Thirty One

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- Já acabou, Harry? - Niall me apressa, com apenas a cabeça dentro do sótão. Como ele sempre costuma fazer. Vou sentir falta disso.

Sabe, a ideia de ter um quarto normal me assusta. Quero dizer, eu vou entrar nele por uma porta normal. Isso é tão estranho. Ele vai estar num piso normal e terão outros quarto normais do lado. E eu gosto de dormir num sótão.

Estou terminando de guardar as coisas, já tirei todas as fotos da parede e guardei dentro de uma caixa pequena. Infelizmente a mesa de sinuca não poderá vir comigo, e esse fato deixou Niall realmente triste.

Ele está apressado. Já se despediu dos pais e veio aqui para casa para viajarmos para Londres. Iríamos de carro, eu preferi não ir de avião porque eu vou precisar do meu carro lá, mesmo que demore mais. Eu tenho um mapa e um GPS, e qualquer problema é só telefonar. Estamos seguros.

O problema é que Niall está ansioso. Ele quer chegar cedo para garantir tempo para conseguirmos mudar de quarto para ficarmos juntos. Eu também não acho que vou me acostumar com a ideia de morar com Niall.

Mas nós demos tanta sorte de termos passado para a mesma universidade que não poderíamos desperdiçar ficando separados. Niall chama isso de destino, mas para mim é apenas sorte.

Quando finalmente fecho minha mala, coloco minha mochila nas costas e a mala de rodinha nas mãos. Observo por um momento o meu quarto vazio. A cômoda vazia, a parede sem fotos, o armário sem roupas. Parece como quando eu cheguei. Umas luzes brilhantes penduradas na parede da cama, que pus algum dia nesses anos, estão apagadas e deixam o quarto mais triste.

- Vai ficar aí o dia todo? - Niall volta a reclamar, me obrigando a descer e dar um tapa em sua cabeça.

- Você é muito chato. - Digo, fazendo o loiro rir e arrumar o topete pelo tapa que eu dei e o deixou um pouco assanhado.

Descemos mais um lance de escadas até chegarmos ao térreo e encontrar meus pais nos esperando. Minha mãe já está emotiva e meu pai nem se fala. Desde que comecei os preparativos para viajar ele tem se mostrado tão preocupado quanto nunca.

- Está na hora. - Digo, sorrindo triste ao perceber minha mãe agarrar minha mão com força.

- Tome muito cuidado, continue sendo o bom menino que eu sei que você é. - Ela alerta, pressionando minha mão com força para dar intensidade ao que fala. - Nós amamos você, não deixe de dar notícias.

Ela puxa para um abraço forte, ficando de ponta de pé e encaixando o rosto em meu pescoço, mas levando a boca discretamente para meu ouvido para cochichar algo.

- Quero que me conte tudo sobre os gatinhos da universidade. - Ela ri fraco pelo o que diz, me fazendo corar.

- Mãe! - Sussurro para ela, repreendendo por ter me deixado envergonhado. Por que ela não pode ser uma mãe normal?

Ela sorri maléfica, e eu vou até meu pai para deixá-lo um abraço. Ele estende os braços no ar e rapidamente me faz sumir dentro do seu abraço. Ele logo se separa, passando as mãos pelos meus braços como uma forma de me dar amor.

- Por favor, Harry, se proteja. Você sabe do que eu estou falando. - Ele é severo, e novamente sinto minhas bochechas queimarem. Apesar de estar grandinho demais para isso. - Não quero ser avô antes do tempo.

Ele ri, e todos nós também rimos, mas é de nervoso. Às vezes me sinto péssimo por meu pai ser o único que não sabe um dos meus maiores segredos. Não que eu seja de fato gay, mas eu não gosto de me imaginar em mais uma experiência estranha com uma garota, mentindo que eu a ligaria no dia seguinte ou recusando seu convite pro quarto. Eu queria contá-lo, queria que namoro não fosse um assunto evitado por mim quando meu pai estivesse presente. Queria ser franco com todos, mas desde o alerta de perigo da minha mãe, me sinto escondendo uma vida do meu pai.

Orphanage [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora