Fazendo Amigos

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Fui até o "parque", não havia levado nenhum caderno, eu só queria observar as pessoas, e com sorte, fazer um amigo novo.

Eu me sentei em um banco, ao lado de uma árvore da entrada do parque. Algumas pessoas passavam por mim e me olhavam com a cara torta, e eu apenas desviava o olhar.

De repente, uma mulher passou por mim e disse algo que eu não compreendi.

- Perdão? – Olhei para ela, levantando o olhar.

- Sua imunda! Não tem o que fazer em uma sexta-feira à tarde?

Eu fiquei com raiva, é claro, mas tentei ignorar.

- A senhora está louca? O que essa garota lhe fez? – Olhei para o lado quando a mão de um rapaz pousou em meu ombro como quem conforta. Ele olhou para mim com penetrantes olhos verdes.

- Ora, é exatamente por não ter feito nada que essa moça me incomoda, meu jovem. – E foi nesse momento que eu decidi atuar na peça:

- A senhora diz que lhe incomodo por não fazer nada? – Me levantei de um salto, e a mão que ainda estava sobre meu ombro caiu. – Pois posso fazer inúmeras coisas. Aliás, se a senhora quiser, posso te xingar agora mesmo, sem demora.

- Ora, minha jovem, isso não parece ser necessário, em plena via pública, não é mesmo? – Ela estava dando para trás? Com um risinho, ela se afastou um pouco. Ah, ela estava dando para trás. Seu nariz empinado e seu coque loiro pareciam complementar seu visual esnobe.

A senhora se afastou, com sua bolsa e nariz empinado, e eu obviamente fiquei a ver navios. O que a senhora queria, afinal?

- Hum... Obrigada, moço. – Eu olhei para o homem que ainda se postava ao meu lado, e me vi encarando duas esmeraldas brilhantes por trás de um par de óculos. Ele tinha o cabelo loiro, bagunçado com estilo, e sua jaqueta por cima da camiseta branca combinava com seu tom de pele claro. Levei menos de um segundo para fazer essa avaliação, que moço bonito.

- Joshua. Joshua Sparkle. E você é...?

- Mary Ann Armandeiro.

- Você se mostrou bastante corajosa hoje, Mary Ann. Quantos anos você tem?

- 15, e você?

- O mesmo. Estudo na Escola Paga de São Lidenburg.

- Ah, então você não é daqui de Little Hope?

- Sou, sou sim. Mas estudo na cidade vizinha, meu pai diz que as escolas daqui não são boas.

- Eu não acho isso. Estudo na Escola Pública de Little Hope, e em termos de ensino, somos os melhores. – Eu disse, tentando forçar um ar de superioridade.

- Ei, calma! Não quero provar o que a velha Adelaide provou agora a pouco, meu bem. – Ele levantou as mãos, na defensiva.

O dia estava um tanto quente para Joshua estar usando uma jaqueta, mas continuava nublado.

- Tudo bem. Você tem 15 anos, mora em Little Hope, mas estuda em São Lidenburg. Sozinho no parque? – Eu precisava de mais informações sobre Joshua. Ele seria um bom amigo.

- Sim. Pensando na vida, saca? – Ele respondeu meio distraído.

- Sei... Vim fazer a mesma coisa, na verdade.

- O que acontece na vida de Mary Ann Armanteiro? – Ele perguntou, se esforçando (em vão) para lembrar meu último nome.

- Armandeiro – Corrigi -, preciso de amigos novos, terminei com meu namorado por causa de um livro.

- Ah, foi tipo "me dá meu livro, seu desgraçado!"? – Ele riu.

- Não, bobo. Eu terminei com ele para poder escrever meu livro.

- Olha isso! Você vem ao parque e conhece uma escritora! Como assim? – Ele se fez indignado. – Cadê os paparazzi? Tudo o que fazemos pode estar sendo fotografado agora mesmo! Sorria. – Ele olhava para os lados como que desesperado.

Eu ri.

- Não vai pedir autógrafo? – Eu brinquei.

- Mas é claro que vou! Autografe a minha testa, por favor. – Ele se abaixou, para que sua testa ficasse na altura dos meus olhos.

Eu não conseguia parar de rir. Quando olhei novamente para Joshua, ele me encarava fascinado.

- E quais são os seus motivos para estar no parque hoje? – Perguntei.

- Fazer amigos. Uma vez por mês, minha mãe me faz sair de casa para socializar. Fico feliz por, uma vez na vida, poder fazer o que ela pensa que eu faço, e não ficar lendo sentado no banco da praça.

- Você gosta de ler? – Isso me parecia maravilhoso.

- Adoro ler. Já li tantos livros quanto posso contar. Não que eu possa contar muito, não sou muito bom em matemática.

Nós dois rimos. Nunca pensei que teria tanto em comum com uma pessoa que conheci no parque.

- É sério, autografe a minha testa! – Ele pediu, mais uma vez se abaixando.

Eu comecei a rir de novo.

- É sério, Mary Ann! Quando eu ler seu livro, serei seu maior fã. Quero um autógrafo.

- Mas na testa, Joshua? – Eu ri.

- Ora, até parece que eu não vou tomar banho depois. Quero só bater uma foto com você apontando para a minha testa autografada.

- Você tem caneta? – Perguntei.

- Sempre tenho. Ele abriu o bolso da jaqueta e tirou uma caneta.

Ele se sentou no banco para que eu pudesse assinar sua testa. Quando escrevi, ele pegou o celular e pediu para um moço que passava por ali tirar uma foto nossa. Ele me colocou em cima do banco, e nós sorrimos para a primeira foto. Depois, ele pediu para que o mesmo rapaz tirasse outra foto, eu no chão apontando para a sua testa, enquanto ele estava abaixado. Ambos sorrimos espontaneamente.

- Obrigado. – Ele agradeceu ao rapaz, que só acenou com a cabeça. Ele me mostrou as fotos, e ambos rimos novamente.

Ele pediu um contato, e disse que seríamos bons amigos.

- Até penso em me matricular na sua escola. Você é tão legal!

- Ei, calma aí! A gente mal se conhece! Vai que você é o assassino da machadinha!

- Ah, Deus! Eu sou o assassino da machadinha! – Ele riu, e não pude me segurar.

Quando me dei conta, já estava entardecendo. Não havia levado meu celular, e minha mãe devia estar preocupada.

- Tenho que ir, Joshua...

- Pode me chamar só de Josh se eu puder te chamar só de Mary.

- Feito. – Apertei a mão dele. – Não se esqueça de me procurar nas redes sociais e me mandar seu número! – Eu pedi, abraçando-o.

- Pode deixar. – Ele prometeu.

E assim, fui para casa.

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