e o tempo inteiro ele estava ali do meu lado.

Quando eu dava a mínima demonstração que a pessoa estava me chateando, ele dava um jeito de tirar a pessoa de perto de mim.

Eu não queria falar com ninguém. Nem ao menos comigo mesma. E ele melhor do que ninguém pareceu entender isso.

A Giu veio com o Rafa e embora não tenha falado comigo diretamente, sentou ao meu lado e ficou segurando a minha mão. Era como se ela estivesse me dizendo que ela estava ali para mim.

E ela mal sabia o quanto aquilo reconfortou meu coração.

O Roberto permanecia ali. Mesmo quando o Rafa olhava feio para ele, ele não deixou de segurar a minha mão e me perguntar de tempo em tempo se eu precisava de alguma coisa.

Tem que ser elaOnde histórias criam vida. Descubra agora