As notas eram angelicais e doces. Era um paladar aos ouvidos. Já que em minha boca, tudo amarga, até uma simples goleada de água. O açúcar perdeu seu encanto, o que era lindo, hoje é feio. Um espinho odioso e venenoso aos meus olhos azuis, raivosos com tamanha crueldade dada a mim. Ao mundo. Esta merda com a a qual estamos lidando, desperta o lado mais sombrio que temos. Quando ouço a pronúncia inocente da palavra 'esperança' anseio em rir, mas por respeito ao mais desafortunados, me calo. Pois sei que lá no fundo os invejo, manter-se bem, ao ponto de sentir esperanças, é para muitos, e estes muitos estão por aí, arrastando seus corpos podres. Abrigando suas vermes.
Me lembro da triste cerimônia dada a Beth. O dizer daquelas palavras toscas tiradas de um livro fingido dos saberes de ordem, paz e amor, o choro doloroso de Maggie pela única parente viva que a havia restado, como Tyreese se sentia culpado por acha-la grunhido e babando bile preta, e eu, por me sentir bem a tudo isso.
Logo após seu enterro decidimos sair da fazenda ao fim do inverno, pois não seria bom para a Judith e Maggie - por estar grávida - andar por aí. O garoto novo, Noah, disse que sua família vivi com um grupo perto da Virgínia, seria uma viagem longa, mas seria a última que faríamos, disse papai. Qualquer lugar para eu seria bom o suficiente, não me importava onde fosse se Daryl estivesse por perto.
Dois meses depois, viajamos em dois carros separados. Papai, Michonne, Tyreese, Glenn e Noah a frente. Para evitar uma situação fora do controle - o que poderia acontecer - papai decidiu que eles iriam até lá e se tivesse algo para nós avisava pelo walkie-talke.
Era um dia quente, o sol esquentava minha nuca. Proporcionando um cheiro leve de pele bronzeada pairar em mim. Meu cabelo preso em um coque no alto da cabeça permitia o vento secar meu suor.
Daryl estava com uma camisa com mangas arrancadas, o colete das imundas asas que enfeitavam as costas, a besta pendia sobre, assim compunha seu look. O suor descendo pelos seus musculosos braços me fazia deseja-lo. Os mesmos que um dia me aconchegou tão agridoce.
A morte de Beth o fez se aproximar novamente de mim, em parte, não me sinto a vontade para lhe exigir algo a mais do que uma amizade sincera, Daryl está instável com o luto. O pego pelos cantos pensativo, distante, mas é o que tenho por hora.
Continuo a admira-lo. De longe, mas próxima em espírito.
_ Vocês fiquem parados aqui. Carol, tenha sempre o walkie-talkie a mão. Entrarei em contado a cada 10 quilômetros andados. _ diz papai.
_ Certo. _ Carol respondia com a prontidão de um soldado cansado.
_ Rose e Carl, venham aqui um instante. _ papai nos chamou. Com a voz de um lobo protetor.
_ Vão ficar de olho em Maggie. Ela está passando por uma fase difícil, não a deixem fazer nenhuma besteira. Tudo bem? _ continua.
Nós apenas damos leve meneios. Abraça cada um dando um beijo carinhoso na testa. Carl já saía, eu ia atrás mas fui detida por um aperto na minha cintura.
_ Você, ainda não. Preciso lhe falar. _ papai me arrasta até um canto sossegado. _ não quero saber de conversinhas particulares com Daryl.
Reviro os olhos.
_ Rose! _ aponta o dedo na minha cara _ quero deixar bem claro: ainda sou seu pai. Não me faça exercer um castigo duro em você. Essa historinha com ele já deu. Ouviu?
Corro um olhar pelos demais, todos estão parados, meio que vidrados na gente. Ficou claro que estava levando uma bronca, ou sendo advertida.
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The Walking Dead: Algo para temer [CONCLUÍDA]
Fanfic"Queria parar ali e chorar, só que tomei uma decisão útil: correr e garantir minha sobrevivência."