Abro as portas do sótão e acendo sua luz. Ela está lá, parada, olhando a pequena janela. Sei que está com um sorriso no rosto, graças a minha nova escolha.
-Enganar uma inocente garota e tomar seu lugar. Taylor, essa roupa de faxineira fica muito ruim em você - Selena me encara sorrindo.
-Ela vai receber pelo serviço que eu estou fazendo - Balanço a mão frente ao meu corpo, fazendo a ridícula roupa de faxineira sair, dando lugar ao meu vestido preto - E quantas vezes tenho que te dizer para me deixar em paz? É problema meu o que eu faço e deixo de fazer, por muito tempo deixei pessoas me controlarem, agora eu posso fazer minhas próprias regras - Sentia a raiva já dominando meu corpo.
-Eu sei disso Taylor. Eu não quero mandar em você, somente te aconselhar - Selena tocou meu braço com gentileza - Sou sua amiga há muitos anos, e conheço seus medos e, acredite em mim, nunca me tornaria um deles - Ela sorriu docemente e eu sorri também.
Conheci Selena pouco antes de morrer. Estava comprando flores para uma festa quando ela apareceu e me ajudou. Seu gosto era bastante parecido com meu. Além de ser bastante informada sobre o que acontecia no mundo. Mas o que mais admirei nela foi sua vontade de ser livre. Ela era repórter e viajava por todo mundo atrás de uma boa matéria. Ela me contou naquele dia que havia acabado de voltar de Berlim, e me mostrou algumas fotos do grande muro.
"Queria ser livre como você" disse a ela. Então ela sorriu e disse que eu poderia ser quem eu quisesse. Mas Selena morreu comigo naquela noite, ao tentar me salvar, mas nunca me odiou ou se afastou, sempre esteve ao meu lado. Mas ela não apoiava o que eu fazia com os homens, ela achava obsessivo e errado, porém não ia embora. A primeira pessoa da minha vida que não me deixou.
-Eu acredito em você - Falei depois de um tempo - Mas ele pode ser a pessoa que vai me tirar daqui. Pode ser finalmente ele o homem que irá me amar.
-Mas Taylor isso que você senti não é amor, é obsseção. E eu pesquisei sobre ele é descobrir que não é nenhum príncipe encantado. Eu não quero que você se machuque mais ainda - Eu me afastei de seu toque.
-Eu sei disso, mas sinto que dessa vez é diferente. E também sinto que eu estou diferente dessa vez - Me defendi, mas seu olhar ainda era duvidoso.
-Você me promete uma coisa? - Ela perguntou e eu confirmei silenciosamente - Prometa que ninguém, ninguém, vai morrer dessa vez.
A encarei. Eu não podia prometer isso, pois sabia que não conseguiria me controlar. Se eu prometesse e não cumprisse perderia a minha única amiga. Mas se não prometesse ela se afastaria.
-Você sabe que não posso prometer isso - Falei, preferindo correr o risco - Se o fizesse estaria mentindo para a única pessoa que me ama.
Ela assentiu, encarando o chão. Logo depois eu estava novamente sozinha. Joguei um vaso antigo na parede, o mesmo quebrou em milhões de pedaços.
Desci as escadas rapidamente e fui até a cozinha. Empurrei a geladeira e encarei a velha porta. Ela estava preta por causa das chamas, mas ainda era resistente. Lembro de ter visto as pessoas colocarem a geladeira na frente dela, para o Harry não a vê-la. Odeio corretores.
Abro a porta com muito cuidado, e a ouço ranger. O lugar foi reformando, mas nunca tiveram coragem de mudar a porta, acreditavam que meu espírito estava preso lá. Humanos são tão tolos.
Mesmo depois da pequena reforma a antiga adega ainda tinha a aparência de recém queimada. Eu havia colocado medo nos trabalhadores, que fizeram o trabalho mal feito, para poderem sair desse lugar o mais rápido possível.
Enquanto descia as escadas me lembrei daquele dia. Eu chorava de raiva e tristeza ao mesmo tempo, mas quando o vi desmaiado na cadeira de ferro a única coisa que senti foi raiva. Abri o galão de gasolina e o derramei por toda a adega, lugar preferido dele na casa. Por último joguei gasolina nele, fazendo-o acordar e me encarar, confuso.
"Taylor, o que você está fazendo?" Sua voz era fraca e por um minuto eu desisti, até o responde-lo.
"Eu te avisei, meu amor. Eu te disse, te precavi. Mas mesmo assim você me traiu, me rejeitou, agora terá o que merece" Falei jogando o galão longe e pegando uma caixa de fósforo. Ele percebeu o que eu estava prestes a fazer e tentou se levantar, mas eu o havia preso com correntes de ferro e jogado a chave do cadeado fora, com medo de mudar de ideia e o soltar.
"Não faça isso, você vai sofrer vivendo com a culpa" Ele falou e eu o encarei, sim, ele estava certo. Eu iria sofrer além de ser presa, e eu morria de medo de cadeias.
"Então só tem um jeito, vou ter que me matar junto com você" Ele gritou e eu acendi o fósforo e o joguei no chão, em segundos toda a adega começou a pegar fogo.
"Taylor" Ouvi a voz da Selena e percebi sua sombra descendo as escadas da adega. Iria gritar para ela voltar, mas eu desmaiei graças a fumaça e a última coisa que senti foi meu corpo queimar. Uma dor insuportável, mas merecida para mim.
Saiu de meu devaneio e percebo que estou sentada na cadeira de ferro. Ninguém tevê coragem de tira-la de lá.
Levanto e subo as escadas, querendo sair o mais rápido possível daquele lugar. Fecho a porta e coloco a geladeira no lugar. Ouço um barulho de portas batendo. O relógio marca onze horas da noite, me fazendo perceber que eu havia desmaiado após a lembrança, como sempre acontece. Me torno invisível bem na hora que o vejo entrar na cozinha. Mas o que me faz pegar uma faca e jogar em sua direção é que, logo atrás dele, está uma garota.
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Fall in dead
Teen Fiction"-Você não vai se apaixonar, será diferente dessa vez. Você é forte e consegue controlar seus sentimentos - Escovei meus cabelos loiros com os dedos - Você é um fantasma, seu coração está morto, você está morta, nada pode te afetar. Nenhum garo...