Orphanage [L.S]

Thirty Six

Tenho minhas mãos no volante, segurando firmemente o couro escuro e  dirigindo ao longo da estrada vazia com o asfalto queimando pelo sol forte que está fazendo essa manhã.

No rádio está tocando New Soul, e Niall cantarola no banco de trás junto com a voz de Yael Naim. O garoto tem o corpo quase completamente extendido no banco de trás, com uma grande manta cobrindo todo seu corpo e um travesseiro fofo amortecendo sua cabeça contra a porta do carro.

Tenho minha mente completamente tomada pela lembrança da voz da minha mãe me ligando há alguns dias atrás. Quando de início vi seu nome brilhando na tela do meu celular, sorri, mas logo ao atender tive minhas expectativas destruídas. Nunca pensei ter que ouvir minha mãe chorar de novo, muito menos por causa do meu pai.

Agora estamos aqui, eu e Niall, a caminho de Holmes Chapel, para fazer companhia para minha mãe recém divorciada. E é só nisso que eu consigo pensar desde que recebi tal ligação. Não chorei, não gritei nem o culpei pelo o que fez, porque na verdade a culpa foi minha. A culpa é sempre minha.

Desligo o rádio quando percebo que Niall ja está dormindo profundamente. Preciso de silêncio para colocar os pensamentos em ordem antes de encontrar novamente com minha mãe, ou eu não serei capaz de ajudá-la.

Como eu poderia sequer imaginar que algum dia meus pais se divorciariam? Já vi tantos casais de divorciarem e filhos de pais separados, mas é tão assustador perceber que essa era uma realidade que eu sempre achei inatingível para nós.

Minha mãe parecia destruída na ligação, no fim do poço. Mas ela sempre foi aquela mulher forte, sempre me ensinando a erguer a cabeça, sempre me ajudando e me aceitando em tudo. É difícil ver minha mãe assim.

"Você ama Des?" Lembro de ter perguntado uma vez, ao ouvir pela primeira vez os dois discutindo.

"Claro que o amo." Ela respondeu tão confiante, me fazendo questionar agora qual seria sua resposta hoje. "Por que que eu não amaria?"

"Vocês brigam as vezes." Eu respondi.

"Brigar é essencial para o amor, é como se os dois andassem em um fio, e a força desse fio fosse definida pela intensidade do amor deles. As brigas são o que desafiam esse fio a se partir, elas enfraquecem-no, por isso é importante brigar, mas sempre amar o triplo do que se briga, assim o fio permanece sempre forte." ela me explicou, me fazendo aprender aquilo que eu não entendia sobre o amor. Me ensinando a vida tão paulatinamente quanto seu amor absoluto se desgastou.

O que ela diria agora sobre essa linha? Havia se partido definitivamente, ou apenas enfraquecido?

- Falta muito? - Niall levanta do banco, passando de forma atrapalhada para o banco da frente, pisando no couro deste o com seu sapato sujo.

- Estamos perto. - Sou breve, pois ainda estou um pouco chocado pela notícia, e não consigo achar em mim animação para brincar ou rir. Por mais que Niall tente toda hora arrancar algum sorriso de mim.

O casal há quem eu devo tudo o que tenho está se separando, qual deveria ser minha reação?

- Harry, você não pode ficar se culpando, estou cansado de repetir isso. - Niall fala tão manso quanto a voz da Lana Del Rey, agora que ele ligou novamente o rádio.

Suspiro sôfrego pela sua insistência, afinal eu já o disse várias vezes que não quero falar mais sobre isso, mesmo que eu não pense em mais nada.

- Se eu tivesse o contado antes, nada disso teria acontecido. - Eu volto a discutir o assunto.

- Eles estavam casado há vinte anos, o relacionamento se desgastou! - Niall é teimoso em insiste em mudar meu pensamento, mas eu não vou me sentir bem até conversar com meu pai.