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-Eu vou ficar bem mãe, não se preocupe - Ele fala ao telefone pela decima vez - Sim, eu já fui no mercado e tenho tudo que preciso - Ele fecha a geladeira depois de tirar uma garrafa de cerveja. Faço uma cara feia para a bebida em sua mão - Já providenciei uma pessoa para cuidar da casa, e meu emprego começa só segunda, então vou tirar o fim de semana para conhecer a califórnia - Ele se vira para mim e posso ver as covinhas em seu rosto - Vou me comportar mãe. Também te amo, tchau - Ele desliga o celular o deixando na bancada da cozinha.

Ele começa a andar em direção a porta, e eu saio da sua frente. O sigo em direção a sala de televisão, lugar que ele mais passa tempo assistindo filmes. O modo como ele senta é elegante, como se ele estivesse em algum programa prestes a ser entrevistado. Seu modo de falar é igualmente elegante, de forma pausada e calma, e o forte sotaque inglês deixa as pronuncias mais divertidas e fofas.

Olho seu violão do outro lado da sala, que ele usa bastante para treinar, e lembro de sua voz rouca cantando musicas que ele mesmo compôs, musicas belas e... Não! O que você está fazendo? Eu não posso sentir nada por ele, isso é só uma brincadeira, vou assusta-lo e fazer ele se mudar de minha casa e então ficarei feliz e só. Mas eu não quero ficar só, cansei de ficar nessa casa grande sozinha... Não, Taylor, você está muito bem sozinha, e sempre estará..

Olho para o sofá e percebo que ele está vazio. Ele deve ter saído enquanto me perdia em meus pensamentos. Subo as escadas até o segundo andar, e sigo para o seu quarto, melhor dizendo, o MEU quarto. Mas agora como ele o nominou de seu e dorme na MINHA cama, fui forçada a morar no sótão, pois ele não vai lá, e eu tenho minha paz.

-Mas o que é isso? - Entro no quarto e percebo que ele está batendo no armário - Isso é um fundo falso?

Não, não, ele não podia mexer naquele lugar. Era o meu esconderijo, o lugar onde guardei minhas coisas antes de morrer, sem imaginar que ficaria presa aqui para poder mexer nelas novamente. Fotos, cartas de amor, letras de músicas... Ele não podia ver aquilo. E se ele descobrisse que eu vivo aqui? Mas como ele descobriria? Tem algum indicio de minha presença naquela caixa? Para Taylor de pensar e se concentra!

Olho ao redor e vejo um abajur. Corro até ele e o derrubo no chão. Sua atenção é voltada imediatamente para o objeto quebrado no chão. Ele vai ate o lugar onde eu estou, então mudo de posição, indo para o armário.

-Ainda dizem que na califórnia não venta muito - Ele levanta o que restou do abaju colocando em seu antigo lugar - Amanhã te limpo vidro - Ele para rindo - Estou falando sozinho, estou precisando de uma companhia.

-Mas você tem uma - Falei deixando minha voz ser ouvida.

Ele olha para os lados e para trás, no lugar onde eu estou, mas como ele não me vê balança a cabeça, passando as mãos no cabelo.

-E estou ouvindo vozes! - Ele entra no banheiro e fecha a porta.

Viro-me e abro compartimento secreto, pegando a velha caixa onde guardo minhas coisas. Saio do quarto com a caixa em mãos, mas deixando propositalmente o compartimento aberto. Subo para o sótão, que está extremamente limpo, por eu ter limpado, e sento-me na poltrona jogada lá na época em que eu era viva.

Abro a caixa e retiro o caderno com minhas letras de música, o deixando no meu colo. Pego o álbum de fotos e o folhe-o, logo achando uma foto dele, do meu primeiro amor, e do primeiro homem que matei. Lágrimas invadem meus olhos com a lembrança. A culpa até hoje me atinge, culpa que me fez estar assim, morta.

-Pode-se ter passado trinta anos, mas nunca vou te esquecer Richard - Passo a mão em sua foto, em que ele está sorrindo e segurando minha mão, estávamos felizes nesse dia, até que soube que ele me traia - Nunca vou esquecer o que me fez seu imbecil - Jogo o álbum longe enxugando as lágrimas - Você não merece uma lágrima minha, queime no inferno! - Gritei pegando um cachecol vermelho da caixa, e logo um sorriso pareceu em meu rosto - Joe, você foi diferente, você me amou, me fez me sentir viva novamente, me fez amar... Até você aparecer com outra dizendo que precisava ter um amor vivo - Amassei o tecido em minhas mãos - Mereceu ter caído daquela montanha-russa, foi divertido ver aquela ruiva gritar e chorar - Joguei o tecido longe rindo da lembrança do desespero da garota.

-Conor - Segurei o chapéu preto em minhas mãos - Um cavalheiro na época dos covardes. Desafiava tudo e todos por aquilo que acreditava e sentia, pena que me desafiou também só por que afoguei sua namorada - Joguei o chapéu e a caixa longe de mim - Todos vocês não prestam! Todos vocês devem queimar no inferno, todos os homens que passaram em minha vida! - Parei de gritar - Menos meu pai, era um bom homem - Rir das bobas lembranças de meu pai brincando comigo, mas logo o rosto do ultimo homem que morou nessa casa com sua adorável família vem a minha mente - Todos eles! - Ouço um barulho de passos no andar de baixo, indicando que ele já havia terminado o banho - Menos você, que parece tão diferente, tão sonhador, tão parecido comigo - Sento no chão e coloco uma mão no chão sorrindo - Você parece que é o certo Harry Styles, e não deixarei você ir. Nunca.



Fall in deadOnde histórias criam vida. Descubra agora