Passando a Tarde em Casa.

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- Que livro é esse? - Eu perguntei, pegando o livro da mão de Joshua. Estávamos à caminho da minha casa andando o mais rápido que conseguíamos. - "Noite de Ternura". Nunca ouvi falar. É sobre o que?

- É... É um livro de... Ação. - Ele afirmou, meio ruborizado, e eu pude perceber que ele estava mentindo. Abri o livro e li a sinopse da orelha.

- É um romance! - Acusei, rindo. - Você gosta de ler romance? - Devolvi o livro pra ele, que olhou a capa envergonhado.

- Ninguém precisava saber... - Ele disse, em tom triste.

- Ah, sem drama! Qual é o problema em gostar de romance? Romances são ótimos. Quais são os seus favoritos?

Ele levantou o livro e disse:

- Esse. Estou relendo... Já é a quarta ou Quinta vez...

- Então deve ser muito bom. Eu podia ler, assim a gente ia poder conversar sobre ele e...

- Se você ler, vai achar a minha preferência sexual bem duvidosa. - Nós dois rimos, atravessando meu gramado.

- Mãe?

- Oi, filhota! Eu disse que iria chover, não disse? - Ela atravessava a porta que ligava a sala à cozinha de cabeça baixa, e meio que se assustou quando viu Joshua parado ali. - Ah, você trouxe Joshua! Muito prazer, querido. - Minha mãe estendeu a mão para Josh, que a apertou.

- A sua mãe sabia meu nome... - Ele sorriu maliciosamente enquanto sabíamos as escadas até meu quarto.

- Hum... Sabia, por quê?

- Isso significa que você já falou de mim pra ela... - Ele ainda sorria. Droga.

- É, afinal, eu tive que explicar o porque de ter demorado tanto no parque ontem, certo?

- Ah, sim... - Ele parou de sorrir. Ponto para Mary Ann.

- Bem-vindo ao meu quarto, Joshua. Eu abri as cortinas da porta de vidro que levava à sacada, e pude perceber que a chuva tinha começado. Uma fina garoa caía. - Fique à vontade.

*

Joshua analisava a minha estante enquanto conversávamos.

- Já sei! Você me empresta o livro que você mais gosta, e eu te empresto Noite de Ternura! Em uma semana, a gente se encontra e conversamos sobre nossos livros favoritos. - Ele olhou pra mim, e sob aqueles óculos de armação grossa, brilhavam duas esmeraldas.

- Sem chance. - Ele ficou triste. - Meu livro favorito faz parte de uma saga. Você jamais conseguiria ler os 5 livros em uma semana! - Ele sorriu.

- Quer apostar como consigo? - As esmeraldas voltaram a brilhar.

- O que eu ganho se você conseguir? - Perguntei, com as sobrancelhas arqueadas.

- O que você quiser. - Ele sorriu. - Agora, uma saga de 5 livros, isso significa que seus livros favoritos são... - Ele puxou exatamente os livros à que se referia. - Esses.

- Como você sabia? - Eu fiquei chocada.

- Nome da autora e estilo da capa.

- Eu só acho que você não vai gostar, mas...

- Você gosta? - Ele perguntou.

- Gosto. - Afirmei.

- Então eu vou gostar.

- Assim espero...

- Mary, tenho que ir... Já é tarde.

- Mas Josh, está chovendo!

- Mas eu realmente tenho que ir...

- Espere um pouco. Já volto. - Desci as escadarias correndo. - Ei, mãe. Josh tem que ir para casa, Mas está chovendo. Alguém pode levar ele?

- Veja se o pai pode. Tenho que fazer o jantar, amor...

- Tudo bem. - Saí da cozinha e fui rumo à sala. - Papi, pode levar Joshua até a casa dele?

- Posso, filha. - Ele concordou, mas como se acordasse de um sonho: - Espera aí. Joshua? Aquele menino que você conheceu ontem?

- Ah, sim... Mamãe falou que eu podia trazê-lo.

- Ah, tudo bem. Chame ele, vou levá-lo.

- Obrigada. - Estalei um beijo na bochecha de meu pai e subi as escadas correndo. Cheguei ao meu quarto ofegante. Droga, eu não posso correr. - Meu... Meu pai vai... Levar você. - Falei ofegante, me sentando na cama.

- Ei, calma, Mary! - Ele colocou a mão sobre minhas costas.

*

Meu pai e Joshua conversaram durante todo o caminho. Joshua não morava muito longe do parque. Sua casa era bonita, um tom de azul que não era tão claro e nem tão escuro. Eu já tinha visto aquela casa antes, e o tom usado nela mudava, de acordo com a luz do sol. De manhã, ele era meio esverdeado, e mais tarde ele ficava azul.

- Tchau, Mary. - Joshua se despediu antes de sair do carro e correr com os meus livros envoltos na jaqueta para dentro da casa. Obviamente, ele falou tchau para meu pai antes.

- Ele é legal, filha.

- É. - Concordei.

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