Lembranças

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Nós nunca fomos pessoas muito discretas, isso significa que conversamos realmente muito alto durante o percurso de ônibus.

*

Chegando a minha casa, fomos direto para o meu quarto, onde Arth começou a analisar minha estante.

- Vamos ver o que essa mente brilhante andou escrevendo enquanto eu não estava por perto. – ele disse enquanto puxava meu caderno de poesias. Arth é a única pessoa que pode ler aquilo inteiro e sem nem precisar pedir. Ele é meu melhor amigo, e de uma forma ou outra, ele sabe do que se trata cada um dos meus versos.

Por cima do seu ombro (Ele estava sentado no chão e eu na cama), pude ver o que ele estava lendo. Quando ele passou por um poema em particular, tive uma lembrança:

Josh e eu estávamos em mais um dia normal na pequena cidade de Little Hope, mas eu tinha que admitir que esses dias eram normais demais: nos encontrávamos, íamos para a escola, ficávamos juntos em algumas aulas e depois almoçávamos juntos, ele sempre vinha para minha casa e nós ficávamos juntos durante toda à tarde.

Eu nunca gostei da rotina: sempre tentava sair dela, mas Josh era acomodado demais e não gostava de sair de sua zona de conforto. Em um dia, eu resolvi mudar isso:

- Josh, porque temos sempre que fazer a mesma coisa todos os dias?

E daí se seguiu uma enorme discussão, mas vou poupá-los disso. Conto como ela terminou: eu, que sempre queria vê-lo feliz, acabei cedendo e ficando na mesma rotina. Talvez essa rotina tenha acabado com nosso namoro também, além de seus amiguinhos.

Honestamente, eu não fiquei tão mal depois que Joshua terminou comigo, foi bom sair da rotina de novo. Todas as lágrimas que derramei foram pelo choque que levei ao perder alguém importante pra mim tão de repente.

- E depois? – Arth perguntou folheando as páginas em branco do caderno.

- O que? – perguntei, voltando à realidade.

- Está faltando um pedaço dessa poesia! – ele exclamou indignado.

Eu peguei o caderno de suas mãos para ver sobre o que se tratava, e vi que eu realmente não tinha escrito um fim para aquela poesia. Na verdade era mais um devaneio que só terminei na minha cabeça, e era a ultima coisa escrita em todo o caderno.

- Mas você sabe do que se trata Arth. Pode imaginar o final. – era sobre o término, eu escrevi sobre como é difícil se separar de alguém, não porque ainda gosta da pessoa, mas porque vocês tiveram bons momentos juntos e isso te atormenta.

- Mas você sabe que adoro ler o que você escreve Mary! Escreva com mais frequência, por mim! – ele estava quase implorando, e eu não podia deixar de atender nada do que aqueles olhos castanhos me pedissem, então comecei a recitar o resto da poesia. – Mary Ann Armandeiro! Você tirou isso tudo de onde? – ele perguntou quando terminei, inconformado com o fato de eu ter apenas inventado uma conclusão para o texto sem muito esforço.

*

Passamos o fim da tarde falando sobre muitos assuntos aleatórios, até que minha mãe nos chamou para o jantar, onde falamos ainda mais coisas aleatórias.

Era engraçado ver minha mãe e meu pai nos observando enquanto conversávamos com nossos milhões de piadas internas, sem entender sequer uma sílaba do que falávamos.

- Como vocês conseguem matraquear tanto? – meu pai perguntou, indignado com o fato de eu não ter parado de conversar com Arth desde que ele chegou.

- Bom, são seis meses de conversa atrasada! – Arth e eu respondemos em uníssono.

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