A Conversa (Não) foi Posta em Dia

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No primeiro dia, Arth e eu não saímos de casa porque ele estava cansado da viagem de avião, o que nos "obrigou" a assistir séries e filmes durante todo o primeiro dia. Eu adorava fazer isso, e sempre que ele chegava na minha casa, depois de sua viagem de avião, nós fazíamos a mesma coisa durante todo o primeiro dia depois de preparar um balde enorme de pipoca.

Naquela noite, nossas despedidas foram algo como:

- Me deixe dormir amanhã, hein? Nada de me acordar às 8! – E fingi uma cara de brava.

Acho que essa é a parte boa dos amigos, você não precisa falar boa noite pra eles, uma bronca de brincadeira basta.

*

Na manhã seguinte, acordei um pouco mais tarde que no dia anterior, mas não tão tarde quanto eu gostaria. E mesmo que quisesse eu não conseguiria: estava animada para ficar com meu melhor amigo. Quando desci as escadas encontrei-o conversando com a minha mãe, que estava fazendo o café da manhã. Dei um abraço na minha mãe desejando um "bom dia" sonolento. Dei outro abraço em Arth e ele me deu um beijo na testa quando nos afastamos, ele sempre era carinhoso comigo e eu sabia que ele me via como uma irmã mais nova. Era assim que ele me chamava, embora tivéssemos cerca de um mês de diferença nas idades. E foi pensando nisso que eu lembrei que faltavam só dois dias pro meu aniversário. Eu realmente nunca fui muito ligada em datas, a ponto de esquecer meu aniversário e outras datas importantes, como aniversário dos meus pais, amigos e até de um aniversário de namoro com Josh. Eu faria 16 anos, e como no ano anterior, não faria festa. Nunca gostei de festas, elas eram basicamente constituídas de muita gente, muito barulho e muita bagunça, o que resumia tudo o que eu não gostava.

- E então, Mary? O que vamos fazer hoje? – Arth perguntou enquanto ajudava minha mãe com os pratos.

- Hum... – pensei – Que tal cinema? Tem um filme muito bom em cartaz.

- É de terror? – Ele perguntou empolgado com a ideia.

- Cruzes! Não! – Eu ri ele sabia que u odiava esse tipo de filme. – É de comédia!

- Poxa vida – ele fez uma cara triste – Não podemos assistir um filme de terror só por causa do seu medinho? – Ele fez um biquinho pra me provocar.

Eu ri ironicamente e respondi:

- Sabe que é raiva que eu passo, aqueles protagonistas são muito idiotas! Se você ouve um barulho no porão, a última coisa que você tem que fazer é descer até lá com uma lanterna durante a noite! – Eu ficava realmente indignada com aquilo, e quando assistia filmes daquele gênero (o que geralmente Arth me obrigava a fazer, como no dia anterior), eu ficava gritando ordens que os protagonistas jamais poderiam ouvir, instruindo eles a não irem até o barulho.

- Ok, ok, que seja de comédia então, porque se você se comportar como ontem no cinema seremos expulsos em 5 minutos de filme. – Ele riu.

*

Depois do almoço, nós fomos para o shopping, em direção ao cinema, depois de enfrentarmos a fila gigantesca que se estendia na bilheteria ainda nos faltavam alguns minutos até que abrissem a sala da sessão. Resolvemos gastar nosso tempo na livraria do shopping.

- Vou te comprar um livro, assim você não vai se esquecer de mim quando eu for embora. – Arth propôs do nada.

- Como se fosse possível esquecer meu melhor amigo por um único segundo! – Eu abracei ele.

- Ah, qual é? Você esqueceu até o seu aniversário, tampinha! – Ele riu, ainda abraçado comigo.

Eu realmente era uma tampinha perto dele, não chegava nem no ombro dele, mas não porque eu era baixa, e sim porque ele era alto demais.

- Ah, qualquer uma é tampinha perto de você, Arth! Você tem quase dois metros!

- Na verdade, eu tinha quase dois metros na última vez que me viu, agora tenho 2 metros e 2 centímetros. – Ele explicou.

- E quer competir com meus 1,70? – Falei fingindo estar brava.

No fim das contas, Arth escolheu um livro de romance pra mim, porque ele sabia que era meu gênero favorito e eu escolhi um CD que ele não tinha de uma banda de que nós gostávamos muito para dar pra ele, e disse:

- Assim você também não se esquece de mim.

Calculamos que o tempo que faltava pra sessão abrir era o tempo que levaríamos para comprar a pipoca e afins.

*

O filme, no fim das contas não era nada do que esperávamos, e eu tive que admitir:

- Seria melhor se tivéssemos visto aquele filme de terror, Arth.

- Eu falei que seria! – Ele comemorou com uma dancinha da vitória hilária.

- E o que vamos fazer agora? – Eu perguntei, olhando o relógio – Ainda temos meia hora antes de o nosso ônibus chegar.

Acontece que nenhum de nós tinha nem ideia do que fazer, então passamos 20 minutos olhando as vitrines das lojas e conversando sobre aleatoriedades.

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