A Festa de Genevive

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A noite estava clara, a chuva de ontem não deixou nem uma nuvem sequer. O luar iluminava o gramado, a casa, e bem... Os cabelos bagunçados de Joshua. Mesmo com a pouca luz da lua, eu podia ver que seus olhos brilhavam. Em algum momento da noite, durante a nossa conversa, ele deve ter percebido que eu não parava de olhá-lo. Talvez, não.

Enquanto nós estávamos conversando, eis que quem passa do meu lado? Ninguém mais, ninguém menos que Adelaide, a senhora que me xingou no parque. Ela sorriu e disse:

- Olha, a imunda na minha casa. - Eu pude perceber que ela estava brincando e ri da sua brincadeira.

- Se esta é a casa dela e Genevive é sua prima... Adelaide é sua tia?

- Ah, sim... Peço que perdoe ela pelo jeito como ela te tratou naquele dia.

- Foi por isso que você me defendeu?

- Me senti na obrigação... Mas o que eu estaria fazendo agora, se não tivesse te conhecido naquele dia, moça?

- Provavelmente, algo mais interessante. - Eu ri.

Genevive estava saindo da casa, e todas as pessoas que estavam lá dentro a seguiram. Ela estava indo na direção da mesa que foi posta no quintal para dar suporte ao bolo e aos comes e bebes da festa. Hora do parabéns. Olhei no relógio, já eram quase onze horas. No fim das contas, eu chegaria dentro do prazo que minha mãe me deu.

*

Fiquei mais uns 15 minutos na festa depois do parabéns. Eu não gostava de bolo, mas enfrentei bravamente aquele pedaço no meu pratinho descartável.

- Genevive, eu já vou... Minha mãe estabeleceu um prazo para chegar em casa e eu tenho que cumpri- lo. Foi uma ótima festa, e parabéns de novo. - Eu me despedi.

- Já vai, Mary? - Olhei para trás, como se precisasse. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Me vi encarando um par de esmeraldas e óculos de armação grossa.

- Já. Antes que a Mami fique brava...

- Ela não vem te buscar? Vai deixar uma pobre garotinha andando por aí sozinha? - Ele fez cara de dó.

- Ela não vem me buscar, e eu sei me cuidar muito bem, ok? - Eu disse, fingindo brava.

- Eu te levo até sua casa. - Eu dei de ombros e concordei.

Nós fomos conversando boa parte do caminho, até que eu notei que estávamos sendo seguidos.

- Josh, tem alguém seguindo a gente. - Eu falei o mais baixo que consegui, sussurrando.

Ele segurou firme a minha mão, e aquele que nos seguia parou, como se acordasse de um sonho. Foi aí que eu percebi quem era: Dave.

- Era meu ex namorado. - Eu contei para ele. Mesmo assim, Joshua não soltou minha mão. - Pode soltar minha mão, Josh.

- Não. Crianças não podem andar sozinhas na rua. Crianças tem que andar de mãos dadas com um adulto.

Nós rimos. Continuamos a conversar, e Joshua não soltava a minha mão.

- Chegamos, Josh. Eu não te convido para entrar porquê...

- ...Está tarde e seus pais estão dormindo. - Ele completou.

- Isso. - Eu sorri.

- Entre... - Ele pediu, mas não soltou minha mão. Eu levantei nossas mãos, ainda unidas, e ele me deu um sorriso e um demorado beijo no rosto. - Entre... - Ele pediu de novo, soltando minha mão. Eu abracei ele, um abraço um tanto quanto demorado, e entrei em casa, olhando para o Joshua parado no portão baixo. Antes de entrar, acenei um últimos adeus.

Subi as escadas correndo e, escondida pelas cortinas da minha porta de vidro que dava acesso à sacada, eu pude ver a luz da lua refletida nos cabelos de Joshua.

Lavei o rosto e escovei os dentes, coloquei o pijama e fui deitar. Meus últimos pensamentos foram as mãos de Joshua tocando as minhas e seu beijo, e aquele abraço com cheiro amadeirado.

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