Chegando em Casa

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Eu e meu pai conversamos o caminho inteiro. Eu tinha poucas coisas em comum com meu pai, mas sobre as poucas coisas que ambos gostávamos tínhamos muito o que falar. Hoje nós conversávamos sobre música. Mamãe, papai e eu gostávamos de Rock N' Roll.

Quando meu pai parou o carro na garagem, já quase não chovia. Toda a chuva que as nuvens pretas no céu estavam guardando enquanto Joshua e eu estávamos no parque havia caído aquela tarde.

- Mami, chegamos. - Um aroma maravilhoso preenchia a casa, só não consegui distinguir o que era.

- Que cheiro bom! O que temos para o jantar?

- Fiz lasanha. Eu sei que você gosta, meu bem. - Ela lhe deu um beijo.

- Ei, a filha de vocês ainda está aqui! Eu sei que vocês se amam, mas... Eu não preciso ver isso. - Nos três rimos.

- Alberto, pare com isso! - Minha mãe ralhou rindo quando meu pai apertou sua bunda. Todos nós rimos. Ela deu tapinhas na mão dele.

- Ai, eu vou subir... Não preciso ver isso. Fiquem à vontade.

Eu subi e fui para o meu quarto, pensando que se eu conseguisse, um dia, amar alguém da mesma maneira que minha mãe ama meu pai e achar alguém que me ame da mesma maneira que meu pai ama minha mãe, eu estaria feliz.

Quando terminei o banho, desci as escadas enquanto avisava:

- Alberto e Janaína, eu estou descendo. Sem cenas impróprias por favor!

Eu pude escutar os dois rindo, e quando fui até a cozinha, meu pai estava sentado no banquinho do balcão conversando com mamãe.

- O jantar está pronto, meus amores... - Minha mãe anunciou, numa voz doce, angelical e até mesmo um pouco cantada. Eu amava a voz da minha mãe, parecia pertencer à um
anjo. Eu me lembro bem de quando era pequena: todas as noites, minha mãe cantava uma música serena para mim... De repente, me dei conta do quanto aquilo fazia falta.

- Mãe, como era aquela música de ninar que você cantava pra mim? - Minha mãe começou a cantar, e meu pai olhava para ela com uma expressão apaixonada, como se fosse a primeira vez que a visse.

- Eu amo quando você canta, Janaína... - Meu pai ainda tinha a expressão apaixonada.

- Pare, Alberto... - Minha mãe ruborizou.

- Filha, você sabia que se sua mãe não cantasse tão bem, nós nunca teríamos nos conhecido, nos apaixonado?

- É sério? Foi assim que vocês se conheceram? - Eu nunca soube disso.

- Eu era vocalista de uma banda... - Minha mãe começou.

- E eu trabalhava como barista do restaurante em que a banda dela se apresentou.

- Calma. Mãe, você tinha uma banda? Como ninguém nunca me contou isso?

- Tinha. Por isso ela canta tão bem. - Meu pai afirmou. - Bem, na verdade, eu trabalhava de dia, mas eu fiquei à noite para cobrir o turno de um colega meu, que estava doente. Na hora que essa mulher entrou, eu achei ela linda... Mas na hora em que ela cantou...

- Eu lançava olhares para o bar, afinal, além de estar morrendo de sede, algo no barista me atraiu...

- No fim da apresentação, é claro que ela queria beber algo. E nós conversamos durante o resto da noite.

- É claro que eu passei o número do meu telefone para o seu pai, mas o distraído perdeu...

- E então? - Eu perguntei. Precisava saber mais.

- Eu voltei no restaurante, pra um jantar...

- Mas eu não estava lá. Meu colega já tinha melhorado.

- Então eu fui até o barista e perguntei sobre Alberto. "Ele trabalha aqui durante o almoço.".

- E no almoço...

- Eu voltei. - Minha mãe completou a frase do meu pai. - Passei meu número de novo, e disse para ele tomar cuidado e não perder...

- E eu não perdi! - Meu pai falou, orgulhoso, bebendo de seu refrigerante. - Naquela noite, eu liguei para ela. Nós marcamos de sair no sábado. E foi aí o nosso primeiro beijo.

- Vocês são tão fofos! - Eu falei, olhando para os dois. Todo esse tempo, e eles ainda se sentavam lado a lado na mesa, de mãos dadas ao fim das refeições.

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